Doutor Sono surpreende conciliando as obras de King e Kubrick em um terror eficiente

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura
Doutor Sono/Warner Bros./Divulgução

2019 vai ser lembrado como mais um ano de Stephen King no cinema. Somente esse ano tivemos a nova versão de Cemitério Maldito, o segundo capitulo de It: A Coisa (isso sem contar no filme da Netflix, Campo do Medo, que é um conto junto com seu filho Joe Hills) e pra fechar com chave de ouro, chega Doutor Sono,filme que adapta o livro de 2013 que por sinal é continuação de uma de suas historias mais celebre: O Iluminado.

Para a difícil missão de realizar uma adaptação de uma obra de King e ao mesmo tempo uma continuação de um filme memorável dirigido por Stanley Kubrick (que o escritor não gosta por o realizador fazer inúmeras alterações de sua obra) a escolha de Mike Flanagan (que dirigiu obras interessantes como O Espelho,Jogo Perigoso e é o showrunner de A Maldição da Residência Hill) se faz uma escolha sensata. O cineasta que também assina o roteiro e a edição consegue de forma surpreendente conciliar a obra de King e a de Kubrick de forma eficiente em um longa que tem 151 minutos mas que flui de maneira cadenciada e extraindo o melhor de seu elenco.

Na trama,vemos que Danny Torrance precisa aprender a enfrentar os fantasmas do Overlook, que ainda o perseguem — algo que o faz mergulhar no alcoolismo e, mais tarde, já adulto (Ewan McGregor), o força a buscar ajuda. Quando tudo parece entrar nos eixos, seu caminho cruza com o de Abra Stone (Kyliegh Curran), jovem que, em virtude de seu imenso poder, semelhante ao de Dany, cai na mira do Verdadeiro Nó, grupo liderado por Rose, a Cartola (Rebecca Ferguson), e que se alimenta de iluminados.

Doutor Sono/Warner Bros./Divulgução

O que eu já posso dizer aqui é que Flanagan consegue algo que pra mim era quase que impossível. Ele consegue adaptar em Dono Sono a proeza de unir o universo do livro de King com o do filme de Kubrick de maneira competente, já que como eu disse acima, Kubrick se afastou demais da obra original para fazer seu estilo mais psicológico e amedrontador. Aqui nota o esforço dele em conciliar o filme de 80 mas também ser fiel ao material fonte do livro.

O diretor deixa as cenas andarem de forma cadenciada com um ritmo inicial lento com algumas fragmentações, que exige uma observação de personagem, algo que é quase também uma marca do cineasta. O primeiro ato é mostrando o Danny lidando com seus demônios, o alcoolismo, vícios, a depressão, e sua rotina de forma bem lenta, o que pode como eu disse acima, exigir um pouco mais do publico convencional, mas que não tira o mérito de seu realizador, já que ele constrói esses detalhes de forma que tem a todo o momento, o controle em mãos e sabe passar isso para seu publico que ao embarcar na longa, mas eficiente passagem de tempo se sentirá imerso e tenso a cada momento.

Falando em ser um terror, o filme não é realmente assustador, assim como O Iluminado também não era, já que ele vai para um horror mais psicológico que aqui também flerta com o fantasioso. O longa se utiliza de alguns jumpscares, mas eles nunca são o principal recurso e sim estando mas como algo orgânico na trama, aqui o terror estar no que é sugestivo, que estimula sua imaginação e contemple momentos que pode acontecer a tal personagem e nas suas intenções.

Doutor Sono/Warner Bros./Divulgução

O terceiro ato é um gigantesco fan-service para os adoradores de O Iluminado, com direito a inúmeros easter eggs, referências, aparições surpresas e cenas que te deixarão tenso. É um deleite reviver toda a nostalgia do original, enquanto temos um sopro inovador com uma história que foge totalmente da caixinha e da fórmula dos filmes de suspense que Hollywood tem nos entregado nos últimos anos.

O elenco desempenha um papel importante para todo isso funcionar. O Ewan McGregor entrega bem um Danny adulto quebrado, carregado de traumas, vicios e tentando se encontrar na vida ao mesmo tempo que foge de seu passado e o filme sabe realizar junto com ele esse estudo de personagem. Outro destaque aqui está na Rebecca Ferguson, que sem sombra de duvida entrega uma personagem cheia de camadas, já que você entende o que ela quer e suas motivações a deixam não só uma figura humanizada(apesar de tais coisas) como ameaçadora e interessante em todos os momentos. A Kyliegh Curran também está muito bem e rouba algumas cenas com sua Abra.

Doutor Sono me deixou com um sorriso no rosto ao final de sua sessão. Ele consegue se manter reverente às obras que o moldam, mas também encontra voz própria a fim de oferecer uma narrativa cativante e conduzida com competência pelo seu realizador.Dessa vez King não tem como não assinar embaixo.

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *