“Invencível” (título nacional de The Unbreakable Boy) é um daqueles filmes que abraçam o espectador com uma doçura quase excessiva, guiado pela intenção de inspirar e confortar, ao mesmo tempo em que tenta discutir questões delicadas como autismo, deficiência física e vício com um toque suave, quase acolchoado. Produzido pela Kingdom Story Company, conhecida por obras de cunho cristão e mensagens edificantes, o longa não esconde suas raízes na fé — ou melhor, em uma ideia de fé tão bem-intencionada quanto inofensiva.
Baseado nas memórias de Scott LeRette, o filme acompanha a jornada de Scott (Zachary Levi), um pai lutando para lidar com as complexidades da vida ao lado do filho Austin (Jacob Laval), que vive com autismo e osteogênese imperfeita — condição que fragiliza seus ossos ao ponto de quebrá-los com facilidade. Mas Austin não é retratado como um símbolo de sofrimento ou limitação. Pelo contrário, ele é um garoto tagarela, apaixonado por cultura pop, lagartos e molho ranch, cuja alegria e peculiaridade transformam todos ao seu redor.

Jacob Laval é o destaque aqui, trazendo uma sinceridade palpável. Seu Austin é intenso, elétrico, quase como um canal direto para o coração do filme — sua mente acelerada e entusiasmo infantil soam reais o suficiente para emocionar, mesmo quando o roteiro cede ao sentimentalismo. A metáfora do “menino de vidro com alma de aço” está presente em cada cena, ainda que frequentemente conduzida com uma leveza quase anestésica.
Zachary Levi, por sua vez, empresta ao pai de Austin um ar frágil e vulnerável. Sua tentativa de conciliar o trabalho, o alcoolismo velado e a responsabilidade de cuidar de um filho tão fora do padrão é conduzida com certa competência, mesmo que o personagem nunca atinja profundidades dramáticas mais cruas. Sua jornada de queda e redenção é previsível, mas eficaz dentro do que o filme se propõe.

O maior problema de “Invencível” não é a falta de qualidade técnica ou atuação, mas o excesso de doçura e a resistência em confrontar de verdade a dor. Quando o filme parece se aproximar de momentos mais sombrios — como uma crise de agressividade de Austin ou a sugestão de que o amigo imaginário do pai pode ser uma manifestação divina — ele recua, preferindo soluções fáceis e finais otimistas. Em vez de provocar reflexão profunda, o longa escolhe confortar, o que limita seu potencial narrativo.
Ainda assim, “Invencível” é um filme eficaz dentro da sua proposta: emocionar, celebrar a diferença e reafirmar o poder da fé (mesmo que esta seja apresentada mais como uma atmosfera do que como uma força dramática real). O público-alvo, especialmente famílias e comunidades religiosas, encontrará no filme uma mensagem reconfortante e personagens fáceis de amar.
Mas para quem busca um retrato mais nu e cru da convivência com o autismo ou das consequências do alcoolismo paterno, “Invencível” pode parecer leve demais, quase como se passasse por cima da complexidade em nome da esperança. Um filme que prefere a luz suave do amanhecer à escuridão da noite — bonito de se ver, mas nem sempre verdadeiro.