Em 2012 no estouro das adaptação de sagas literárias para jovens como Harry Potter, Percy Jackson e outros, Jogos Vorazes surgia se tornava um sucesso estrondoso com sua protagonista Katniss Everdeen, que lutava em uma arena para sobreviver as ganância de um governo ditatorial em um futuro distópico tão crível que encantava e ao mesmo tempo assustava com a realidade.
O longa gerou outros 3 filmes baseado em seus livros subsequentes (o terceiro como costume na época foi dividido em 2 partes) foram igualmente bem sucedidos e se tornaram juntamente com a saga do bruxo de J.K Rowling referência para o que viria a ser adaptação de livros na época.
Lançado em 2020 pela autora Suzanne Collins, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, volta a franquia ao contar uma história no seu passado para abordar e construir uma das figuras mais antagônica dela: O Presidente Snow.
Claro que a Lionsgate não perdeu tempo e adquiriu os direitos para trazer a nova adaptação da saga pra as telas e ela está entre nós agora em um filme consistente que nos mostra um pouco da trajetória do personagem e como sua vivência e pessoas o moldaram para se tornar tal figura que seria o vilão principal de Katniss e cia 64 anos depois.
Na trama, nascido na grande casa de Snow, que não andava muito bem em popularidade e financeiramente, Coriolanus Snow (Tom Blyth) é apenas um estudante de 18 anos da Capital, cuja família está sem dinheiro e, por isso, precisa se destacar na Academia se quiser uma chance de uma bolsa na Universidade e um futuro de respeito.
Só que tudo se complica quando ele é designado para ser mentor da garota do Distrito 12, que aparentemente não tem nenhuma chance de vencer a décima edição dos Jogos Vorazes. Apesar das semelhanças na história, Lucy Gray Baird (Rachel Zegler) não poderia ser mais diferente de Katniss. Ela é uma performer nata, ama as câmeras e sabe usar seu charme para conseguir o que quer. Especialmente, ela tem um talento natural na música.
Quando se fala em realizar prequel, sempre surge a pergunta: qual a razão para se justificar tal obra se não ser apenas um caça níquel, já muitas vezes isso não é bem montado ou há participação dos realizadores da obra no longa. Aqui A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes consegue se sobressair com um fator muito importante: a autora Suzane Collins, está envolvida, assim como grande conhecedora dos trâmite de adaptação para as telas ( a mesma tinha se envolvido na quadrilogia Jogos Vorazes) traz consigo o diretor Francis Lawrence, que foi responsável pelos 3 últimos filmes da franquia, além do roteirista Michael Green, de Em Chamas, o melhor longa da saga e faz desse time uma liga forte que faz o longa ter uma estrutura sólida e mostrar os elementos desta sociedade falha quanto se atém à construção do elenco principal através de suas narrativa trágica.
É interessante que ao nos dá um ponto de vista de um personagem bem contraditório, tanto Collins no livro quanto Lawrence souberam tecer esse ponto fora da curva de forma que desafiam nossas próprias interpretações de moral para que adentremos na mentalidade daqueles que estamos assistindo lutando por suas vidas.
O primeiro ato, constrói todo o novo imaginário de Panem com cenários de tirar o fôlego e um grande cuidado à apresentação dos personagens. Os jogos apesar de serem o trunfo do filme, onde Lawrence coloca o público dentro da arena junto com os tributos e dentro da ação intensa com lutas e estratégias. É a aceleração perfeita para que o tempo passe rápido e a gente não sinta o possível cansaço de um filme longo,eles não são em sua totalidade o grande ponto da trama, já que o ponto principal, está na forma como humaniza sua dupla principal. Há complexidades muito maiores do que o romance que se desenrola ao fundo, apesar de ser vital para o seu desfecho. Trata-se de luta de classes ligeiramente camuflada diante do envolvimento da dupla, algo que já tivemos acesso no passado.
O terceiro ato pode ser o mais divisório para o grande público, já que por temos dois atos bastante intensos , o ato final tem um ritmo mais morno e em alguns momentos fica um pouco rápido alguns trechos que buscam ampliar os personagens e ficam meio corridos, mas ainda sim é ótimo como a franquia sempre gostou de entregar um ponto cinza para seus personagens. Não há bom nem mal, mas sim sobreviventes em um mundo cruel.
O Snow que Tom Blyth encarna aqui, não se mostra vil como no fim de sua vida, mas a faísca do mal está ali. Apesar da aparência extremamente semelhante a de Donald Sutherland, o ator não tenta imitar seu antecessor, criando uma versão nova de Snow, igualmente poderosa em tela.
Enquanto isso, a Lucy Gray de Zegler, não é inocente e nem boba. A atriz tem uma ferocidade que se encaixa na determinação de Lucy Gray, ao mesmo tempo que consegue arrepiar qualquer um quando canta a capella.
Viola Davis se diverte como a insana Dra. Gaul, chefe dos Idealizadores dos Jogos, enquanto a tortura interna que Peter Dinklage traz ao reitor HighBottom é clara. Hunter Schafer e Josh Andrés Rivera são, respectivamente, uma Tigris Snow e um Sejanus Plinth de ótimas presenças. Aliás, Davis brilha novamente em cena e, mesmo espremida na trama, consegue entregar todo seu talento como a cientista excêntrica.
Pra finalizar, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes reforça a grandiosidade da série ao nos lembra que a destruição e a crueldade também precisam de uma face e que ela é moldada e transformada pelas ações humanas.
Nota: 4/5