Os irmãos Wachowski criarão um monstro. Não que tenham feito trabalhos pavorosos, longe disso até – pois é inegável a beleza estética de Speed Racer (2008) ou a quantidade de temas discutidos em A Viagem (2012) –, mas o que ironicamente está, de certa forma, atrapalhando seus projetos posteriores é justamente a saga de Neo. Muitos fãs e apreciadores, que ficaram espantados com a qualidade do material, aguardam ansiosamente um novo Matrix (1999). Mas será que os autores têm mesmo que provar que são capazes?
O Destino de Júpiter como os últimos longas dos diretores não possui o mesmo vigor de outrora, ainda que acerte aqui e ali, exibe de fato alguns problemas narrativos, que cominam num desenvolvimento irregular.Como de costume eles enchem a tela de referencia , alegorias e trucagens visuais, mas esquecem princípios básicos de continuidade, ritmo e identificação, excluindo dessa maneira o envolvimento da plateia. Ainda sim apresenta novos truques e pode divertir os menos exigentes.
A história segue uma jovem chamada Jupiter Jones (Mila Kunis), cuja profissão é limpar casas nos Estados Unidos. Ela nem imagina que possui o DNA exato da matriarca de uma poderosa família galáctica e, por isso, é considerada herdeira legítima da casa, o que lhe dá direito sobre a Terra. Não bastasse esse detalhe conveniente, nosso planeta é também tratado como o bem mais valioso da galáxia e isso inicia a guerra entre três irmãos, os quais tentam influenciar Jupiter.
Com isso, o mais velho da família de aristocratas, Balem(Eddie Redmayne), envia mercenários para assassinar Júpiter. Enquanto isso, outro mercenário geneticamente modificado chamado Caine (Channing Tatum) chega à Terra para resgatá-la e revela à garota um universo de possibilidades.
Não se trata de uma premissa remotamente original e o desenvolvimento da narrativa tampouco melhora este cenário. Constituído por um amontoado de embates, fugas, traições e resgates que mantém a trama em aparente movimento, o roteiro reserva pouco espaço para o desenvolvimento de temáticas paralelas – e tanto as reflexões sobre o real valor da vida quanto aquelas referentes à frustração de confiar insistentemente, em vão, nas boas intenções de terceiros detentores de poder limitam-se às demandas morais mais básicas do texto. Por outro lado, os roteiristas são hábeis ao relacionar, de forma prática e às vezes divertida, toda a gama de conceitos próprios daquele universo fictício à realidade vigente, formulando, por exemplo, explicações inéditas para eventos da história da Terra ou elementos culturais de seu povo (como a extinção dos dinossauros ou a origem da mitologia por trás dos vampiros, respectivamente).
No entanto, mesmo que tente ao máximo se sabotar, este novo universo criado pelos Wachowski é ambicioso. É possível perceber a atenção dos irmãos aos detalhes desse universo que mistura ciência, mitologia e religião para criar algo único.A variedade de raças, a concepção visual das criaturas, do espaço, dos veículos e principalmente a multiplicidade de tons e influencias são realmente impressionantes. Nesse sentido, o diretor de fotografia John Toll e o supervisor de efeitos visuais Dan Galls levam boa parte do crédito. No que se refere a roteiro e narrativa, o modo como os personagens discutem, os temas, as escalas hierárquicas e a formula utilizada parecem bem semelhantes a que vemos na franquia Jornada nas Estrelas. Bem como as lutas com naves e tiros a laser nos remetem imediatamente a Star Wars. Já a constante trilha sonora de Michael Giacchino, tem como função pontuar os conflitos aludidos.
A ação, por sinal, não deixa nada a desejar. Os irmãos sabem como conduzi-la como ninguém e são capazes de criar tensão a cada momento. Uma perseguição pelas ruas de Chicago é o ápice do filme, mas outros bons momentos também estão presentes. Sem dúvida, a bota antigravidade de Caine abre um leque de possibilidades para os combates e, quando bem utilizada, se mostra uma ferramenta narrativa interessante.
No campo de atuações , assumindo o papel do guerreiro altamente habilidoso perseguido por erros do passado, Channing Tatum é exigido mais como astro de ação do que como ator dramático e corresponde à altura,sendo o que mais se sobresai no longa,enquanto Kunis confere à protagonista um aspecto comum e (alguns momentos a lá princesa da Disney rsrs!)muito insossa sendo quase que um peso pra Caine. Fechando a ala principal do elenco, Eddie Redmayne dá vida a um vilão cuja natureza obviamente caricata torna admissíveis os excessos e todas as afetações da composição do ator.
O Destino de Júpiter é esteticamente interessante, tem um rico background e efeitos visuais impressionantes, o que pode ser suficiente pra funcionar como um bom entretenimento para o menos exigentes, mas possui um roteiro frágil, que tem medo de ir além e aposta todas suas fichas em intermináveis batalhas espaciais.A trama, que parecia buscar inspiração no clássico Duna e em mundos criados por autores como William Gibson e China Miéville, passa a abusar cada vez mais de convenções da ficção-científica e perde totalmente o fator novidade. Torcemos então para que a dupla encontre equilíbrio em suas obras futuras.