Lançado em 2008, Estômago se tornou uma das melhores produções nacionais já realizadas desde a retomada. Trazendo o personagem Raimundo Nonato(vivido pelo excepcional João Miguel) e sua relação com a comida que unia de forma sensacional reflexão social, econômica e psicológica com um um humor acido e um valor de entretenimento sem igual, o longa foi um exito.
Quinze anos depois entrando na onda de continuações, remakes, spin-offs entre outros “reaproveitamentos” de histórias e personagens já conhecidos, Estômago 2: O Poderoso Chef, até pode parecer algo surpreendente de primeiro momento, mas não absurda, visto que assim como o cinema de fora, o nacional também está explorando essa volta de produções e personagens bem sucedidas para entregar as plateias novas historias já conhecidas.
Na sequencia voltamos à penitenciária onde Raimundo, conhecido como Alecrim, havia sido preso no primeiro filme. Etcetera (Paulo Miklos) ainda está por lá e é o chefão entre os criminosos, mas a chegada de uma nova figura vem para abalar a hierarquia do poder: o mafioso italiano Don Caroglio (Nicola Siri) entra na disputa pelo poder e, assim como Alecrim, tem uma habilidade especial: é um grande cozinheiro.
Apesar da história se manter narrada pelo Alecrim e continuar seu momento na penitenciaria, sendo uma figura que conquistou os detentos e os funcionários pela barriga com suas habilidades, o personagem meio que se torna um coadjuvante em seu proprio filme, dando o verdadeiro protagonismo para o personagem de Nicola Siri.
Toda a trama do longa gira em torno de Don Caroglio, de sua trajetória de vida e das decisões que toma, o grande foco da trama da sequencia se faz em cima da figura e como o fez se tornar o mafioso que está aprisionado ali. A briga entre o mafioso e Etcetera é o ponto que movimenta a ação e a ligação de Raimundo com essa questão parece frágil.
Fazendo um paralelo, é como se a sequencia fosse um Better Call Saul de um Breaking Bad que foi o original. É uma escolha criativa que pode cutucar alguns apreciadores do longa original, mas, isoladamente, isso não é um problema.
Caroglio com a atuação precisa de Siri, é um ótimo antagonista e não demora a nos convencer de que é um figurão sinistro da máfia – inclusive, parece ser um “vilão” muito mais ameaçador do que o atrapalhado Etcétera, o que dá à dinâmica entre os dois um viés mais cômico. O longa apresenta duas linhas do tempo bem montadas que trazem o passado do antagonista em uma, seu presente momento na cadeia, conhecendo e acolhendo Alecrim em outra.
Temos um “filme de mafia” tecnicamente bem feito que mesmo deslocando seu protagonista convence novamente como reflexão sobre o sistema carcerário e o poder judiciário de forma acida e dessa vez com um humor mais pastelão e escrachado. Para o que não assistiram o primeiro filme, a sequencia vai se fazer muito mais engraçado, pelas situações bem humoradas que são desenroladas pelo personagem de João Miguel. Aliás, vale lembrar que é perfeitamente possível assistir a Estômago 2 sem ter visto o original sem perdas significativas na compreensão geral da história.
Pra finalizar, Estômago 2: O Poderoso Chef traz menos o Alecrim para sua trama, mas ainda sim entrega um ótimo longa que carrega um humor acido e escrachado, boa comida e um pouco de mafia para entreter sua plateia.