Homem-Aranha: Longe de Casa | O melhor Homem-Aranha já feito

Catarina Lopes
8 Min de Leitura

Existe uma regra não dita nos filmes da Marvel: os quadrinhos não importam. Claro que sem eles, não existiriam os filmes, e que os próprios são recheados de referências às HQs para os olhares mais atentos, mas a Marvel nunca tomou decisões tão corajosas com um personagem tão querido quanto agora.

Ainda assim – ou talvez até por isso – Longe de Casa é o melhor filme do Homem-Aranha já feito. Todo respeito ao Sam Raimi, e um pouco de respeito aos filmes do Mark Webb, mas esse filme está confortável o suficiente com o personagem para se afastar dos arcos e conhecidos do personagem.

É uma decisão que faz sentido, já que o Tom Holland é o ator que reprisou seu Peter Parker mais vezes, e uma decisão plantada anos atrás em Homem-Aranha: De Volta Ao Lar, quando a morte do tio Ben foi completamente omitida, não sendo nem claramente citada, assim como a típica cena da picada de aranha.

Divulgação / Sony Pictures

Eles fizeram um filme de origem do herói omitindo dois dos momentos mais importantes do seu nascimento como Homem-Aranha e – olha só! – deu muito certo. Afinal, todo mundo estava meio cansado de assistir esses momentos. E todo mundo amava o novo mentor do Peter, o Tony Stark.

Lição aprendida! Esse filme sabe que pode tomar decisões interessantes com o Peter Parker, e sabe que o público valoriza a relação de Peter e Tony. E, armado com esse conhecimento, vemos Peter tentar se encaixar no vazio deixado por seu mentor, agora completamente idealizado pelo mundo após seu sacrifício para salvar o universo.

Divulgação / Sony Pictures

Mas não é um filme triste, muito pelo contrário. Ele evita completamente os múltiplos clichês associados ao luto, e mostra Peter tentando se manter nas narrativas que conhece: estudante e amigo da vizinhança. Buscando pelo conhecido, pela normalidade.

E o uso de narrativas conhecidas é tratado com inteligência pelo filme, que lida com as formas que a opinião pública pode ser alterada, tanto para glorificar alguém quanto para destruir uma reputação, e quais os efeitos que isso tem sobre uma pessoa.

E a falta que um Tony Stark (ou uma narrativa de um Tony Stark) faz tem efeitos sob todo mundo. Uma boa forma com que o filme expressa isso é visualmente, com vários altares espalhados pelo mundo, mas também com os óculos que Peter herda de Stark, que muitas vezes ficam tortos, grandes demais para o seu rosto de menino, e que são tópico de conversa várias vezes ao longo da história – muita gente decide comentar se os óculos ficam bem ou não no Peter, como comentam se o Homem-Aranha é ou não o novo Homem de Ferro.

Divulgação / Sony Pictures

Tom Holland sabe exatamente o peso que carrega neste papel, agora reforçado por ser quem vai nos guiar pelas consequências do caos e inferno que tomaram conta da Terra no Universo da Marvel nos últimos anos. O jovem atua muito bem, trazendo profundidade para o personagem, nos fazendo empatizar até com suas decisões mais questionáveis.  Assim como o público empatizou com muitas decisões questionáveis do próprio Tony.

E as pequenas conexões do menino com o mentor – a cena do avião, em que Happy resolve deixar isso óbvio, é inspirada – podem ser o divisor de águas desse filme. Muitos fãs do Parker nas HQs vão reclamar da importância do Stark em outro filme solo do herói, completamente entrelaçada com todos os aspectos da história, impossível de relevar.

Mas cabe ao espectador escolher ignorar todos os bons aspectos do filme por causa de uma expectativa frustrada. Esse não é o Peter Parker do Raimi, ou do Webb, ou de qualquer HQ. Esse é um Peter Parker de um universo em que o Tony Stark era o maior herói de todos os tempos, e morreu. O mesmo Tony que resolveu ajudar o Peter a ser um herói melhor que ele. E isso vai estar tão entrelaçado no personagem quanto o DNA da aranha no do menino.

Divulgação / Sony Pictures

E se você resolver que vai ignorar todas as muitas coisas boas desse filme por causa de expectativas não atendidas, você vai perder muita coisa. Começando com o Mysterio do Jake Gyllenhaal, que é intrigante, carismático e extremamente inteligente. Dá pra ver que o ator está se divertindo na pele de Quentin Beck. O elenco de apoio também merece muitos aplausos, já que tem uma química digna de 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você.

Ned e Betty tem um timing cômico absurdo, e a química entre MJ e Peter é muito fofa, assim como todas as confusões – que lembram as boas comédias românticas dos anos 2000 – que dificultam a união do casal.

Divulgação / Sony Pictures

É interessante ver um grupo tão diverso e colorido, finalmente mais conectado com a realidade, já que o Queens é um bairro imenso e multicultural. E a mudança de cenário, já que a Marvel nunca se aventurou por partes tão turísticas da Europa, cria visuais interessantes – mesmo que seja bom finalmente ver esse Homem-Aranha pular de arranha-céu em arranha-céu contra o skyline de Manhattan.

E é fácil de entender a razão do Kevin Feige afirmar que esse é o último filme da fase 3 do MCU, já que esse capítulo ajuda a digerir tudo de bombástico que aconteceu na parte final dessa fase, como um epílogo.

Me lembro que eu cheguei a comentar que não estava pronta para ver esse filme, já que ainda não superei Vingadores: Ultimato, mas esse é o ponto. A Marvel e seus personagens também não. Mas isso não impede a gente de espiar o que vem por aí e, se as cenas pós-crédito desse filme indicam alguma coisa, é que o futuro não tem medo de nos levar à lugares estranhos.

 

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Jornalista em formação e fã de cultura pop por natureza
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