Alex Garland não é um diretor de obras simplistas! Dono de trabalhos como Aniquilação, Ex Maquina e Men: Faces do Medo, o diretor e roteirista sempre gostou de fazer a plateia questionar em suas obras do que trazer algo mais comercial e mastigado.
Guerra Civil, seu mais novo trabalho(e muito provavelmente seu ultimo na direção) com a produtora A24 ( de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e também o antigo trabalho do diretor Men: Faces do Medo) traz sua obra mais blockbuster tanto pra ele como pra produtora (o projeto mais caro dela até então) mas não menos visceral e impactante que nos questiona sobre um futuro não tão distante, visto sua temática, além de homenagear o papel do jornalismo e sua importância em trazer informações e como isso tem o poder de influência um certo lado e vice-versa.
A trama acompanha a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas num futuro não tão distante — e não tão improvável. A dupla pretende conseguir a entrevista final com o último presidente dos EUA (Nick Offerman), mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A coisa piora quando Joel, que costuma se deixar levar por impulsos, convida o veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson) e a novata Jessie (Cailee Spaeny) para acompanhá-los, contrariando Lee e adicionando um peso à jornada que pode mudar completamente seu destino.
Ao contrário do que o nome sugere, Civil War (no original) não é exatamente um filme de guerra propriamente dito. Com um contexto minimalista, a direção de Alex Garland é carregada de nuances, algo que pode enganar um espectador desavisado. Tudo aqui está nos detalhes e muitas vezes eles são feitos para criar nossa própria analise do que realmente aconteceu ou o porque dessa tal guerra civil. A narrativa procura não entrar nesses “porques” e entrega algo que tem como foco principal os horrores dos conflitos armados através das lentes e visão do jornalismo imparcial.
Mesmo tendo uma pegada antiguerra e imparcial longe um pouco do viés politico, Garland foge do óbvio que contamina uma grande parte dos filmes desse estilo que trazem discursos com viés emotivos que teimam em alertar o público sobre o terror dos conflitos. Aqui o diretor se beneficia do fato de os personagens serem jornalistas, dando seu recado inteligentemente através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras. Tudo isso é passado pelas lentes e olhares dos personagens de Dunt, Moura e Spaeny, nada que é mostrado aqui poupa o espectador, tudo é cru e visceral que auxiliado por um trabalho de som impactante e um uma fotografia primorosa (chega a ser algo metalinguístico aqui já a foto feita pelos personagens são exibidas na tela pelo diretor de fotografia criando esse paralelo impressionante).
Alias a parte técnica é um show a parte! Da mixagem de som magistral que intercala um som de tiro ensurdecedor ao silêncio mais angustiante possível, temos uma trilha sonora que concilia a tensão e os alívios momentâneos de forma eficaz. O design de produção é outro destaque nos inserindo de forma magnética e visceral nesse futuro crível e seus horrores. Tudo aqui é bem feito e nos traz um forte candidato as premiações técnicas no próximo Oscar.
No campo das atuações, o destaque aqui está no trio de protagonistas: Wagner Moura traz em Joey, um homem relaxado que está ali para mais um dia em meio tudo aquilo, e que conquista o público através do carisma, já Dunt entrega um contraponto sisudo e entorpecido que forma o contraste perfeito com o companheiro. Ela é uma veterana fotojornalista que conhece dos riscos e por isso tem sua cautela com tudo aquilo. No meio de toda a tensão, a jovem Jessie (Cailee Spaeny), aspirante a fotojornalista, que cai de paraquedas para compor a equipe, e vivencia de cara uma realidade da qual não imaginava ser assim. É interessante ver o constaste entre ela e Lee em seu ultimo terço e Spaeny se mostra incrível! Jesse Plemons, tem uma participação curta mas extremante intensa, trazendo um dos diálogos mais emblemáticos de todo filme.
Pra finalizar, me falta palavras para elogiar Guerra Civil! Alex Garland traz uma obra crua, visceral e impactante que com certeza já é uma das melhores experiências cinematográficas do ano. O perfeito equilíbrio de um blockbuster com a qualidade da A24.