Uma surpresa para o universo dos seriadores chegou nessa sexta (28 de abril), na Netflix. Com um total de 8 capítulos, conheceremos um grupo de mulheres que vivem – ou melhor dizendo, sobrevivem – em Madrid no final dos anos 20, onde a repressão dos direitos da mulher a faz um objeto, útil nos serviços domésticos, mas não no mundo dos executivos, onde os verdadeiros trabalhadores são os homens de terno e gravata, com um futuro promissor e uma bela mulher para lhe acompanhar nos eventos e jantares de negócios. O drama criado por Gema R. Neira, Ramón Campos e Teresa Fernández-Valdés é a primeira série orinal espanhola da Netflix.
Em uma época pouco ambientada nas séries de TV, encontramos Alba, (interpretada pela atriz Blanca Suárez) uma inteligente jovem que se vê forçada a dar golpes para conquistar a tão sonhada liberdade, após a perda de sua amiga e aliada, Alba entende o perigo que se tornou seu cotidiano, mas o golpe perfeito fará com que seus valores entrem novamente em jogo. Se tornar uma funcionária de uma empresa de telecomunicações – algo que nascia naquela geração e aceitava apenas mulheres como atendentes – e roubar todo o dinheiro e invenções investidas nessa empreitada revolucionária dos meios de comunicação. Diante dessa missão, ela tem as armas necessárias, mas não sabia ela que faria amigas e encontraria o amor em sua passagem.
Com muito a respeito de temas feministas, vemos algo (infelizmente) comum nos dias de hoje e mais comum ainda nas décadas anteriores: violência doméstica, falta de credibilidade na mulher diante toda a sociedade, seja no direito a opinião, ideias ou sonhos. Considerando esses temas, é impossível não considerar algumas cenas um tanto fortes para o público que despreza esse comportamento desumano. Ainda que exista muito de uma metrópole corrupta e um cunho político, a série se volta mais para o problema enfrentado pelas mulheres em geral, deixando toda parte midiática em segundo plano. O romance é muito mais forte e estamos falando de todo o tipo de amor, ainda que na época fosse acolhido de maneira sutil.
Os atores da série são conhecidos pelo público que acompanha outras séries da Espanha, e alguns até mesmo estão em filmes que já vimos como Blanca Suárez em “A Pele que Habito”. Entre os destaques estão Maggie Civantos no papel de Ángeles, Ana Fernández Garcia interpretando a forte Carlota e, representando o público masculino, Yon González no papel de Francisco. Sem faltar com boas atuações, a série também conta com uma ótima trilha sonora, que surpreende por não ser de canções antigas e rebuscadas, mas sim algo contemporâneo como o pop eletrônico e o hip-hop, até mesmo na abertura que ficou linda.
Algo que lembra a série “Sex And The City” é a ideia de unir quatro amigas para que uma defenda a outra quando for necessário, mas não chega a ser algo forçado ou muito semelhante a ideia de outras séries. Também, por sua veia de lutar pela liberdade e direitos de se expressar, talvez lembre o recente filme “As Sufragistas”, algo que nesse está mais envolvente. Quem gosta de séries mais curtas, com certeza precisa conferir o resultado dessa criação de língua castelhana, e ouvir no audio original que é o espanhol europeu. A ambientação passa mesmo a ideia de que estamos nessa década tão requintada e polida que é os anos 20.
A respeito do seu roteiro, ele se incia de maneira promissora, mas acaba por repetir algumas façanhas de outras obras, o que perde na originalidade, mas não compromete se de fato ocorrer uma segunda temporada. Por se dedicar a busca de oportunidades pela mulher, são muitas histórias de peso, como a típica mulher de família rica que deseja trabalhar e ser independente, ou a mulher que não quer casar com o pretendente apontado pela família, e até hierarquia entre mães e filhas dentro do lar. Tantas propostas que são recorrentes, e de maneira que podemos fazer uma conexão com os dias atuais, em tom de conversa e conselhos nossas protagonistas apontam suas escolhas e pensamentos, que muitas vezes são contrários aos preceitos de uma “mulher direita”.
Descontrução e diversidade são o que define essa temporada tão cativante de “Las Chicas Del Cable”, onde as jovens são completamente diferentes e chegam de diversas regiões da Espanha com o mesmo desejo, em uma época em que não se falam em igualdade de gênero. A série inspira a fazermos mais para que essa luta não termine pela metade, afinal, ainda temos muito que progredir. Os 3 criadores dirigiram todos os episódios juntos, e eles possuem uma ótima relação entre eles, já que já estiveram por trás de outras séries e juntos formam a Bambú Producciones, responsável por novelas como “Velvet” e “Seis Hermanas”. Palmas a Netflix por trazer um pouco de cada país com suas séries originais.