Em Pedaços | Um manifesto do diretor Faith Akin contra a xenofobia alemã

Priscila Dórea
3 Min de Leitura

Dirigido por Faith Akin (Goodbye Berlin, 2016), o filme Em Pedaços não esconde sua discussão aberta sobre a ascensão da extrema direita na Alemanha. Se dividindo em três capítulos, ele conta a história de uma mulher que tem o marido (que é turco) e o filho mortos por um casal de supremacistas brancos. Ela então vai atrás da justiça que a justiça de seu país não lhe deu. É fácil se emocionar com o filme, assim como esbravejar no meio da sessão sem pensar duas vezes. O longa é quase um manifesto de seu diretor – que tem descendência turca -, sobre toda a xenofobia que só vem aumentando na Alemanha.

Tudo no filme, assim como diz o seu título, está em pedaços: a protagonista, sua família, o sistema judiciário, a sociedade. Esse filme engana muito bem, porque um plot que parece ser sobre vingança no estilo clássico hollywoodiano, é na verdade sobre como manter a sanidade ao passar pelas fases do luto. Coisa que, Katja Sekerci (Diane Kruger), nossa protagonista, não faz muito bem, não na ordem esperada ao menos.

Seus três capítulos – Família, Justiça e O Mar -, têm começo, meio, fim e uma deixa para o capítulo seguinte. Dos três, talvez o mais difícil seja o segundo que, sendo intencional ou não, é o mais entediante dos três, mas também o com maior carga emocional. As cenas do julgamento se prolongam ao que parece ser o infinito e a sensação que você está assistindo aquilo a alguns dias é bem real. Você acaba mergulhando na frustração e dor de Katja, se tornando quase um espelho do que ela sente durante o filme.

O roteiro, no entanto, esconde muito bem seus segredos. Não é impossível perceber as próximas ações da protagonista se prestar bastante atenção e quando (ou se) esse detalhe no roteiro é descoberto, o nó na garganta é garantido. O filme todo é bastante emocional, mas para além da trama em si, essa carga emocional é tão pesada graças ao poder da atuação de Diane Kruger. Ela está espetacular e essa é, sem dúvida, uma de suas melhores performances. A sensação não é que ela carrega o filme e sim que ela é o filme.

Em Pedaços deixa um amargor na boca quando acaba. Ainda que seja um filme tristemente belo e totalmente emocionante, a mensagem que deixa no fim é dolorosa e até mesmo duvidosa. É daqueles filmes tristes que te deixa um pouco em pedaços quando as luzes se acendem.

Share This Article
Follow:
Jornalista e potterhead para toda eternidade, tem um amor nada secreto por mangás e picos de felicidade com livros em terceira pessoa. Além de colaboradora no Cinesia Geek, é repórter do Grupo A Tarde e coapresentadora do programa REC A Tarde.
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *