Woody Allen é um diretor bem peculiar. Donos de ótimas produções nos anos 70 e 80 como ‘Noivo Neurótico, Noiva Nervosa’ (1977) aos escândalos que tomaram a mídia desde a década de 1990 e voltaram na década de 2010, o diretor é para o bem ou mal da Hollywood, alguém que representa a sétima arte.
Filmado em solo francês, Golpe de Sorte em Paris, é seu novo trabalho, um filme que traz o estilo do diretor em contar uma história, trazendo um humor peculiar do realizador,misturando a ironia para falar sobre o acaso e aleatoriedade da nossa existência.
A trama segue Fanny (Lou de Laâge), uma jovem executiva de leilões casada com Jean (Melvil Poupaud), um empresário de sucesso que aparenta ser o marido perfeito. A vida de Fanny começa a desmoronar quando ela reencontra Alain (Niels Schneider), um antigo colega de escola com quem inicia um breve romance. O charme boêmio de Alain e suas reflexões poéticas fazem Fanny questionar sua vida confortável, mas superficial, ao lado de Jean. Enquanto Fanny se envolve nesse romance, o espectador é levado por uma série de eventos que culminam em um crime envolvendo o trio.
O longa segue o estilo tradicional de contar história de Allen, com diálogos ágeis e uma trilha sonora jazzística que permeia toda a narrativa. Já conhecido por ter interesse em questões filosóficas, o diretor aqui explora a ideia de que a vida é um jogo de sorte, ao levantar questões sobre destino e até onde os personagens estão dispostos a ir para preservar ou destruir suas vidas. A perspectiva de aleatoriedade, aqui apresentada por ele, transporta o espectador para situações adversas que vão acontecendo no longa. É interessante como o filme começa como uma simples comédia romântica e vai indo para um drama e mergulhando em um suspense com certos traços de ironia e um desfecho que apesar de um pouco apressado, surpreende.
Lou de Laâge traz uma combinação de vulnerabilidade e força ao seu papel, enquanto Melvil Poupaud entrega uma performance inquietante e perturbadora como Jean, o marido que, por trás de sua fachada amorosa, esconde ciúmes e frieza calculada. A atuação de Valérie Lemercier como Camille, a mãe de Fanny, também se destaca, proporcionando momentos leves e cômicos que equilibram o drama. A atuação de Niels Schneider como Alain Aubert é destacada pela sua combinação de charme e sutileza.
A direção de Allen continua habilidosa e harmoniosa. Junto com a fotografia de Vittorio Storaro, o diretor apresenta uma Paris com uma beleza que é ao mesmo tempo encantadora e ameaçadora.
Golpe de Sorte em Paris pode não ser a obra mais ousada dos últimos tempos como Match Point, por exemplo, mas é um filme que mostra sua habilidade em contar histórias de maneira elegante e envolvente ao levantar boas questões para se refletir após a sessão, e claro dar boas risadas com o desfecho.