June e John | Uma Simples História de Amor, com um Toque Bessoniano

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura
3 Bom
Critica - June e John

Luc Besson é um nome que evoca imagens grandiosas, universos distópicos vibrantes e personagens à beira do extraordinário. De O Quinto Elemento a Lucy, passando pelo recente Dogman, o diretor francês sempre soube flertar com o limite entre o real e o fantástico, entre o íntimo e o épico. Mas em June e John (2025), Besson opta por um caminho mais contido, pessoal e – curiosamente – experimental. Gravado inteiramente com smartphones durante a pandemia da Covid-19, o longa mergulha em um drama romântico com toques existenciais que remete aos primeiros passos do diretor, quando a simplicidade era a base da emoção.

A trama gira em torno de John (Luke Stanton Eddy), um homem preso à mesmice da rotina, cuja existência é marcada por apatia e passividade. Sua vida muda radicalmente quando conhece June (Matilda Price), uma mulher vibrante, intensa e misteriosa que aparece como uma explosão de cor em seu cotidiano cinza. A partir desse encontro improvável – ocorrido em um vagão de metrô –, os dois embarcam em um romance repleto de paixão, descobertas e riscos, que força John a sair da zona de conforto e confrontar tudo aquilo que sempre evitou sentir.

Diamond Films/Reprodução

O grande trunfo de June e John está na ousadia da sua forma. Filmado com smartphones e sob restrições severas, o longa aposta em uma fotografia granulada, cenas de diálogos onde os personagens muitas vezes estão fisicamente separados (um reflexo claro do isolamento pandêmico) e uma mise-en-scène que privilegia o olhar e a emoção bruta. O resultado é uma estética que poderia parecer amadora, mas que se encaixa perfeitamente na proposta sensorial e intimista da obra.

O roteiro, também assinado por Besson, trabalha bem o desenvolvimento emocional da dupla principal. Conhecemos suas motivações, seus vazios e seus desejos. A química entre Luke Stanton Eddy e Matilda Price é palpável, carregando o filme mesmo nos momentos de maior fragilidade narrativa. Eddy traz um John contido, preso dentro de si, enquanto Price injeta vida e caos como June, numa performance magnética que transita entre o poético e o imprevisível.

Diamond Films/Reprodução

Ainda que o roteiro busque explorar temas profundos como liberdade, identidade e transformação pessoal, nem todas as reflexões filosóficas encontram terreno fértil. Em alguns momentos, os diálogos soam mais como monólogos metafísicos do que como interações orgânicas, e a tentativa de elevar o romance a um patamar quase transcendental deixa pontas soltas no desenvolvimento emocional. Falta, em certos trechos, o equilíbrio entre o poético e o palpável.

Mesmo com orçamento reduzido, a direção de Besson consegue tirar o máximo dos poucos recursos disponíveis. As limitações técnicas não são um empecilho, mas sim um catalisador criativo que mostra o quanto o diretor ainda sabe inovar quando desafiado. Para os fãs de longa data, June e John soa como uma carta de amor às origens do cineasta.

Diamond Films/Reprodução

June e John não é um épico futurista nem uma ação explosiva com efeitos mirabolantes. É um filme de silêncios, olhares e encontros. Uma história sobre amar e ser transformado, sobre romper muros emocionais e se permitir viver. Mesmo com falhas pontuais, a obra emociona pela autenticidade e criatividade, e prova que Luc Besson ainda sabe contar grandes histórias, mesmo em espaços pequenos.

Se você procura uma experiência sensível, agridoce e inesperadamente atual, June e John é uma boa pedida — seja na companhia de alguém especial ou apenas para refletir sobre o que nos move quando menos esperamos.

Critica - June e John
Bom 3
Nota Cinesia 3 de 5
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