Crítica – Sense8 – 1ºTemporada

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

O que uma DJ islandesa que vive em Londres; um policial de Chicago; um motorista de van de Nairóbi; uma empresária coreana que secretamente compete em vale tudo; um ator mexicano que esconde um segredo; uma farmacêutica indiana; um ladrão de cofres alemão e uma ativista transexual de São Francisco tem em comum? Aparentemente não tem absolutamente nenhuma correlação entre si e Sense8, primeira produção de Andy e Lana Wachowski para a TV, promete unir estas histórias. E consegue muito bem.

Falei antes que os Wachowski tinham criado um monstro para se mesmo com a trilogia Matrix. De lá pra cá foram poucas obras lançadas e quase nenhum sucesso. Mas Sense8 não é pretensioso como A Viagem ou desastroso como O Destino de Jupiter, tornando este o primeiro grande acerto da dupla como roteiristas desde V de Vingança, de 2005.

A trama tem início quando a personagem inominada interpretada por Daryl Hannah (Kill Bill) comete suicídio e aparentemente “ativa” algo em oito pessoas que vivem em 8 diferentes cidades ao redor do mundo. Suas vidas,estão conectadas no que se revela uma misteriosa trama. Essas oito pessoas são sensates, suas vidas estão interligadas. Emoções, segredos e ameaças agora não pertencem mais somente a um deles. Os oito agora partilham disso tudo, como um só. Essa dádiva, entretanto, pode se tornar uma maldição, visto que o “renascimento” desses novos sensates se dá ao fato de uma ameaça poder colocar tudo aquilo o que conhecemos em risco.

 

Cada personagem possui uma história que é logo bem delineada e os episódios conseguem ao mesmo tempo apresentá-las e desenvolvê-las sem jamais perder o ritmo e de forma impressionantemente balanceada. Ainda que possua elementos já conhecidos do público, Sense8 passa a impressão de estarmos vendo algo inédito e diferente, reativando a experiência de assistir a Matrix pela primeira vez. Aqui, contudo, o grande trunfo não são os efeitos visuais, mas sim os recursos narrativos que fazem com que nos importemos com os personagens e seus problemas quase que imediatamente, somada à belíssima diversidade dos temas abordados. Destaque para a trama de Nomi Marks (Jaime Clayton), uma ativista transexual que luta por direitos igualitários enquanto precisa ouvir sua própria mãe chamando-a pelo seu nome de nascença e a da executiva/lutadora Sun (Doona Bae). O começo é bastante promissor.

Não vale a pena adentrar os pormenores de Sense8. Cada diálogo explicativo cabe perfeitamente em seu momento, assim como as histórias de origem de cada um dos protagonistas. Os 12 episódios são preenchidos de forma a não deixar nenhum buraco, assim como também não fica faltando espaço para ninguém. Sense8 pode ser uma das primeiras produções televisivas que realmente se encaixa no molde de um “filme grande”. As 12 horas têm três atos mas, ao mesmo tempo, cada hora individual cumpre sua tarefa de instigação, pede o próximo episódio, mas satisfaz momentaneamente.

Além de borrar a barreira entre filme e TV, Sense8 também cumpre um papel importante no gênero do sobrenatural. Sem deixar os pés no chão, mas sem sair muito da realidade, os Wachowski e J. Michael Straczynski se apoiam no conceito de regras pré-definidas e as seguem até o fim. Não há reviravoltas mirabolantes e complicadas de se estabelecer na narrativa. Tudo faz sentido dentro daquele contexto.

 

Se temos uma coisa negativa mas que não tira nenhum mérito dela seria o fato que o piloto da serie não é nada expositivo, assim como os dois episódios seguintes que poderá afastar muitos espectadores da tela da Netflix à princípio, mas como disse nada que tire seu potencial.

Sense8 é a escolha perfeita para aqueles que procuram uma trama complexa, repleta de mistérios e que dá um nó no cérebro. A falta de respostas logo no início pode incomodar algumas pessoas, mas é nítido que isso foi planejado e que só contribui com a experiência de se assistir à série.Enfim os Wachowski se redimiram e mostraram mais uma vez seus talentos.Que vem as próximas temporadas!

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