Com certeza um dos gêneros que mais encontrou conforto em seu padrão narrativo foram as comédias românticas. As décadas de 80 e 90 estabeleceram uma fórmula de sucesso e catapultou astros como Julia Robert e entre outros.
Claro que nem tudo que se usa uma fórmula de bolo pronta é realmente saborosa, mas quando se sabe usar ela de forma competente, não tem como criar algo que não desperte o interesse do público.
Mais Que Amigos consegue subverter em alguns pontos essa fórmula por colocar um casal gay como os apaixonados da vez, mas também coloca em discussão pontos interessantes sobre a vida amorosa moderna no processo.
No filme Bobby (Billy Eichner) é um podcaster e diretor de museu orgulhoso de sua identidade e engajado na causa e na história LGBTQIA+, às vezes até demais. Aaron (Luke Mcfarlane) é um advogado especialista em testamentos, que poderia se passar facilmente por hétero, já que é o típico “homem branco cis praticante de crossfit”. Os dois se conhecem numa festa de lançamento de um app de pegação e contra todas as chances se apaixonam. Mas ao mesmo tempo que começam a cair de amores, também precisam lidar com as próprias feridas e problemas do passado.
Bom, já pode se reparar que o roteiro escrito por Eichner em conjunto com o diretor Nicholas Stoller (que dirigiu A Ressaca do Amor e Vizinhos) tem na fórmula seu esqueleto narrativo, o grande destaque é não tentar adequar essa narrativa romântica a algo mais heteronormativo. Eles não tentam diminuir as questões mais pulsantes dentro da comunidade LGBTQIA+ para que aqueles que não fazem parte da comunidade ou não tem convívio direto com ela possam “entender mais” o longa. Estamos aqui diante de uma história de amor entre dois homens trazendo para dentro dela, situações comuns entre relacionamentos homoafetivos e não heteronormativos.
O texto também é moldado a todo tempo pela mente rápida, ácida, certeira de Eichner. Ao mesmo tempo que o filme dá visibilidade, também critica estereótipos impostos pela própria comunidade aos subgrupos existentes nelas.
E junte tudo isso com participações hilárias em diversas cenas de diversos atores e atrizes conhecidos do grande público LGBT e com uma avalanche de piadas sobre e com a cultura pop atual e se tem uma das melhores e mais divertidas comédias do ano.
Outro ponto a ser destacado é o texto da aceitação que mesmo que pareça um clichê obvio, é bem trabalhado e discutido. Enquanto Bobby usa sua confiança como uma armadura para se esconder de que dores do passado não sejam repetidas, Aaron vive no contexto da homofobia internalizada, que é conflituosa mentalmente para não aceitar traços mais suaves e almejar o ideal de masculinidade imposto pela sociedade.
Eicher e Macfarlane estão incríveis juntos e garantem bons momentos como a dupla de protagonistas. E até mesmo o elenco secundário que trabalha no Museu em que o personagem de Eichner planeja sua exibição formado por Jim Rash (da série Community), Dot-Marie Jones (da série Glee), Miss Lawrence, Ts Madison e muito mais ajuda a contar mais sobre o universo LGBT.
Mais que Amigos traz com coração e empatia para trazer uma divertida comédia romântica moderna que mostra que o amor é pra todos. E que novas histórias do tipo sejam mais exploradas na tela grande e para um grande público, como merecem.