Cinebiografia é um gênero de sucesso no nosso cinema. Tim Maia, Wilson Simonal, Chacrinha entre tantos outros ícones já tiveram suas vidas retratadas na telona.
A cinebiografia de Hebe Camargo, uma das maiores se não a mais icônica apresentadora que nossa televisão jamais terá, vai numa vertente um tanto diferente da formula já batida. Ao invés de contar toda trajetória da artista e longa traz um recorte de um momento de sua carreira e nos traz não só uma emocionante homenagem a Rainha da TV, mas o retrato de uma mulher batalhadora!
O filme viaja ao período entre 85/87, perto do término do regime de exceção da ditadura militar e da reunião da assembleia constituinte para redigir o texto que serviria de base para a democracia contemporânea. Neste período, a ‘mulher incontrolável’, ainda na TV Bandeirantes, enfrentava a censura, que considerava seu programa ao vivo uma ‘tribuna de aliciamento e apologia ao homossexualismo’. Ameaçada regularmente, Hebe, já cansada de ser censurada e explorada, pede demissão da emissora e muda para o SBT, onde lutará contra outra forma de censura, baseada na ameaça feita por parlamentares contra suas posições políticas.
A trama, ainda serve como fio condutor da narrativa, que apesar de ser menor aprofundada do que desejaríamos, tem como sua essência o papel encabeçado pela apresentadora em defesa dos direitos da comunidade LGBT. ‘Qual o problema em ser bicha?’ (sic) questiona-se Hebe inspirada pelos performers com quem dividia palco, colaboradores e ainda pelo filho (Caio Horowicz), cuja homossexualidade é sugerida, apesar de não ser confirmada diretamente. Em paralelo, a narrativa aborda o encerramento do casamento de Hebe com Lélio (Marcos Ricca), por causa do ciúme doentio e violento do marido.
O roteiro escrito por Carolina Kotscho é direto e honesto em sua narrativa e mostra as qualidades de Hebe – e também os seus defeitos -. Isso faz com que o longa mostre todas as facetas dessa mulher que conquistou o país ao bater de frente com o governo, enfrentando os resquícios da censura no país e batendo de frente com alguns preconceitos da época (que infelizmente ainda existem) chegando a ser em alguns momentos, um paralelo com que hoje vivenciamos como a defesa das minorias, a violência domestica e a já mencionada censura voltando as manchetes.
A direção de Mauricio Farias é bastante eficaz em saber conduzir a história que apesar da montagem perdida um pouco nos seus saltos temporais, o ritmo ainda sim, é conduzido bem e auxiliado com a boa fotografia e uma atuação inspirada de Andrea Beltrão no papel principal se faz gostoso de se assistir.
Alias Beltrão é muito competente em encarnar a apresentadora, física e emocionalmente, proporcionando junto ao brilho e glamour em frente à televisão a humanização detrás dela. Mas não dá para elogiá-la e esquecer o impressionante trabalho de Marco Ricca, que torna seu Lélio em uma figura amorosa, quando quer, e patética e violenta, quando consumido por ciúmes. Os dois são os maiores destaque no elenco que retrata outras varias figuras da TV Brasileira.
Hebe: A Estrela do Brasil traz uma figura popular e acima de tudo honesta no seu senso de humanidade, que ganha um retrato tão honesto quanto e bem cuidado o suficiente para estar acima da média. Talvez certas cinebiografias deveriam aprender a retratar suas figuras da mesma forma honesta que a nossa Gracinha ganhou, ein Edir!