Muita coisa apontava para que “Thor – O Mundo Sombrio” fosse a primeira grande derrapada da Marvel Studios. Troca de diretor , descontentamento com o roteiro, cortes de cenas que não agradaram a equipe, tudo rumava para o pior, mas como no truque de Loki (trancharam!)posso dizer: A nova aventura do Deus do trovão não somente é melhor que seu original de 2011 como é a melhor adaptação de Hq de 2013. O diretor Alan Taylor (conhecido por episódios de séries como ”Família Soprano”, “Roma” e “Game of Thrones”) traz o tom exato do personagem nos quadrinhos e a mistura insólita de ficção científica e deuses nórdicos,sem esquecer o humor típico do estudio, alem de uma carga dramática muito forte – talvez a maior de todos os filmes da Marvel no seu MCU(Universo Cinematográfico Marvel).
O roteiro, escrito por Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely (já bastante veteranos com o Universo Marvel, aliás), mostra Thor (Chris Hemsworth) tendo de lidar com as consequências apos “Os Vingadores”. Enquanto o seu irmão adotivo, Loki (Tom Hiddleston), é mantido como prisioneiro nas masmorras de Asgard, o deus do trovão tem a missão de pacificar os Nove Reinos, jogados ao caos sem a proteção dos asgardianos.
Preparando-se para suceder o já cansado Odin (Anthony Hopkins) no trono, Thor tem de encarar um novo inimigo que surge na figura de Malekith (Christopher Eccleston), líder dos Elfos Negros, uma raça antiga derrotada pelo avô de Thor que vê na existência da luz e da vida um erro e busca sua arma suprema, o Éter, acidentalmente encontrado pela amada do herói, a humana Jane Foster (Natalie Portman).
E se no primeiro longa teve gente que sentiu falta de mais ação, agora não há o que reclamar. Elas acontece aos montes, e são combates vigorosos e com efeitos especiais a serviço do filme. Mas o melhor de tudo é que isso não significa dizer que serão intermináveis sequências agitadas,a sempre uma ótima intercalação de gêneros deste do drama ao cômico.Destaques para a invasão a Asgard e o duelo de Thor e Malekith através dos reinos. Já nas seqüências cômicas ,está o sarcasmo de Loki, que não perdoa o patriotismo do Capitão América, Jane e Thor discutindo a relação, com direito a citação de Os Vingadores (2012), e uma impagável participação especial do criador Stan Lee. Literalmente, insana.
O amadurecimento de Thor, de moleque raivoso a herói, é mais explorado e finalmente focado aqui, dando oportunidade para que Chris Hemsworth mostre que não é só músculos e sorrisos, provando o valor de seu personagem de maneira mais séria. A química do ator com o teimoso Odin de Anthony Hopkins engrandece as performances dos dois atores e, ao mesmo tempo, mostra como Thor cresceu desde que nos fora apresentado.
O ponto falho fica no seu romance com Jane Foster, com todo o peso deste vindo apenas do filme anterior, sem grandes evoluções. Natalie Portman tem alguns momentos bonitinhos de “peixe fora d’água”, conhecendo a tecnologia asgardiana e se espantando com os sogros, mas sua personagem não tem o potencial para mostrar seu talento habitual.
Ao contrário de Tom Hiddleston, cujo Loki rouba todas as cenas em que aparece. Em sua primeira metade, o diretor poupa as aparições de Loki ao máximo,preparando para o ato, quando ele surge ao lado de seu irmão heroico,aí o deus da trapaça vem e mostra todo o seu potencial. Hiddleston possui um tom de voz que varia do irônico para o enraivecido de maneira bastante sutil e poderosa, e uma atuação física digno dos melhores atores do cinema mudo. Com ele, a complexidade das motivações e ações de Loki atingem outro patamar, sendo impossível imaginar qualquer outro ator no papel, dificultando até mesmo sentir raiva do príncipe caído, mesmo com todos os seus atos hediondos.
O carisma de Hiddleston é tanto que eclipsa o eficiente Christopher Eccleston como Malekith, que acaba reduzido a um vilão genérico, embora ameaçador. O geralmente intimidante Adewale Akinnuoye-Agbaje tem um breve momento a fazer como Alduin, especialmente após sua transformação no monstruoso Kurse. Rene Russo, como Frigga, finalmente ganha utilidade dramática na franquia, especialmente em suas cenas ao lado de Tom Hiddleston e Anthony Hopkins.
Do lado coadjuvante temos o ótimo Idris Elba e seu Heimdall que fora da família real tem um destaque mais abrangente,enquanto Sif e os Três Guerreiros em seu pouco tempo desempenham funções especificas para o andamento da historia,assim como Kat Dennings e Stellan Skarsgard como Darcy e o Dr. Selvig, que servem na maior parte do tempo como alívios cômicos.
Sem mais, Thor: O Mundo Sombrio vem para deixar comprovado que Homem de Ferro 3 foi só um pequeno deslize da Marvel Studios na criação dos filmes pós-Vingadores para seus heróis. Com ação espetacular e qualidade técnica absolutamente melhor do que o do primeiro filme,a nova empreitada do filho de Asgard mostra como o estudio vai continua sendo por muito tempo “para nossa alegria” a Marvel de sempre.