Crítica – Sense8 – Especial de Natal

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

Lançada em maio de 2015, Sense8 rapidamente se tornou em umas das melhores séries originais da Netflix. Apresentando no ingredientes personagens carismáticos,importante critica social e um pouco de sci-fi,capturando com perfeição a noção de um mundo conectado que hoje vivemos, focando em seu lado construtivo e humano. A sensação de “estar conectado” a tudo e a todos é o grande mote por trás da concepção das Wachowski e de J. Michael Straczynski.

Pra matar a saudades dos fãs e preparar terreno para segunda temporada prometida para maio de 2017,esse Especial de Natal chega para além de prestigiar a data, dar continuidade em explorar ainda mais os sensate e suas conexões.

Pra isso,esqueçam a trama sci-fi que permeia a série, ainda que ela esteja presente na sub-trama que lida com Will (Brian J. Smith) e Riley (Tuppence Middleton). Sua inserção no especial se dar, certamente, muito mais pela impressão de “continuidade” que ela empresta a quem acompanha a série do que por alguma necessidade obvia. O que realmente importa, porém, é a forma delicada e sofisticada como este telefilme de pouco mais de duas horas entrega uma sensação gostosa de satisfação por fazermos parte de algo maior do que nós mesmos ou do que nossos arredores imediatos. É, em poucas palavras, a condensação dos sentimentos presentes ao longo da primeira temporada que, admito, caminhou perigosamente por caminhos didaticos e exageradamente dramáticos, ainda que tenha resultado em algo especial, realmente desafiador.

O especial de Natal, justamente por não se preocupar com a apresentação dos personagens e com mistérios, vai logo ao ponto – ou aos pontos – e passa a lidar com a vida dos sensate após os eventos do final da temporada. Cada um deles tem seu tempo de tela, ainda que Will e Riley, de um lado, e Lito (Miguel Ángel Silvestre), de outro, tenham mais destaque os demais.

E fazem sentido essas escolhas de Lana Wachowski e Straczynski. Will e Riley, de certa forma, avançam a trama e Lito tem a narrativa imediata mais relevante em termos de comentário social. Ainda que o roteiro carregue no didatismo, ele o faz de maneira inteligente – é particularmente notável a “aula” que Hernando (Alfonso Herrera) dá em um aluno preconceituoso – e, convenhamos, importante nos dias de hoje. Se muitos não entendem ou não querem entender que o que as pessoas sentem e desejam só dizem respeito a elas mesmas, não custa uma abordagem um pouco mais literal, dissecando cada aspecto.

Sense8  é uma série conhecida por mostrar o sexo não como algo sagrado ou tabu, mas como natural e essencialmente belo. Não existe discrição ou puritanismo aqui e o especial de Natal continua nessa veia sem preconceitos, até porque o sexo é inserido organicamente como elemento narrativo (“sexo é vida”, uma forma de conexão entre as pessoas,justamente porque é natural, dos nossos corpos, nossa condição humana, e nossa vida.), ganhando, portanto, sua justificativa.

As demais subtramas são boas, mas não particularmente memoráveis. Sun Bak (Doona Bae) continua confinada na solitária, Wolfgang (Max Riemelt) continua tentando achar seu lugar no mundo, Kala (Tina Desai) continua lidando com suas dúvidas sobre seu casamento e Nomi (Jamie Clayton) – com Amanita (Freema Agyeman) – continua fugindo do FBI. O momento que merece mais destaque é o inicial com Capheus e por uma razão muito simples: Aml Ameen foi substituído por Toby Onwumere no papel. No lugar de simplesmente ignorar a mudança, os roteiristas escreveram uma sequência muito inteligente cheia de meta-linguagem com a fotografia em contraluz mantendo o “novo rosto” do personagem escondido até o grande momento da revelação. Com isso, vê-se muito claramente a importância que é dada a cada ator, já que Onwumere é “reconhecido” dentro da trama como o “novo Capheus”, algo realmente raro de se ver por aí.

O especial de Natal de Sense8, que de Natal só tem mesmo os 25 minutos finais, é um belo presente do Netflix que passa a mensagem certa, no momento certo. União, conexão e tolerância. Querem algo que grita mais essa época do ano do que isso?

 

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