Quem não curte um bom suspense policial? A intrincada trama de pistas, o jogo mental, um inimigo comum que nos conecta com os personagens de forma mais visceral, a motivação impressa no primitivismo da sobrevivência humana quando nos vemos ameaçados pela psicopatia de outrem. Não é à toa que a rainha do crime, Agatha Christie, permanece até hoje no imaginário coletivo, nos envaidecendo quando seguimos a trilha deixada por suas palavras e arriscamos palpites sobre o verdadeiro assassino. E é seguindo este estilo que somos apresentados ao segundo livro de Charlie Donlea, publicado pela Faro Editorial. Donlea é o autor do Best-seller “A Garota do Lago” (confira nossa resenha no site), que segue a mesma fórmula ao criar um ambiente absolutamente tenso que nos desafia a todo momento.
- Em capítulo final, “Dança da Escuridão” tem menos terror, mas ganha profundidade no enredo
- Rio Vermelho | Uma perfeita combinação de A Sangue Frio com Making a Murder
“Assim como a promessa que fez a si mesma de que, se uma oportunidade de fuga surgisse, ela a agarraria. dias antes, decidiu que preferia morrer lutando por sua liberdade a seguir como um cordeiro rumo ao matadouro.”
Em “Deixada para Trás” começamos com uma cena angustiante, onde uma garota, Megan, consegue fugir de um bunker onde vinha sendo mantida por um sequestrador. Logo descobrimos que outra garota também foi sequestrada, Nicole Cutty, mas que esta não teve a mesma sorte de Megan e que segue desaparecida. Meses após sua fuga, Megan decide escrever um livro onde narra a sua experiência, buscando superar o trauma por meio de uma escrita terapêutica, enquanto ajuda outras pessoas que passaram pela mesma situação. Porém, a trama se foca em Lívia Cutty, a irmã de Nicole, uma médica legista que dedica-se com afinco, em sua rotina de autópsias, na expectativa de um dia auxiliar à desvendar o caso do desaparecimento de sua irmã caçula. Lívia não consegue lidar com os anos sem respostas e tenta encontrar pistas que a tirem da tormenta de dor na qual se encontra.
A história possui diversos flashbacks onde descobrimos que Megan e Nicole se conheciam e tinham uma relação um pouco conturbada. Ficamos envoltos em pistas soltas tentando conectar as ideias para encontrar uma possibilidade de desvendar, não apenas quem é o sequestrador, mas também a conexão entre os personagens. Donlea se supera nesse segundo livro, mostrando um amadurecimento na escrita em comparação ao livro “A Garota do Lago”, ao criar cenas ricas em sutilezas, com diálogos bem estabelecidos e personagens interessantes. As cenas no necrotério são fascinantes, informativas e imersivas. A história não amorna, sempre se mantendo viva com novos fatos pulando nas páginas. Ficamos presos na teia de conjecturas de Lívia, participando ativamente das pequenas descobertas e movidos pela intensidade das emoções que ela transparece.
Uma excelente história que vai cativar a todos que amam um bom suspense policial e que buscam uma leitura instigante.