“Em Ritmo de Fuga” é um empolgante musical de ação

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

Edgar Wright é um dos diretores autorais mais talentosos dessa geração em Hollywood. Trabalhos como a trilogia do corneto (Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso e Heróis de Ressaca),e Scott Pilgrim Contra o Mundo lapidaram seu estilo artístico tornando algumas delas, acertos gigantescos nos gêneros que o diretor se propôs a abordar ou a satirizar.

Inspirada na musica “Blue Song”, da Mint Royale ,na qual o diretor dirigiu o videoclipe, Em Ritmo de Fuga (Baby Driver), conta as desventuras de Baby (Ansel Elgort, de “A Culpa é das Estrelas“), um jovem motorista de fugas em assaltos a bancos empregado nos “trabalhos” armados pelo estrategista criminoso Doc (Kevin Spacey, de “House of Cards”). Determinado a deixar o mundo do crime e estabelecer uma nova vida com sua namorada Debora (Lily James, de “Cinderela“), Baby é obrigado por Doc a fazer um último roubo, ao lado do instável e violento Bats (Jamie Foxx, de “Django Livre“) e do casal a la “Bonnie e Clyde” Buddy (Jon Hamm, de “Mad Men“) e Darling (Eisa Gonzales, do seriado “Um Drink no Inferno“).

O enredo é construído em meio a sequências frenéticas e extremamente dinâmicas. O filme soa como uma dança excepcionalmente bem ritmada, e seu primeiro ato deixa a intenção de Wright muito clara. A música se move com o filme ou o filme flui como a música. Uma acorde, um bater de porta, uma batucada na lateral do carro, um plano-sequência incrível: você está fisgado. Não existe corte brusco em Baby Driver, a cena anterior prepara para a próxima e assim você segue assistindo, ouvindo, antecipando como vai ser surpreendido no momento a seguir. As transições fluidas usam objetos e recursos diversos, a câmera vai, volta, e estamos em outro lugar — sem nem piscar os olhos. É interessantíssimo notar como o cineasta consegue deixar um simples caminhar à uma cafeteria local tornar-se divertidamente empolgante.

A personalidade calada de Baby, muito bem incorporada por Elgort, argumenta a favor das escolhas musicais, fazendo com que as melodias diegéticas ganhem mais significado do que a contribuição como mero ornamento estético “irado”. A música assume um papel narrativo importantíssimo, quase como o que vemos em Guardiões da Galáxia Vol. 2. E Wright tem talento suficiente para fazer Elgort parecer o  motorista mais habilidoso do mundo. Aliás, ele poderia fazer isso com qualquer um de nós.

Outro ponto positivo do filme é que nenhum coadjuvante é levado a estado de implausibilidade existencial. Bats, por exemplo, transmite muito bem  a figura de alguém movido por impulsos insanos, a beira da loucura psicótica, enquanto Buddy leva sua impulsividade a causas passionais, nunca suficientemente justificáveis. Quando o filme pensa em caminhar para um exagero em si mesmo, a veia cômica de Wright mostra-se extremamente apurada, com muitas referências e gags. O que dizer da confusão hilariante envolvendo as máscaras de Michael Myers?

O segundo ato do filme desacelera para focar na construção do relacionamento entre Baby e Deborah. Contudo, é inegável a ótima condução harmônica de Edgar que novamente alia a trilha sonora a performances corporais bem coreografadas. A química entre os dois personagens é estabelecida logo na cena da lavanderia e, apesar de rápida, funciona perfeitamente.

Por outro lado, o terceiro ato o filme volta a acelerar, mas de uma maneira apressada em boa parte, o que faz algumas decisões do roteiro soarem forçadas e artificiais.

Em Ritmo de Fuga é mais um grande trabalho de Edgar Wright, que se mostra além de ótimo diretor, um excelente contador de historia. Simplesmente este é um dos filmes mais interessantes e originais do ano.

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