Depois de uma longa temporada fora dos cinemas (seus 3 últimos projetos chegaram direto no Disney+) a Pixar está de volta! Lightyear, explora o universo de Toy Story de uma maneira nunca antes imaginada. No novo filme a proposta é acompanhar a história do astronauta (fictício) que deu origem ao boneco do Buzz Lightyear. Sendo assim, não espere ver o Buzz que você conheceu na franquia de brinquedos, mas o personagem que fez o Andy se apaixonar e querer tê-lo. E se ainda sim, você está com o pé atras, saiba que Lightyear, é uma aventura deliciosa e divertida como a Pixar sabe trabalhar.
Na trama acompanhamos o patrulheiro Buzz Lightyear (dublado nos EUA por Chris Evans e no Brasil por Marcos Mion) que após uma falha acaba prendendo ele e sua tripulação em um planeta inóspito. Determinado a corrigir seu erro, o protagonista irá enfrentar inúmeros desafios em sua jornada, incluindo uma invasão alienígena de robôs.
O roteiro como eu disse acima, se utiliza um pouco da metalinguagem para nos mostrar um filme dentro de filme, afinal estamos assistindo o longa que veio a se tornar o favorito de Andy e de muitas outras crianças e que acabou gerando o boneco Buzz. Dito isso, ela mescla ficção cientifica, carga emocional forte, humor e inúmeras referências de forma bem dosada. Somos postos ao impacto inicial de conhecer o Buzz, agora como um personagem diferente (e não só na dublagem), ao tempo que nos acostumamos com o novo universo em que ele está estabelecido.
Pra quem espera aqueles roteiros mais elaborados e profundos que o estúdio adora entregar em produções como Divertidamente ou até no recente Red: Crescer é Uma Fera, pode acabar se decepcionando com o escopo que a aqui é apresentado. Aqui os ares traz uma produção que se inspira nas space opera como Star Wars, já que essa produção de forma semelhante, inspirou uma geração de crianças, mas mesmo que simples e divertido o longa adiciona um sci-fi a lá Interstellar e até Cowboy Bebop, mas claro de uma forma que uma criança aprecie a obra sem ficar confusa.
Ainda sim, o drama existencial do personagem é explorado. Bebendo de uma abordagem um tanto que oitentista, do qual o “escolhido” é o cara que não falha, resolve todas as coisas e não atende as ordens diretas, porque ele sabe o melhor a ser feito, mas rapidamente após o sinal do fracasso, o protagonista quebra e com isso seus dilemas são sendo colocados e vimos durante o filme. A mensagem de se trabalhar em equipe apesar de ser um clichê em animações, aqui ganha um detalhe a mais: não é sobre unidos venceremos, e sim que acreditar que os outros são tão capazes quanto você. É mais sobre não abraçar o mundo e se sobrecarregar tentando. E o outro grande foco da narrativa, presente na trama de cada personagem, é a necessidade de aprender a conviver com os erros e seguir em frente, algo que pra não entrar no campo de spoiler, reflete com a ameaça: O grande mal acaba sendo a teimosia e não estar disposto a admitir estar errado, ouvir conselhos e mudar.
No início, a dublagem de Marcos Mion nos traz um certo vale da estranheza com o personagem. Afinal, o jeito como Buzz se apresentava era de alguém imponente, confiante e não é a primeira coisa que vem em mente quando ouvimos o ator. Entretanto, conforme o filme avança e as falhas do personagem aparecem, a voz parece se encaixar melhor. A dublagem hesitante de Mion acaba casando bem com a presença conflituosa do personagem.
A nostalgia aqui, assim como em Top Gun:Maverick é inserida de forma bem orgânica e nunca sendo uma muleta como outras produções que bebem disso atualmente.
Esse cuidado também chega ao elenco de apoio do longa. Mais do que alívios cômicos, os personagens têm jornadas e características próprias que vão além da tarefa de ajudar Buzz a cumprir sua missão. Nesse ponto o destaque fica para Alisha Hawthorne e sua neta, Izzy, cuja relação e papéis se tornam peça fundamental para que a trama funcione. Até o arco envolvendo a Alisha é de bater palmas pra o estúdio, visto a representatividade colocada de forma singela e orgânica na história. O grande destaque vai para o gatinho Sox, que é basicamente como seria o R2-D2 se a gente pudesse entender o que ele fala. Sincero, espontâneo e irreverente, ele sempre tem uma tirada legal para cada situação e uma solução inesperada para os problemas mais absurdos, além de ser um dos melhores alívios cômicos do longa. De quebra, ele ajuda seu amigo sem apressar o seu ritmo pessoal de evolução.
Falar da Pixar é falar da parte técnica e novamente o estúdio, mostra porque é incrível nisso! A animação é belíssima e mesmo com uma paleta de cores mais saturada, tudo salta muito bem aos nossos olhos de tão imersivo é. As texturas das armaduras e até o pelo do Sox é sensacional!
Lightyear mistura ficção científica, drama e comédia de um jeito incrível. Apesar de não ser o mais emocionante ou melhor resolvido e profundo filme da Pixar, ele nós traz aqui a história do patrulheiro que se tornou um dos brinquedos mais famosos do cinema e a paixão de uma geração.