Aos 86 anos, Ridley Scott não parece satisfeito em parar. O diretor de clássicos como Blade Runner, Alien: O Oitavo Passageiro, Gladiador entre tantos outros, segue lançando trabalho e mais trabalhos principalmente nas ultimas duas décadas.
É verdade que nem tudo tem o mesmo potencial de um próprio Gladiador, mas quando o veterano realizador acerta sai por exemplo um O Ultimo Duelo, só para exemplificar nos últimos anos.
Ao anunciar que iria realizar uma sequencia de Gladiador, muito se falava se era necessário revisitar um filme tão único na filmografia do diretor. Mas como está na moda em Hollywood trazer clássicos depois de muitos anos para ganhar uma sequencia, a ideia de expandir a Roma antiga de Maximus e cia e entregar um épico nos moldes do cinema atual não soa em nenhum momento surpreendente.
Gladiador 2 apesar de não ser a sequencia que queríamos, entrega um épico grandioso e no melhor jeito pop de fazer isso e bem compreendido por Scott.
Ambientado décadas após a jornada de Maximus (Russell Crowe), Gladiador 2 mostra que Roma voltou para uma época de barbárie e corrupção. Afastado de sua mãe, uma versão crescida de Lucius (Paul Mescal) assume outra identidade e tem uma vida pacífica ao lado da esposa em Namídia, mas se torna prisioneiro quando sua terra é conquistada pelo exército do general romano, Acacius (Pedro Pascal).
Logo, o protagonista aceita uma proposta do ex-escravo e comprador Macrinus (Denzel Washington): ser um gladiador em busca de liberdade e vingança contra o general. Por outro lado, Acacius trabalha de forma relutante para os gananciosos imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), mas apoia um plano secreto de Lucilia (Connie Nielsen) para tentar restaurar a ordem em Roma. Só que tudo pode mudar no Coliseu quando a verdadeira identidade de Lucius for revelada.
O roteiro escrito por David Scarpa (de Napoleão) apesar de prestar homenagens ao filme anterior, compreende que não pode repetir os arqueotipos dele e sabiamente o roteirista e Scott divide em Lucius (Paul Mescal) e Acacius (Pedro Pascal) as virtudes e dilemas de Maximus. O primeiro é afetado pela implacabilidade do Império Romano, por quem nutre o rancor mostrado nos encontros com Lucilla (Connie Nielsen), a irmã do ex-imperador. Já o segundo, é um general e comandante, que se frustra ao lutar por uma sociedade que só pensa na conquista e não em quem a move. Colocar Lucius e Acacius em “lados opostos” das batalhas também dá um ar interessante para o filme. Gladiador 2 muda a narrativa para abordar um visual mais decadente dessa Roma problemática.
O diretor volta aos comentários sarcásticos sobre corporações e impérios, tudo isso para mostrar o embate entre os conceitos de poder e ideal, vingança e dever e lealdade e rebeldia de seus novos personagens inseridos na tragédia desta Nova Roma. As vezes parece aquele dramalhão epico? Sim! Mas Scott sabe disso e entende que ao contrario do seu antecessor, esse aqui precisa ser mais pop por assim dizer, então sem perder tempo, ele sem focar tanto em precisão histórica entrega o pão e circo que a plateia deseja. Temos guerras, um rinoceronte, tubarões no Coliseu e sangue para todo lado. Um prato cheio pra quem deseja grandiosas cenas épicas.
Scott mostra em cada cena que fez valer o gigantesco orçamento da produção (pouco mais de U$ 300 milhões). A Roma apesar de não ser a gloriosa do filme antecessor traz um belo contraste social nela. Se no Coliseu ela é exuberante, nos seus arredores ela é suja e degradada, diante do que seus governantes deixam a população. As batalhas tanto na arena quanto as foras delas, sabe bem explorar a mescla de cenários reais com CGi muito bem. A escala se torna incrível ainda mais com o diretor em entrevista falando que realizou isso tudo em 51 dias (sem contar a greve dos atores e roteiristas).
Paul Mescal em seu primeiro projeto de grande orçamento entrega um bom trabalho, principalmente no aspecto físico, entregando um verdadeiro gladiador. Contudo seu personagem falta um tom grave ou mais dramático para seu personagem. E quando o roteiro faz menções dele com os feitos de Maximus, é quase uma sacanagem porque a comparação fica um tanto desleal, mas não é culpa do ator.
Pedro Pascal entrega mais um senhor habilidoso em guerras que tem arrependimentos, porém ainda se destaca de forma bem interessante, trazendo mais gravidade para a história ao apresentar o outro ponto de vista sobre os “jogos” do Coliseu e a guerra criada por Roma. Joseph Quinn (queridinho de Stranger Things) e Fred Hechinger (franquia Rua do Medo) formam uma dupla interessante de opostos bem caóticos e alegóricos como os imperadores.
Porém quem rouba a cena é Denzel Washington, que certamente parece se divertir muito ao interpretar Macrinus. O personagem consegue ser um brutal estrategista que almeja o poder de Roma, ao mesmo tempo que faz um brinde sorridente ao seu lado, como se fosse seu melhor amigo. Esse jeito quase dúbio do personagem cabe perfeitamente no talento do artista e lembra até o Alonzo, de Dia de Treinamento, vestindo a fantasia dourada romana, sendo sarcastico e jogando como parte de um sistema corrupto e sem escrúpulos.
Pra finalizar, com Gladiador 2, Ridley Scott entrega um épico pop e grandioso de um de seus maiores projetos. Realmente precisava? Não! Mas é inegável que traz um espetáculo capaz de entreter e valer a ida ao cinema, cumprindo e entregando o que promete com muitas batalhas sangrentas e intrigas politicas na Roma Antiga.