Um dos mais conhecidos e prestigiados artista da história nacional, Ney Matogrosso, quebrou paradigmas de uma época de extremo tradicionalismo, e rompeu padrões de gênero através de uma voz única e de um estilo performático irreverente e disruptivo, que chamou a atenção da mídia e dos espectadores.
Homem Com H traz toda essa irreverência que fez do artista um dos grandes performer da música nacional, retratando sem pudor e em um trabalho sensacional de Jesuíta Barbosa, uma merecida cinebiografia desse artista que é Ney.
O filme narra a ascensão e a popularização de Ney como o artista que o conhecemos – delineando o claro impacto que a vivência com um pai militar rígido e impetuoso o transformou em um ícone do entretenimento.

O roteiro escrito pelo também diretor Esmir Filho, retrata vários momentos importantes da vida do artista. Somos convidados a visitar uma infância conturbada em que ele nunca pôde, de fato, ser uma criança – forçado a obedecer cegamente a uma família doutrinada por uma época em que “a moral e os bons costumes” deveriam ser seguidos ao pé da letra, mas recusando-se a dobrar às vontades do pai, Antônio (Rômulo Braga).
Ao ser expulso de casa por não seguir as regras, Ney entra para a Aeronáutica, muda-se para Brasília e ganha destaque ao participar do coral local, migra para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro e, pouco a pouco, transforma esse estilo “nômade” em seu próprio cotidiano – algo que é criticado por terceiros, mas apenas o enche de mais determinação.

Ao longo de duas horas, vivenciamos os momentos de Ney no Secos e Molhados, a carreira solo, sua irreverência diante a censura em plena ditadura,sua relação de amor e amizade com Cazuza, e sua relação com sua mãe, tudo é feito apesar de alguns avanços um tanto rápidos no início, mostra a capacidade e o esmero que o diretor e sua equipe tem pelo artista.
Jesuíta Barbosa simplesmente desaparece interpretando Ney Matogrosso. O ator incorpora os trajeto do artista e com bastante fisicalidade se dedica a simplesmente não copiar Ney, mas em se personificar nele de forma incrível.

A fotografia de Azul Serra e a direção de arte de Thales Junqueira caminham juntas para garantir uma faceta mais introspectiva, que preza por cores melancólicas e planos fechados, afastando-se do escopo épico de espetáculos e shows e transformando cada performance em um arauto de irreverência proposital e de liberdade conquistada por Ney.
Pra finalizar, sem pudor, Homem Com H, emociona e diverte, trazendo uma cinebiografia de qualidade e com um Ney muito bem representado em tela.