Crítica – Nerve – Um Jogo Sem Regras

Emile Campos
5 Min de Leitura

A tecnologia é claramente uma questão do nosso tempo. No mundo onde as redes sociais,Pokémon Go entre outras,nos vemos cada dia mais dependentes e até mesmo viciados em ter uma boa imagem virtual.Como tudo na vida, existem vantagens e desvantagens nesse exibicionismo, como ganhar dinheiro ou perder toda sua privacidade. Nerve – Um Jogo Sem Regras traz essa questão, e nos mostra, até onde se pode ir para conseguir essa boa imagem, independente das consequências que podem vir junto.

Baseado no livro Nerve de Jeanne Ryan o filme apresenta Vee (Emma Roberts), uma garota tímida e bem comum, que está prestes a sair do ensino médio. Vee conhece o jogo Nerve que desafia as pessoas a serem observadores ou jogadores, pressionada por sempre ficar à margem de seus amigos em tudo, Vee resolve então entrar de cabeça no jogo que consiste em colocar os participantes em situações de estremo desconforto para assim avançar as fases.

O lado ideológico por trás do jogo online é, de longe, o que há de mais interessante no filme – ainda mais em plena era do Snapchat , Instagram,até Pokémon GO, cuja devoção pode ser facilmente comparada à vista no longa-metragem. Há nele um lado meio Big Brother, onde todos observam e são observados a todo momento, o que desperta não apenas o voyeurismo mas também a perversão por trás do que se quer ver o outro fazendo. Este aspecto, explorado em filmes como O Sobrevivente e Jogos Vorazes, aqui é mais insinuado do que propriamente exibido. Por mais que os jogadores sejam desafiados a cumprirem tarefas perigosas, em momento algum o filme mergulha fundo no quão cruel e cínico tal poder é capaz de se tornar. É como se houvesse um certo limite, auto-imposto pelo roteiro escrito por Jessica Sharzer, o que delimita bastante o potencial a ser atingido. Ainda mais quando, no terço final, Nerve provoca uma reviravolta de forma que joga fora tudo o que exaltava até então, justificando tamanha mudança com diálogos bem moralistas.

Apesar disto, há questões bem interessantes levantadas pela simples existência do tal jogo online: a consentida perda da privacidade online, a obsessão pela fama a todo custo, a cessão do livre arbítrio a completos desconhecidos e o vale-tudo por dinheiro são algumas delas.Outro grande acerto do roteiro é ser contemporâneo nos diálogos, no formato e no enredo, o que acaba compensando os equívocos apontados.

Os diretores Henry Joost e Ariel Schulman(que fizeram um grande trabalho no longa Catfish) conseguem criar um clima de tensão impressionante, suas escolhas são perfeitas para dar aos espectadores a sensação que um jogo causa nos seus participantes, a narrativa em escalada crescente é precisa para tal resultado. Quem gosta da série Mr. Robot irá notar forte semelhança no estilo narrativo.

A fotografia noturna mesclado com efeitos visuais em neon dão ao filme um aspecto visual hipnotizante,além de uma trilha sonora que mistura pop e eletrônica para dar uma sensação de êxtase a trama e seus jogadores.

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O  elenco do filme está bem , claro que os de maiores destaques são a dupla de protagonista. Emma Roberts interpreta uma adolescente que está cansada de ser mal vista pelos amigos e colegas, e se sai bem, visto que seus papeis em American Horror Story e Screens Queens são bem diferentes.Dave Franco também está bem no papel do jovem enigmático e sua química com Roberts funciona e ajuda a segura o filme. Os coadjuvantes estão presentes mais para dar suporte ao crescimento da dupla durante o filme, alguns de forma coerente, outros soam como personagens desperdiçado dentro do enredo.

Nerve – Um Jogo sem Regras ainda que traga elementos atraentes e contemporâneos, especialmente em relação à entrega consciente a uma competição virtual que substitua a vida real,e colocar em pauta o que  a dependência virtual pode causar a quem sofre dela, peca na forma como eles são desenvolvidos.A necessidade de vilanizar algo, ao invés de trabalhar o lado psicológico dos envolvidos, não só apequena o potencial do material trabalhado como o afasta do mundo real, ao claramente colocar uma lição de moral embutida.

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