Crítica – Rogue One: Uma História Star Wars

Danilo de Oliveira
10 Min de Leitura

Quando a Lucasfilm foi comprada pela Disney que rapidamente anunciou uma nova trilogia, houve uma certa preocupação e ansiedade entre os fãs da franquia criada por George Lucas. Mas a empresa trouxe a série Rebels, O Despertar Da Força e agora Rogue One e fica cada vez mais difícil não afirmar que a melhor coisa que aconteceu para essa franquia foi ser levada a sério pela Disney.

Nascido a partir de um detalhe presente no clássico Episodio IV: Uma Nova Esperança, logo no letreiros iniciais, era dito que os planos da Estrela da Morte tinham sido roubados pela Rogue One, possibilitando que a Aliança Rebelde tivesse uma nova esperança. Quem eram eles, nenhum dos filmes lançados respondeu… eis que o primeiro derivado da série responde essas perguntas de maneira fiada,ousada e nostálgica por não!

O que Rogue One faz é simplesmente contar essa história, trazendo o grupo de rebeldes que conseguiu executar essa missão, como ela foi executada, e os sacrifícios que precisaram ser feitos para que esses planos chegassem nas mãos da princesa Leia Organa, dando início aos eventos que vimos nos minutos iniciais de Uma Nova Esperança. Voltando bastante no tempo, somos apresentados a Galen Erso (Mads Mikkelsen), um ex-engenheiro imperial que vive com sua esposa e filha em um remoto planeta como fazendeiro, até que recebe a visita de Krennic (Ben Mendelsohn), diretor imperial do projeto da Estrela da Morte, que precisa de Erso para dar continuidade ao projeto, por mais que o engenheiro não queira ir.

O prelúdio é curto, e serve apenas para introduzir a difícil infância da filha de Galen, Jyn Erso (Felicity Jones), que acaba sendo criada por Saw Gerrera (Forest Whitaker), um rebelde tão extremista, que seus atos não são bem vistos nem mesmo pela própria Aliança Rebelde, e que acaba agindo separadamente, com uma célula terrorista alocada no planeta Jheda. Uma curiosidade aqui, é que Saw Gerrera é um personagem que já havia aparecido anteriormente no cânone, na quinta temporada da série animada Star Wars: The Clone Wars, fazendo deste o primeiro personagem das séries animadas da franquia a fazer parte de um filme live-action.

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Forte, destemida e corajosa, Jyn acaba se envolvendo com a Aliança Rebelde em uma missão que envolve uma mensagem enviada por seu pai, que é quando descobrem a falha proposital deixada por Galen no projeto da Estrela da Morte, e que serve de mote para o filme, trazendo a tão esperada busca pelos planos da arma, capaz de destruir um planeta com seu poder de fogo.

O trecho inicial de Rogue One já demonstra uma audácia inexistente em todo O Despertar da Força. Pulamos de planeta em planeta, com direito a flashbacks que nos inserem diretamente nos eventos principais a serem desenvolvidos pelo filme. Não há aviso ou preparação qualquer e o texto de Chris Weitz e Tony Gilroy não trata o espectador como ignorante em momento algum: ele assume que sabemos previamente da situação presente na galáxia (pós-queda da República e Ascensão do Império) e oferece o necessário para que o iniciante nesse universo coloque sua cabeça para funcionar e aprenda tudo o que é necessário para o pleno entendimento da obra.

Além disso, o longa quebra com muitos paradigmas de Star Wars e usa elementos inéditos na franquia cinematográfica: não possui texto de abertura, a trama pula longos períodos de tempo e ainda conta com flashbacks, planetas visitados são identificados com textos na tela, os rebeldes são mostrados sem a aura de heróis da moralidade. Pequenas diferenças que, junto com o tom ainda mais sombrio e Stormtroopers que dão medo, garantem algo novo à franquia.

