George Miller e Mad Max é algo que não se pode explicar de forma simples! O diretor de 79 anos, trouxe a 45 anos um filme de ação com um custo de um salgado e um refri, mas como muito esmero e ali o fez sua carreira desde de então e uma franquia de sucesso.
Há quase 10 anos, Estrada da Fúria (2015) o quarto filme dela estreava e se tornava um dos melhores filmes de ação feito na sua década. Furiosa que estreia nesta quinta-feira (23) é a prequel da história apresentada em Estrada da Fúria, mostrando a origem e as motivações da personagem lá vivida por Charlize Theron, agora interpretada por Anya Taylor-Joy neste universo insano, frenético e nem por isso complexo que Miller criou e que não existe melhor condutor que ele pra nos inserir novamente.
Inicialmente, Furiosa seria filmado juntamente com Estrada da Fúria na época, mas por questões de orçamento inflado que o projeto com Tom Hardy e Charlize Theron teve, a idéia teve que ser adiada. E a demora ainda ampliou porque em 2016, a produtora de Miller processou a Warner Bros por causa de problemas na divisão de lucros do filme. Só em 2019 que então sim Furiosa pode ganhar sinal verde, e em 2020 sua produção começou as filmagens terminando 2021 devido a pandemia.
A trama como eu disse acima, se passa antes da personagem conhecer Max no longa de 2015 seguindo uma jovem Furiosa (Anya Taylor-Joy), sequestrada de seu lar, o Lugar Verde de Muitas Mães, por uma grande horda de motoqueiros liderada pelo senhor da guerra Dementus (Chris Hemsworth). Cruzando Wasteland, eles alcançam a Cidadela, dominada pelo Immortan Joe (Lachy Hulme). Enquanto os dois tiranos disputam o domínio, Furiosa se vê envolvida em uma batalha incessante para retornar ao seu lar.
Narrado por capítulos, Furiosa é assertivo por trazer em sua essência toda a bagagem de sua franquia inserida aqui, mas também trazendo e ampliando novos elementos a esse universo de forma única que só Miller tem noção absurda do que está trazendo.
Ao contrário do se pensaram , Miller não está disposto a realizar apenas mais uma sequência ou fazer algo semelhante, ele aqui exercita mais uma vez sua visão ímpar em texto e imagem, para criar outra obra de ação que ao mesmo tempo que se diferencia de Estrada da Fúria cria conexões o bastante para ser parte daquele universo inigualável.
Com isso, o longa carrega um início mais lento, menos cenas de ação (mas nem de longe menos intensas) e um terceiro ato com o acelerador menos frenético que seu antecessor.
Isso é um problema e o filme não é melhor que Estrada da Fúria? Não me levem a mal, afinal Miller não deixa para trás sua excelência em capturar cenas de ação que nos impedem de tirar o olho da tela, apenas concede um espaço maior para que a trama guiada primeiro por Alyla Browne (a jovem Furiosa) e posteriormente por Anya Taylor-Joy se desenvolva como uma narrativa épica de vingança típica dos moldes mais convencionais de Hollywood. Isso é ruim? Não, porque assim como sua franquia, visto em muitos outros exemplares, a simplicidade da estrutura do roteiro, traz boas complexidades que Miller sempre colocou, como a degradação da sociedade em meio ao caos apocalíptico estão aqui presentes e o diretor sabe e combinando sua mid-scene precisa expande esse universo( e não apresenta as coisas por serem bacana como um tal Snyder rsrsrs).
Essas mudanças talvez não vai capturar de primeira os corações que se apaixonaram pela eloquência frenética da produção de 2015, mas a atuação brutal de Taylor-Joy e Chris Hemsworth como lados opostos de uma mesma moeda apocalíptica e desesperada traz de volta um cinema visceral não muito visto no mercado popular ultimamente.
Por usar a computação gráfica com mais vontade aqui, alguns momentos a tela verde é perceptível e incomoda, muito dessa incomodação se dá por causa dos efeitos práticos de outrora não serem sua maior constância aqui. Mas ainda sim é latente a sensação de estar dentro do deserto, sujo como os personagens e inebriado pela loucura que paira em cada cenário. Novos cenários que foram pincelados em Estrada da Fúria, são apresentados de forma crível pelo design de produção.
A fotografia de Simon Duggan aqui por muitas vezes emula o que foi feito em 2015, e mesmo que sem a maestria de John Seale ( que se aposentou após Estrada da Fúria) se sai bem em representar o caos e deserto.
Já na parte das atuações, o destaque está claro na Anya Taylor-Joy e Chris Hemsworth. Taylor-Joy com poucas palavras e muita expressividade molda uma personagem de forma envolvente para lentamente explodir ao olhar do telespectador. É possível ver que a essência da personagem popularizada por Theron está presente, mas tanto a jovem Browne que faz a Furiosa jovem quanto a atriz acrescentam uma profundidade que, embora não exatamente necessária para compreender a versão de Theron.
Já Hemsworth, sai um pouco da sua zona de conforto e traz um vilão que apesar de caricato ( como muitos da franquia Mad Max) se impõe como um cidadão difícil de decifrar, mas simples de acompanhar devido sua eloquência, fragilidade e trocas constantes de figurino, que o tornam uma espécie de antagonista de quadrinhos clássicos.
Pra finalizar, Furiosa: Uma Saga Mad Max, Miller traz uma releitura da clássica história de vingança para dá profundidade a sua protagonista, enquanto expande a franquia abordando humanidade, sacrifícios e legado em meio ao um mundo apocalíptico e de pouca esperança.