Jurassic World: Reino Ameaçado | Não é só de nostalgia que se vive uma franquia

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

Em 2015 o efeito nostalgia acendeu Hollywood como ninguém imaginava. A formula dos prequels e spin-off fizeram com que franquias de sucesso no passado voltassem com força.Star Wars fez com J.J. Abrams  seu Episódio VII arrebentar nas bilheterias e trazer sua legião de fãs de volta, além de surgir uma nova geração para manter sua marca ativa.

Spielberg e sua franquia também pegou a vibe um pouco antes e com Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, continuou a franquia, reimaginando seu original. Embora o acerto com publico foi em cheio, infelizmente, era um filme totalmente contrário as regras que cimentaram a eficiência do original de Spielberg, e se ocupava de personagens banalizados, conflitos rasos (lembram como o original de 93 estabeleceu tão bem seus personagens com pouquíssimo a dizer?), clichês desesperados e uma apatia na ação que era ressaltada pelo abuso de efeitos especiais que quebravam a magia proposta. Que saudade deu dos animatrônicos.

Confesso que Jurassic World: Reino Ameaçado é superior ao seu antecessor, primeiramente porque em sua direção sai o enganado Colin Trevorrow (que só participou do roteiro para ser demitido da direção do Episódio IX de Star Wars) e entra um eficiente J.A. Bayona(dos ótimos O Orfanato e Sete Minutos Depois da Meia Noite) e empresta muito de sua experiência no controle dos competentes efeitos digitais e até mesmo da manipulação das imagens para criar momentos de puro horror. Pois sim, Reino Ameaçado em muito se aproxima de uma espécie de terror contemporâneo com seu jogo de luzes, sombras, enquadramentos e cenários medievais (a mansão repleta de janelas e parapeitos) para acentuar a tensão das cenas de perseguições, como ocorre no clímax. Mas o destaque, obviamente, está no sensacional plano-sequência aquático que ocorre durante a erupção do vulcão, a prova do quanto o diretor se sente à vontade com sua câmera para a manipulação das imagens. E as homenagens ao clássico de Spielberg, é claro, não ficam de fora.

Na trama, a Isla Nublar, a casa do “Parque Jurássico” e, posteriormente, do “Mundo Jurássico”, está passando por um cataclismo natural que pode extinguir de vez os animais “inextinguidos”. Para salvá-los, um milionário (James Cromwell) – sempre tem um milionário! – contrata uma equipe de “especialistas” e caçadores para resgatá-los e levá-los para um paraíso isolado. Dentre os profissionais, temos a volta da antes executiva aplicada, e agora ativista dos dinossauros Claire (Bryce Dallas-Howard) e seu eterno crush mal resolvido Owen (Chris Pratt). De volta à ilha, os aventureiros enfrentarão não só as dezenas de animais que povoam o agora desativado parque, como um vulcão enorme em erupção. E esta é só a primeira parte do longa, já que uma reviravolta é a força motriz para a segunda metade, esta um tanto mais “contida” e confortável para o diretor brincar.

Se a descrição da trama parece lembrar “Jurassic Park: O Mundo Perdido”, ela se mescla com outras . Mais uma vez, o grande homenageado é o primeiro “Jurassic Park”, misturando com o primeiro “Jurassic World”. Se mais uma vez o grande “vilão” é um dinossauro geneticamente criado com um design preguiçoso e bastante sem graça – porque diabos os caras não usam a imaginação com tudo?! Esses bichos não existem mais!!! -, eles compensam com a sua movimentação, igualzinha a dos velociraptors do primeiro filme. Se já olhávamos com tristeza e nostalgia para os restos do primeiro parque no moderno World, por que não sentir uma pontada no coração ao ver o próprio World abandonado agora?

O grande problema disso tudo é que só nostalgia, atmosfera e técnica não fazem um filme. Basear-se quase que totalmente nas gags e situações dos filmes anteriores, trazendo poucas inovações verdadeiras para a história, pode tornar a experiência de “Reino Ameaçado” um pouco desgastante. A concepção dos personagens é, de longe, a pior coisa do longa, algo que já tínhamos sentido anteriormente no primeiro filme. A química boba entre o casal de protagonistas permanece – agora sem salto alto, graças a Deus! – com a adição de mais uma dupla, Zia (Daniella Pineda) e Franklin (Justice Smith), esta realmente descartável e irritante. Infelizmente, para os roteiristas de filmes da franquia jurássica, todos os nerds do mundo têm que ser medrosos, histéricos e inoportunos, assim como os vilões humanos precisam ser caricatos e unidimensionais.

Da mesma forma, não há qualquer forma ou peso nos arcos dramáticos que o roteiro insiste em investir, e mesmo a relação entre Owen e Blue parece mal desenhada por um script que, em duas ou três palavras, crê que já estabeleceu um elo de conexão justificável entre o homem e a criatura. A garotinha Maisie, vivida por uma ótima e determinada Isabella Sermon, é vítima do twist mais covarde e despirocado do roteiro, e que não traz absolutamente consequência nenhuma para a trama. E mesmo a pincelada na velha questão de como o ser humano está continuamente cavando sua cova ao entrar em guerra contra a natureza se leva mais a sério do que deveria, por mais que isto nos traga a oportunidade saudosa de rever o Dr. Ian Malcolm, novamente interpretado por Jeff Goldblum.

No entanto Bayona traz tanta pulso e liberdade para o longa, que acaba influenciando também os criadores coadjuvantes, como o ótimo Michael Giacchino . Aqui o compositor acompanha o clima de terror imposto pelo diretor e se livra quase que totalmente das melodias inesquecíveis de John Williams, incrivelmente não diminuindo a força da trilha. Criando uma quase ópera com tons épicos, a música é um deleite e casa totalmente com a história que está sendo contada.

Embora divertido como todo blockbuster deve ser, Jurassic World: Reino Ameaçado” é um bom exemplo de como a franquia precisa de renovação.Por mais que esta nova aventura não passe com indiferença,e seja melhor conduzida, ainda faz falta o jeitão inteligente e econômico, sem esse excesso de barulheira e luzes, com que Spielberg deu vida ao livro de Michael Crichton.

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