Eternos | Épico e contemplativo, longa de Chloé Zhao traz o MCU para fora da zona de conforto

Danilo de Oliveira
9 Min de Leitura
Marvel Studios/Reprodução

A tal “formula Marvel” tanto discutida inúmeras vezes(já até mencionei na crítica de Shang-Chi) sempre vêm a tona a cada lançamento de um novo longa do MCU. Depois de 13 anos, Eternos parece que chega para dizer que pode haver uma quebrar nessa estrutura narrativa há tanto para alguns desgastada. O longa da atual vencedora do Oscar Chloé Zhao apesar de não se desfazer totalmente da identidade do estúdio, ao menos se mostra o projeto mais autoral, complexo e diferente já realizado, além de vislumbrar uma nova era de possibilidades para o MCU.

Durante as quase 3 horas de filme conhecemos os Eternos, a equipe mitológica composta por Ikaris (Ricard Madden), Sersi (Gemma Chan), Kingo (Kumail Nanjiani), Makkari (Lauren Ridloff), Phastos (Brian Tyree Henry), Ajak (Salma Hayek), Sprite/Duende (Lia McHugh), Gilgamesh (Don Lee), Druig (Barry Keoghan) e Thena (Angelina Jolie) regidos pela fé em seu criador Arishem, um dos celestiais que foram trazidos a terra para a defende-la dos Deviantes – predadores que estão em nosso planeta para destruir outros seres.

Marvel Studios/Reprodução

O roteiro escrito por Zhao, Patrick Burleigh e Ryan Firpo usa uma trama não linear viajando por grandes eventos que aconteceram na Terra em 7 mil anos para explicar cada um dos personagens. Com isso, Eternos é quase que filosófico em sua narrativa, desenvolve os personagens e suas personalidades de acordo com a sua vivência na terra, seja por experiências boas, ruins ou o efeito que a omissão de suas ações causam ao longo dos séculos. O longa corajosamente abraça a ideia de questões filosóficas, de debates pessoais com consequências para toda a sociedade. As decisões destes seres têm peso, e Zhao deixa isso claro. A humanidade é merecedora de salvação? Ou somos apenas animais violentos? Essa é nossa verdadeira natureza, ou somos apenas assim porque os Eternos não interferem no curso de nossa sociedade?

Esses debates são levantados em nível macro através de relacionamentos pessoais em conversas e interações. Cada Eterno tem sua forma de interagir, seja o amor e o carinho da Sersi e o bravo Ikaris, seja nas discursões entre Phastos e Druig sobre o destino das guerras. A missão deles é guiar e florescer a humanidade, além de protegê-la dos monstros Deviantes. Mas pra qual finalidade? Sem entrar na zona de spoilers, é nesse ponto que as amarras para o que o enredo usasse a facilitação da não interferência dos personagens nos eventos passados se mostra bem feita, já que ela se mantem com o bom e complexo texto que o longa traz.

É admirável como Zhao e a Marvel não diluem nada esse texto e suas questões mostrando em Eternos a produção mais madura do estúdio e por isso, corajosa. O ritmo não tem pressa em desenvolver os personagens e e sua trama, tendo um primeiro e quase metade de seu segundo ato contemplativo e bem candeciado, trazendo cenas de ação bem pontuais, e bem elaboradas. Alias por esse lado mais contemplativo e autoral de sua realizadora, a produção acaba sendo menos um filme de super-herói mais tradicional e trazendo um algo mais sci-fi com personagens e elementos fantasiosos, o que pode acabar sendo um fator divisivo para alguns espectadores.

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Outro ponto para se levantar é que Eternos, assim como já foi até um pouco abordado em Pantera Negra por exemplo é trazer uma linha tênue entre vilões e heróis que soa quase inexistente e isso é reforçado com os debates entre os personagens, fato possível, claro graças a seu texto discursivo e mantido corajosamente pelo seu realizador e produtores.

Até as piadas e momentos engraçados costumeiros da identidade das produções do MCU, estão presentes, mas são incrivelmente pontuais aqui, entrando no momento que realmente se faz para tais.

Uma outra coisa que deve ser trazida aqui em conta, é que inevitalidade de não comparar Eternos com a Liga da Justiça, seja na temática “Deuses entre Nós” ou até na características de algumas de seus membros, e como a própria casa de ideias tem ciência disso e brinca em inserir inúmeras referências do universo da rival no longa, mostrando que essa treta só está do lado dos fanboy das editoras. O longa também se mostra corajoso a mostrar um casal homoafetivo sem esconder sua sexualidade e ainda colocar um beijo carinhoso em destaque. Pode ser bobo para alguns, mas é uma representatividade enorme, principalmente por ser um personagem de relevância para a trama em um filme dessa magnitude e que se encaixa organicamente. Destaque também para a primeira cena de sexo em um filme do estúdio, que apesar de curta, bonita.

Marvel Studios/Reprodução

Por haver DEZ personagens é fato que alguns tem mais tempo de tela que outros, mas cada um tem suas características bem definida, o que faz com que cada espectador abrace o seu favorito. O Kumail Nanjiani com seu Kingo, é super divertido e cativante. Don Lee vive o poderoso Gilgamesh e se tornaram os meus favoritos. Temos também a fofa  Lauren Ridloff como a super-rápida Makkari, a primeira heroína surda (mais um ponto para a inclusão do filme),  Lia McHugh como a eterna jovem de velha alma Sprite, que por viver no corpo de uma criança possui um grande dilema eterno (ótimo por sinal);Brian Tyree Henry como o inventor inteligente Phastos, no arco narrativo mais sentimental do filme; Angelina Jolie como a feroz guerreira Thena, que tem um arco bem interessante, apesar de não tanto explorado, mas que na ação justifica bem sua personagem.

Barry Keoghan interpreta o indiferente e solitário Druig; Richard Madden vive o todo-poderoso Ikaris,  Salma Hayek é a sábia e espiritual líder Ajak, Gemma Chan está bem como a amante da humanidade Sersi, sendo a grande protagonista do longa. O filme ainda tem Kit Harrigton, o Jon Snow de GOT vivendo Dane Whitman, que terá mais relevância no futuro do MCU.

Na parte técnica, assim como eu falei na crítica de Duna, Eternos é idem! A fotografia de Ben Davis é magnifica e traz todo aquele clima épico e contemplativo que a produção merece. A trilha sonora do Ramin Djawadi ( compositor de GOT e também do primeiro Homem de Ferro) auxilia perfeitamente em passar essa grandiosidade, assim como a calmaria de certos momentos. As cenas de ação apesar de pontuais no inicio e não trazer um algo memorável, em seu terceiro ato frenético entrega bem a escala que a produção se propõe juntamente com o CGi bem trabalhado. Alias graças a Zhao aqui as tradicionais telas verdes são quase nulas se tendo cenários e sets reais.

Para encerrar, Eternos um filme corajosíssimo em explorar um ponto fora da zona de conforto da Marvel, sem medo de ser mais adulto, por muitas vezes mais sério, complexo e dramático, e definitivamente mais inclusivo. Talvez essa novidade grandiosa seja um choque para alguns já que seu texto não é tão facilmente digerível quanto outras produções da empresa, mas o fato é que Eternos é diferente ao ponto de nos mostrar um novo potencial na MCU com uma experiência grandiosa que vislumbra e prova que ainda há para se explorar no gênero, principalmente para aqueles que prezam por criatividade do estúdio. Um colírio de novidades.

*Não saia da sala antes dos créditos acabarem porque como toda produção da Marvel há DUAS cenas contidas nelas e que dão pistas para o futuro do universo nos cinemas.

 

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