Grande parte dos filmes de Guilhermo del Toro são uma mistura da fofura da Disney com a perversão do Tarantino. A paixão por criaturas e monstros se tornou sua marca registrada ao longo da carreira, assim como seu gosto por ficção fantástica. E A Forma da Água é o mais novo exemplar de tudo que seu diretor mais gosta.
A história se passa na década de 60, em plena Guerra Fria, e Elisa (Sally Hawkins), uma zeladora muda de um laboratório de pesquisa do exército americano, passa os dias em uma singela rotina: acordar, levar o café da manhã para seu vizinho, Giles (Richard Jenkins), ir para o trabalho, chegar quase em cima da hora, passar o dia ouvindo a sua colega de trabalho, Zelda (Octavia Spencer), falando do marido e então voltar para casa. Até que um novo “objeto de análise” chega ao laboratório.
A Forma da Água trabalha com clichês em seu roteiro e já sabemos que isso não é uma coisa necessariamente ruim, principalmente se for bem trabalhado. A medida que o filme vai contando sua história, você deduz facilmente os acontecimentos básicos da trama, porém a beleza está em como fazer esse ‘básico’ acontecer.
Sabemos que a Elisa irá se apaixonar pelas Criatura Anfíbio (Doug Jones), assim como sabemos que o responsável pelo destino da Criatura, Strickland (Michael Shannon), vai demorar para descobrir quem está por trás dos planos e também que vai ser meio impossível não amar a amizade entre Eliza e seu vizinho Giles. São nuances clichês de um roteiro e sabemos como funciona, mas durante toda a história somos facilmente pegos de surpresas com diversas cenas.
A melhor definição para esse novo longa do del Toro seria bonito. É um filme muito bonito. Com uma encantadora trilha sonora, com personagens que, dentro das duas horas de história, são apresentados tão bem para quem assiste, que a empatia por pelo menos metade deles é certa. Assim como a sutil projeção das personalidades dos personagens humanos em cima da Criatura.
Todos que constroem uma mínima ligação com a Criatura, veem nela algo de se mesmos e isso é simplesmente incrível de ver acontecer. Seja a solidão de Giles, a monstruosidade de Strickland ou o silêncio de Elisa. Toda a história – seu começo, meio e fim -, funciona muito bem com um conto ou uma fábula.
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Os atores caíram como uma luva em seus papeis. Apesar da sensação de talento desperdiçado com uma atriz do calibre de Octavia Spencer em um papel tão pequeno, Sally Hawkins é um destaque no filme. Sua atuação com uma mulher incapaz de falar é tão fascinante quanto a personagem em si.
A Forma da Água é aquele tipo de filme que mistura monstros e contos de fada. Drama e ação. Sapateado e sexo inter-espécie. Talvez ele tenha seu lado exótico, ainda que até esse lado, de certa forma, encantador e a chance de você se apaixonar é bem grande.