Depois de uma temporada sem muito alarde, The Leftovers apresenta uma temporada consistente, repleta de simbolismos e perguntas deixadas para o espectadores. Esse é o primeiro grande projeto televisivo de Damon Lindelof, depois do final de Lost. Como um apreciador de Lost e um amante de séries, corri para adiciona-la na minha grade.
A The Leftovers é baseada no romance, de mesmo nome, escrito por Tom Perrotta, que também desenvolve o show ao lado de Lindelof. A primeira temporada seguiu todo o livro de Perrotta, sendo assim, o material apresentado na segunda temporada foi resultado do trabalho dos roteiristas e Perrotta e Lindelof.
O principal triunfo desse segundo ano de foi se arriscar, sair da zona de conforto. A série passou por um grande reboot criativo. Nova abertura, nova estrutura narrativa, novos personagens, nova locação. Logo no primeiro episódio somos surpreendido, ao invés de seguir a história da temporada anterior, o que foi feito apenas no episódio seguinte, a narrativa começa apresentando os novos personagens.
A historia de Kevin Garvey (Justin Theroux) continua na cidade de Jarden, no Texas, onde nenhum sumiço foi registrado no fatídico 14 de outubro no qual 2% da população mundial desapareceu. Kevin, junto com sua filha Jill (Margaret Qualley), sua namorada Nora Durst (Carrie Coon) e um bebê, buscam retomar suas vidas na nova cidade, que ficou conhecida como “Milagre” (Miracle, em inglês). A cidade recebe milhares de visitantes e interessados em habita-la, por isso criou-se um parque histórico para lucrar com o turismo. Quando os Garvey se mudam para o local, eles conhecem a familia Murphy composta pelo bombeiro John (Kevin Carroll), pela esposa Erika (Regina King) e pelos gêmeos Evie (Jasmin Savoy Brown) e Michael (Jovan Adepo), que são os focos centrais do primeiro episódio da temporada.
A série possui uma narrativa mais intimista, o que pode não agradar o grande publico. As histórias são apresentadas de maneira não linear, mesmo assim coerente. Podemos assistir a trajetória de Kevin e não se perder se o próximo episódio acompanhar a historia de Laurie e Tom. É como assistir a um grande filme com vários núcleos que se cruzam inúmeras vezes durante a história.
O que ajuda, também, é a direção de Lindelof. Ele sabe equilibrar perfeitamente a ambientação e as atuação dos atores, o equilíbrio entre o som e o silencio, criando situação de tensão e suspense. Cada detalhe na série é repleto de significado e simbolismo. Os diálogos são um espetáculo a parte, o que fica ainda melhor com as atuações memoráveis do elenco: Justin Theroux, Liv Tyler e Amy Brenneman. Destaque para as atrizes Carrie Coon e Regina King que dividiram os holofotes em “Lens” e deram um show de atuação e Ann Dowd, que inspirou um recurso narrativo só para mantê-la na série.
The Leftovers assumiu-se como uma serie de mistérios e ponto final. Não precisamos entender tudo. Muitas coisas ficaram inexplicadas, mas isso não tirou o tira o mérito da série, pelo contrario, esse é o ponto forte do segundo ano. Lindelof aprendeu com os erros cometidos no primeiro ano. Sem amarras, sem a necessidade de criar ganchos para o que vem a seguir e assim apresentar momentos surpreendentes. A temporada teve seus arcos concisos e fechados de forma satisfatória, de maneira que a season finale poderia servir facilmente como um series finale. Não houve respostas, mas resoluções, o que muitas vezes é mais importante.
Já renovada para sua terceira e última temporada, esse segundo ano de The Leftovers mudou totalmente o status da série. Considerado por muitos críticos (e por mim também) com uma das melhores temporadas de série de 2015, essa segunda temporada expandiu a mitologia, apresentou episódios provocativos e que merecem ser refletidos e analisados, a exemplo do magnifico oitavo episódio, International Assassin. De uma das melhores series que eu assisti em 2014, The Leftovers terminou o ano como uma das mais originais e ousadas que eu vi nos últimos tempos.