Lollapalooza precisa crescer para se manter grande

Victor Fonseca
9 Min de Leitura

Olhando somente para os números que lotaram o autódromo de Interlagos no último final de semana podemos dizer sem pestanejar: o Lollapalooza 2017 foi um sucesso. Cerca de 190 mil pessoas ajudaram a bater o recorde de público e fizeram desse o maior Lollapalooza Brasil de todos. Porém, não subvertendo a lógica de que quantidade e qualidade não crescem de maneira uniforme, o público recordista do festival encontrou além da tabela de shows diversificada, problemas estruturais de um festival que vai precisar aprender a sustentar o próprio crescimento.

Grande novidade de 2017, as pulseiras Lolla Axe Cashless serviram como ingresso e cartão de crédito no festival. O que prometia agilizar o atendimento nos bares e lojas não surtiu efeito. Mesmo com a novidade tecnológica, o número baixo de funcionários em relação ao público transformou a simples atividade de comprar uma água em cruzadas que duravam de 10 a 30 minutos. Tempo relativamente alto em um festival que espera que você cruze uma pista de corrida em 5 minutos para assistir duas apresentações seguidas.

Em menor número, as atividades patrocinadas do festival também foram comprometidas pelas filas. Com menos opções disponíveis, era preciso esperar até 2 horas para fazer seu energético personalizado no stand da Fusion ou para entrar no parque temático construído pela Chevrolet no palco Onix. Entre as atividades disponíveis, os destaques ficaram por conta da batalha de lipsync feita pela Ray Ban, comandada pela ex-VJ da MTV Penélope, e o salto mágico de aproximadamente cinco metros direto em um colchão de ar proposto pela Axe

Reclamação comum em todo Lollapalooza que se preze, o choque de shows grandes na sexta edição do festival foi potencializada. Com line up eclético, aberto para artistas de outros estilos e épocas, as atrações de peso se espremeram na grade do evento. Os fãs do indie pop, por exemplo, tiveram que escolher entre The XX ou Tove Lo no sábado, enquanto Melanie Martinez cantou para uma platéia vazia no palco Axe, concorrendo contra a lotada e candidata a melhor apresentação da edição: The Weeknd no palco Onix

Moeda de dois lados, a abertura do Lollapalooza para outros estilos não deve ser criticada. A mudança do festival trouxe pela primeira vez em seis anos uma atração de Heavy Metal para a headline: o Metallica. Grande responsável por arrastar 100 mil pessoas no primeiro dia, a banda fez um show focado no novo trabalho, o disco Hardwired… to Self-Destruct. O único defeito da apresentação foram os fãs que passaram o sábado no palco Skol gritando “acaba” para qualquer show que começava. Os gritos não ajudaram. Como qualquer outro, o show do Metallica começou pontualmente no horário marcado, às 23h do sábado.

Shows

Também resultado da variação eclética da line up, o show da Baiana System levantou poeira -literalmente- do chão batido do palco Axe. Para quem conhecia a banda e esperava um curso de guitarra baiana para iniciantes e um público apático, o show de Russo Passapusso levou a atmosfera do carnaval do Salvador para o primeiro dia do festival. Já Criolo e o paraense Jaloo carregaram uma multidão para o palco Axe que em todas as edições está acostumado e preparado para shows mais tímidos.

O metaleiro que ficou surpreso com o Metallica entre as atrações do festival provavelmente não imagina o que sentiu o fã de EDM, sigla que nomeia a eletronic dance music. Entre os DJ’s que se apresentaram no palco Perry’s, o Lolla trouxe artistas reconhecidos pelo sucesso como Martin Garrix, Nervo e Marshmello. Já outros reconhecidos por suas letras machistas, como o criticado ao vivo pela apresentadora Titi Müller, o israelense Borgore. Entre as apresentações lotadas dos DJ’s no Perry’s, o pequeno público do rapper G-Eazy ouviu canções inéditas e o hit “Me, Myself and I” com direito a fogos de artifício e chuva de papel picado no palco.

(MilaMaluhy/MRossi/Divulgação)

Longe do badalado palco Perry’s que não raramente vazava som para o palco Skol, dois outros artistas da EDM merecem destaque. O destaque positivo ficou por conta do Flume que surpreendeu pela apresentação que misturou música com instalações artísticas e trouxe novamente a Tove Lo para cantar a faixa “Say It” no domingo. Já o destaque negativo, a dupla responsável pelo hit Closer, o The Chainsmokers se apoiou nos seus hits e na figura do DJ que desliga o som para o público cantar e manda todo mundo levantar as mãos. Básico.

Provando que são divas, mesmo fora da bolha pop do mainstream, e Tove Lo também marcaram o Lollapalooza 2017 com suas apresentações. Sem o Flume, no seu show solo no sábado, Tove Lo trouxe ao Axe, um público maior do que o palco suportava. Por uma hora, a dona do hit “Habits” cantou músicas do novo disco “Lady Wood” e fez uma apresentação que ecoou do sexy para o violento em algo que pode ser traduzido como uma transa com o público de tanto prazer que trouxe. Já no domingo, a dinamarquesa trouxe os covers de “Lean On” e “Cold Water”, mas provou também ser reconhecida sem o Major Lazer ao fazer o público delirar com as novas “Drum”, “Final Song” e “Kamikaze”.

Enquanto os rockeiros veteranos do Duran Duran, Rancid e o Jimmy Eat World usaram os anos de experiência para levantar o público em seus shows nas tardes do festival, o The Strokes não fez valer o espaço que ganhou como headliner do último dia do Lollapalooza 2017. Com uma apresentação que apostou nos hits antigos da banda e músicas do “Is this it…”, o show foi tedioso ao parecer um grande ensaio de quem se encontra fora de turnê. Surra na energia de quem já estava há dois dias acompanhando o festival

(Divulgação)

Verdadeiro carro chefe do domingo, o show do The Weeknd foi ovacionado por palmas, histeria e gritos de “Selena” e “cabeçuda” entoados pelo público. Por uma hora e meia sem paradas, o canadense de carreira astronômica provou que ainda tem futuro ao fazer o público brasileiro acompanhar as músicas do seu novo álbum “Starboy”. A aparição de Selena Gomez, namorada do cantor, foi recepcionada por certo constrangimento engraçado pelo The Weeknd, mas atendida. A cantora teen que acompanha a passagem de Abel na América do Sul, apareceu por alguns segundos no telão durante o show.

Para o próximo ano o Lollapalooza já tem um desafio traçado: Continuar investindo em um lineup diversificado e de peso, mas não deixando de apostar em infraestrutura. O festival precisa crescer se quiser continuar crescendo em público. Com ou sem recessão econômica, o próximo ano do festival começa a ser planejado e anunciado em Setembro. Até lá, confira nossa playlist de ressaca do festival com as apresentações mais legais que passaram pelos 4 palcos do evento.

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Estudante de Jornalismo, mas formado em medicina após 14 temporadas de Grey's Anatomy. Viciado em séries e amante do cinema.
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