Euphoria | Skins para Gen Zs

Catarina Lopes
9 Min de Leitura
Reprodução/IMDb

Desde que adolescentes passaram a ser percebidos como um público diferenciado – algo entre crianças e adultos – e, consequentemente, um mercado, existe um conteúdo que é marcante para aquela geração. Algo que, pela primeira vez, representou e validou as preocupações específicas de cada geração.

Os anos 80 tiveram os filmes do John Hughes, que foram precursores em entender e utilizar no roteiro as preocupações dos adolescentes daquela época. Já os anos 90 tiveram Buffy, A Caça Vampiros, e outras sitcoms que, talvez pela época tranquila politicamente, misturavam fantasia com problemas reais. Os anos 2000 tiveram Skins, que pela primeira vez ilustrava problemas específicos de minorias, como negros e LGBTs. Mas essa geração, a Gen Z, após a mistura esquisita de fantasia e soft porn que virou Riverdale, conseguiu seu conteúdo voice of a generation em Euphoria, da HBO.

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Euphoria mostra uma geração que já está acostumada com as fábulas dos millennials, e já encontrou um jeito de lidar com elas. É um alívio poder dar tchau para os clichês que importunavam séries adolescentes de TV na última década. Uma jovem que conscientemente vai em encontros sexuais com homens mais velhos que ela encontrou na internet; a normalização das nudes; um casal lésbico cujo o plot não é o choque das personagens de se sentirem atraídas uma pela outra; uma personagem trans que não vive em crise a respeito de sua identidade de gênero.

Assim, a série pode focar não em repetir os clichês de uma geração que já não é adolescente há quase 10 anos, e sim em conquistar um novo público que nunca teve suas preocupações validadas na TV. E muito bem validadas – a série é incrivelmente bem feita nos aspectos técnicos, capaz de conquistar o espectador só pelo espetáculo visual.

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Uma produção da queridinha indie A24, junto com o Drake e a HBO, Euphoria tem uma estética própria que ficou instantaneamente reconhecível. Apesar do recurso da narração em off não ser novo e nem tão interessante, nos lembra que, mesmo numa série cheia de personagens bem construídos – sendo cada um deles foco de um episódio – a nossa protagonista é a Rue, personagem da Zendaya. Sua narração também ajuda a “colar” todas as tramas atuais com a história pessoal do personagem da semana, dando ritmo à narrativa.

E Zendaya é grande parte do apelo comercial da série, única atriz conhecida em meio ao mar de jovens de 20 anos – que, felizmente, parecem adolescentes! – desconhecidos ao grande público. Muitos deles estão atuando pela primeira vez, como a Hunter Schafer, a Jules, que promete ser icônica para os Gen Zs em seu estilo como a Effy foi para os millennials.

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Outros têm títulos um pouco mais conhecidos para quem acompanha streamings, como Jacob Elordi, de A Barraca Do Beijo, que dá um show de atuação completamente inesperado de um estreante de comédias românticas. Nate é absolutamente odiável, mas você entende suas motivações completamente a narrativa inteira, e sua cena final é aterrorizante, horrível e espetacular. É um concorrente forte ao Emmy e Globo de Ouro no ano que vem, assim como Zendaya.

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A série também conta com a brasileira Barbie Ferreira, que faz Kat, uma jovem gorda e insegura que, pela primeira vez, não passa por um makeover emagrecendo, ficando desumilde e aí aprendendo a balancear sua nova beleza encontrada na magreza com sua humildade original. Kat descobre como recuperar sua sexualidade, e nela encontrar autoestima e aceitação. Ela passa sim por uma mudança visual, mas não emagrece – sua mudança visual é causada pela absoluta confiança que ela ganha em seu corpo, e tem um dos monólogos mais marcantes da série.

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E Euphoria também é absolutamente icônica na forma que veste e maquia seus personagens. A geração anterior era obcecada com esfumados elaborados nos olhos e cabelos meticulosamente alisados? Aqui temos a maquiagem como forma de expressão criativa, usando sombras e pedras em pontos diferentes, com peles naturais e cabelos de diversas texturas e cores. As maquiadoras, Doniella Davy e Kirin Rider, viraram sensações no Instagram, onde postam closes e o processo criativo por trás de cada look.

As roupas também são icônicas e parte integral da história, com os looks de Jules, Maddy e Kat inspirando diversas contas em redes sociais dedicadas a achar as peças exatas, uma mistura interessante de tendências de modelos do Instagram com novidades interessantes que ajudam a contar a história, como o moletom vermelho da Rue.

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Mas se eu só estou elogiando a série faz parágrafos, porquê ela não tem a nota máxima? Bem, algumas partes da narrativa não estão à altura da série. Não existe muito bem um arco para alguns personagens, que começam se questionando e terminam se questionando, como a Jules, que não tem certeza sobre onde ela está no espectro hétero-homo e nem no poligâmico-monogâmico, ficando cada vez mais confusa à medida que os episódios passam, sem nem a ideia de uma conclusão do arco num futuro próximo.

Maddy também não tem um arco muito conclusivo. Ela começa a questionar seu relacionamento, e aprende que ele não faz bem para ela, mas não consegue evitar voltar para quem maltrata ela no último episódio. Eles estavam se despedindo ou voltando? Vamos ter que esperar a segunda temporada para ver se esse arco vai para algum lugar.

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Na verdade, esse é o caso de boa parte dos personagens, pois estavam indo muito bem até o último episódio, que parece ter sido elaborado com a certeza de que uma segunda temporada viria. McKay nem está presente no último episódio, mas sua namorada, Cassie, tem um arco concluído. Ela e Kat são as únicas com uma história com início, meio e fim nessa temporada.

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O último episódio planta muitos mistérios de forma pouco natural, o que enfraquece um pouco a série. Ninguém nem tem certeza do que aconteceu com a personagem principal, já que seu final é completamente aberto para interpretação, o que complica a avaliação se ela teve um arco completo nessa temporada.

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Mas ainda assim, Euphoria é única em sua representação realista de uma geração que, assim como o autor, não tem todas as respostas, mas faz perguntas muito boas. Ela também trata com sensibilidade tópicos difíceis, algo que séries como 13 Reasons Why nem sonham em fazer. E, no geral, é uma experiência interessante para todos os públicos – seja para ver suas ansiedades representadas lindamente na tela ou para entender essa nova geração de sexualidade fluida e roupas interessantes.

Euphoria já está renovada para 2 temporada, ainda sem data de estreia. Todos os episódios estão disponíveis no HBO Go

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Jornalista em formação e fã de cultura pop por natureza
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