Lançado em 2023, no premiado 51º Festival de Gramado e com grandes elogios, Mais Pesado é o Céu coloca Matheus Nachtergaele em mais um grande papel seu no cinema nacional, mostrando uma realidade cruel e difícil da vida de muitos no país que lutam para sobreviver em meio as incertezas do mundo.
Com direção de Petrus Cariry (A Praia do Fim do Mundo), Mais Pesado é o Céu nos apresenta a Antônio (Matheus Nachtergaele) quando ele está tentando conseguir carona até um lugar onde estava um amigo que, segundo ouviu dizer, estava indo muito bem com negócios de caranguejos. Seu caminho, no entanto, é atravessado pela aparição de Teresa (Ana Luiza Rios) e de um bebê sem nome. Eles têm um passado em comum com uma cidade que não existe mais e, agora, com uma pequena família formada – e mais nada – Antônio e Teresa têm uma nova missão desesperadora: sobreviver e manter viva a criança.
O longa é bastante assertivo e até bem cru em mostrar a dura realidade e como as coisas parecem jogar contra Teresa e Antônio – das condições da natureza à interferência humana –, mas eles encontram uma forma de continuar. Custe o que custar. Enquanto Antônio passa mais tempo em casa tomando conta do bebê, Teresa é quem sai de casa para procurar trabalho e dinheiro. Sem amparo e sem opções, a mulher começa a fazer programas sexuais e, pouco a pouco, consegue criar condições, mínimas que sejam, para que a criança pare de chorar de fome.
Toda a angustia é mostrada de uma forma até cruel posso dizer, mas não menso que real, visto que essa mulher tem se submeter a tais atrocidades para conseguir ao menos o sustento de sua familia. Juntamente de uma ambientação incrivelmente realista e uma fotografia de encher os olhos e nos passar total ideia incertezas e solidão, não tem como não ficar impactado com tudo que acontece em tela com aqueles personagens.
É interessante frisar que em meio a toda essa crueldade que é mostrada do lado humano, na maior parte para Teresa, a bondade oferecidas por alguns personagens que parece ser um contraponto, além de se mostrar até difícil aceita-las visto como o resto do mundo reage.
Ambientado principalmente em rodovias enormes e super abertas, o drama dá uma sensação de grandiosidade que até parece sufocante. Os protagonistas passam por aquele caminho muito lentamente e com muito sacrifício, ao passo em que vemos dezenas de carros e caminhões passarem em questão de segundos – alguns deles, inclusive, trazendo experiências violentas para Teresa (ela fica para trás, mas eles vão). A solidão, o medo e o silêncio se misturam em cenários que parecem uma pintura devido a belíssima fotografia como mencionei acima.
Apesar de uma trama incrivelmente angustiante e deveras necessária, o ato final que apesar de impactante, me soou um tanto que anticlimatico. Não me entendam mal, mas se o filme terminassem em uma cena antes que é bem reflexiva seria espetacular, mas para apresentar algo mais impactante e até meio ambíguo, ficou um tanto que sem um algo mais conclusivo. Entendo a proposta, mas parece um tanto abrupto encerrar dessa forma.
Pra finalizar, Mais Pesado é o Céu, é um road movie à brasileira sobre um homem e uma mulher no limite da sobrevivência, custe o que custar. Angustiante, forte, mas crível, são muitas camadas e desafios na luta pela sobrevivência em um Brasil desolado, sem ordem nem progresso. A prova do potencial do cinema nacional em trazer obras de impacto!