Tudo isso é bastante condizente com a direção de Gareth Edwards, que utiliza uma linguagem muito similar a filmes de guerra, fazendo-nos sentir, em alguns trechos, como se estivéssemos vendo alguma obra sobre a Segunda Guerra Mundial. A Aliança Rebelde não é mais mostrada como um bando de soldados unidos sob uma mesma causa, todos em perfeito uníssono. Aqui, cada um tem uma agenda diferente, um modus operandi diferenciado – não é porque estão lutando pela democracia que não sujam suas mãos constantemente, algo perfeitamente representado por Cassian Andor (Diego Luna) e o general Draven (Alistair Petrie), duas figuras que abandonam completamente o maniqueísmo vigente na saga e mostram que há muito mais na guerra que apenas o bem e o mal. O Império, por outro lado, consiste em algo muito mais profundo que o clássico “vamos seguir as ordens de Lorde Vader”. Sentimos, de fato, o peso da hierarquia militar aqui presente, mas conseguimos enxergar os indivíduos como pessoas seguindo o que acreditam. Orson Krennic, vivido brilhantemente por Ben Mendelsohn, é o personagem imperial mais bem explorado de todos os filmes lançados até agora (excluindo o Imperador e seu aprendiz, claro) – ao mesmo tempo que ele consegue ser ameaçador, vemos nele uma pessoa que enxerga esse governo como uma forma da galáxia entrar em paz e ordem. Outro ponto interessante é como a liderança do Império soa como algo distante aqui. Mesmo com a presença de Vader, sentimos como se ele estivesse em um patamar muito superior. Naturalmente, isso dialoga com toda a questão do Império, que cria um paralelo evidente com a Alemanha Nazista.  E como já que falamos no Lorde Sombrio dos Sith, já adianto, sem estragar nada, que ele deixará a todos sem fôlego nas poucas(mais significativas)cenas.

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Não posso deixar, é claro, de comemorar o fato de que o diretor não cai nos típicos maneirismos de hoje em dia e nos entrega sequências de ação que conseguimos entender plenamente, elaborando cenas que são de tirar o fôlego, especialmente no trecho final da projeção. Se algum filme faz jus ao “Guerra” de Guerra nas Estrelas é este daqui.

A trilha de Michael Giacchino, ainda que não nos traga nenhum tema que seja verdadeiramente memorável, cumpre sua função narrativa e muito herda das icônicas melodias compostas por John Williams. Seu trabalho, como fora apontado pelo Slash Film, é bastante similar ao trabalho de Kevin Kiner em Star Wars Rebels, que introduz novas composições, ao mesmo tempo que nos entrega versões novas de outras pré-existentes da saga.

No campo personas e atuações, Rogue One conta também com um punhado de personagens extremamente carismáticos e marcantes, do debochado robô K-2SO (com ecos de C-3PO) ao Chirrut Imwe de Donnie Yen, representante da crença religiosa em torno da Força. Por mais que em certos momentos soe exagerado, o Saw Gerrera de Forest Whitaker também traz novas nuances ao apresentar um rebelde extremista, uma faceta até então pouco explorada.

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Já sobre Jyn Erso, se por um lado é louvável o esforço que a Lucasfilm tem feito no sentido de dar o protagonismo dos novos filmes às mulheres (vide Rey em O Despertar da Força), aqui ela se torna coadjuvante do próprio contexto em que está envolvida. Por mais que a personagem seja de importância imensa dentro desta história, há ao seu redor elementos bem mais interessantes, envolvendo vários coadjuvantes.

No fim, Rogue One: Uma História Star Wars é o longa-metragem mais diferente de todos os que já vimos da saga. Todos os riscos que a Disney optou por não tomar em O Despertar da Força, a empresa decide ousar aqui. Um filme sombrio, com nítida urgência, que coloca a história acima de seus personagens e acaba em alguns momentos  prejudicando nosso envolvimento com eles, mas, não por isso, perde nossa atenção.Não é um experimento perfeito. Tem, sim, seus erros, mas definitivamente representa um grande passo na direção certa para a saga caminhar na Disney.

 

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