Em Hollywood, nunca é dia da mulher

Carol Magalhães
5 Min de Leitura
Cast member Letitia Wright poses for a portrait while promoting the movie "Black Panther" in Beverly Hills, California, U.S., January 30, 2018. Picture taken January 30, 2018. REUTERS/Mario Anzuoni

Time’s Up, #MeToo e outras (como a brasileira #MexeuComUmaMexeuComTodas) são hashtags que surgiram nos últimos tempos como slogans utilizados pelas mulheres contra o assédio e a discriminação na indústria criativa. A grande e supostamente impotente Hollywood, um lugar no qual sonhos se realizam, revelou sua face obscura. Quando os casos de assédio sexual encobertos por anos de silêncio vieram à tona, carreiras de muitos atores e produtores foram destruídas, e tags como aquelas deram o tom para o cinema americano: o tempo do assédio e do machismo acabou. Ou deveria acabar.

Hollywood, como muitas outras indústrias, ainda engatinham em respostas duras a tais crimes. Não basta colocar assediadores na geladeira e esperar o escândalo passar assédio sexual e estupro são violações que devem ir à justiça, e não ser resolvidas (muitas vezes às escuras) dentro das empresas cinematográficas. Principalmente se empresas que por anos silenciaram vítimas e hoje querem “banir” os culpados como forma de promoção pública.

O assédio, porém, é apenas mais um reflexo de uma desigualdade entre homens e mulheres que, é claro, não nasce no cinema, mas se perpetua nele. É por isso que, não, o Dia da Mulher não é um dia de flores. E não, não me refiro às flores reais, que se dão de presente às mulheres no dia 8. Falo das flores do olhar de muita gente, que o vê como um momento para homenagear atrizes, escritoras ou outras artistas por sua beleza ou personagens que são a típica “personagem feminina forte”.

Dia da Mulher é um dia de refletirmos sobre por que mulheres não podem ter, em 2018, segurança dentro de seu próprio espaço de trabalho. Ou ainda, por que ainda temos que lutar mais do que os homens para ter acesso à esses locais. Hoje é um dia de falar em equidade – então, não, postar uma foto da Meryl Streep junto a uma mensagem de “FELIZ DIA DA MULHER!” não faz nada por nós.

No Globo de Ouro 2018, várias atrizes se manisfestaram contra o assédio na indústria e, foram de preto para a premiação.

De todos os longas lançados em 2014 no Brasil, menos de 10% foram dirigidos por mulheres. Entre 2007 e 2016, só 12% dos 100 filmes mais vistos nos  EUA tiveram um elenco igualitário. Esteriótipos e personagens condicionadas à homens não faltam como exemplos. E, curiosamente, somos quem mais consome os próprios filmes que não nos representam.

Hollywood, e todas as indústrias de cinema do mundo, são um espelho da sociedade, ao mesmo tempo em que são um retrato do nosso passado e a imaginação de nossos futuros. Lutar pelo fim da discriminação lá é um exemplo para diversas outras áreas.

O que fazer, então? Bem, tomando para mim as palavras de Frances McDormand em seu discurso de Melhor Atriz no Oscar 2018: “eu tenho duas palavras para vocês hoje, senhoras e senhores: inclusion rider”. Inclusion rider se trata de uma claúsula que atores podem incluir em seus contratos exigindo um certo nível de diversidade nas produções. Para atores de renome, é uma possibilidade na luta pelo fim das desigualdades. Para nós, porém, é complicado deixar de ver os filmes que não têm uma produção igualitária.

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Então, o que devemos fazer é, em primeiro lugar, ter senso crítico para sabermos que mesmo filmes e obras que gostamos muito não são tão diversos e podem, sim, incluir minorias sem perda de qualidade alguma. Além disso, podemos dedicar tempo a apreciar as produções de mulheres, que podem não chegar às grandes distribuidoras. O site Mulher no Cinema tem uma lista interessantíssima de 52 filmes feitos por mulheres, um para cada semana do ano, que pode ser o primeiro passo para conhecermos mais artistas. O IMDB, o maior banco de dados sobre filmes da internet, criou uma categoria chamada F Rating, que classifica filmes considerados “female friendly”.

Além de tudo isso, colocar em primeiro lugar o respeito às diferenças é chave não só para o Dia da Mulher, mas também para pensarmos em um cinema original, interessante, com mil possibilidades. Afinal, a ficção não pode nos levar a outros mundos se não tiver, no mundo real, o background mais diverso possível.

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Caroline Magalhães é estudante de jornalismo, blogueira e leitora ávida. Vira fã das coisas em segundos e tem milhões de crushs que moram em livros, séries ou filmes. No Cinesia, escreve sobre histórias do mundo nerd.
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