Nos últimos anos, a Disney tida como uma empresa tradicional e família assumiu o desafio e vem tentando remodelar a imagem de suas princesas e adequá-las à realidade atual. Frozen,mostrou bem isso ao focar o amor fraternal em detrimento de qualquer relacionamento amoroso; Zootopia, ao moldar a história central no tema do preconceito e ainda trazer um personagem em animação gay (ainda que não tenha se assumido, verbalmente); e até em sua nova franquia Star Wars, com O Despertar da Força, com a presença de uma protagonista feminina forte e decidida, que segue seu caminho dispensando a ajuda dos homens que a cercam. Com Moana, a Disney dá mais um passo neste sentido – e de várias formas.
A começar que esta é a primeira personagem feminina central que não tem par romântico do estúdio. O próprio conceito de princesa, tão associado à Disney, aqui é motivo até de uma bem-vinda autoironia, que traz ao filme um saudável frescor, sem falar em uma trilha sonora fantástica composta por Lin-Manuel Miranda, em colaboração com os roteiristas do filme, e Mark Mancina e Opetaia Foa’i, Moana se define como umas das melhores animações do ano e da própria Disney!
A trama baseada na cultura Maori, povo nativo da nova Zelândia, e demais tribos do pacífico, começa muito antes do nascimento da protagonista, quando o coração da deusa Te Fiti, representado por uma pedra sagrada, é roubado pelo semideus Maui (Dwayne Johnson). Como a deusa foi responsável por criar toda a vida na ilha, o local acaba sendo amaldiçoado.
Anos depois, Moana (Auliʻi Cravalho) descobre a verdade sobre seus ancestrais e sobre a maldição e resolve procurar Maui para que ele a ajude a reverter a situação e salvar a sua tribo. Entretanto, o semideus não dará o braço a torcer tão rápido.
Um dos triunfos de Moana está pela forma como retrata sua história. A cultura polinésia é saudada a todo instante, com diversas citações às suas crenças e modo de vida, de forma a ambientar tal universo para o espectador. Entretanto, o mais importante é a forma como sua personagem principal é retratada: corajosa, decidida, senhora de seu destino. Moana é uma heroína como poucas vezes o cinema ofereceu, no sentido de promover a afirmação do girl power sem que, para tanto, seja necessária a depreciação dos que estão à sua volta. Neste sentido, a Disney não apenas demonstra estar antenada com as carências da sociedade atual como, ainda por cima, entrega ao público feminino de todas as idades um ícone desprovido de preconceitos, no qual possa se espelhar. Não que Maui esteja ali de enfeite, ele tem um papel importante e também é bem explorado pela trama, mas mesmo com seus poderes, ele fica à sombra de Moana quando o assunto é salvar o oceano Pacífico.
Junto dos dois protagonistas, há a figura de Heihei, um frango pouco inteligente. Servindo de alívio cômico na maior parte da trama, ele consegue cativar o público e mesmo sendo quase inútil aos dois aventureiros, faz sua ausência ser sentida pelo espectador quando não está em cena. Em contrapartida, o porquinho Pua, que aparece nas imagens promocionais do filme, some na maior parte da narrativa – e isto é algo positivo, pois não haveria maior espaço para ele durante a trama.
A musicalidade do filme é tão orgânica que a cada canção você mergulha ainda mais na historia. A trilha sonora, composta por canções de Lin-Manuel Miranda e Opetaia Foa’i, unidas a uma música instrumental de Mark Mancina, são um atrativo a parte. As canções não apenas estão organicamente encaixadas na história, como também são divertidas e unidas às músicas instrumentais, oferecem ao público um gosto da musicalidade polinésia – mais um elemento que torna “Moana” um filme tão singular em relação a outras animações.A inspiradora “How Far I’II Go/ Saber Quem Sou” (interpretada no original por Auli’i Cravalho e em português por Any Gabrielly) e a divertida “You’re Welcome/ De Nada” (interpretada no original por Dwayne Johnson e em português por Saulo Vasconcellos) além da altamente divertida “Shiny/Brilhe” mostra o talento dos compositores.
O visual hiper-realista das paisagens nos permite ver o quanto a animação evoluiu nos últimos anos. Além disso, o balanço das ondas do mar, os cabelos, ora secos, ora molhados, da nova princesa e as tatuagens de Maui, que se movem de acordo com o estado de espírito do personagem, servem como exemplo do trabalho minucioso dos animadores.
Visualmente incrível e cheio de charme, Moana representa o melhor da Disney contemporânea – uma vibrante aventura que combina animação de CGI de primeira qualidade com uma história cativante e personagens carismáticos. De quebra, a nova princesa traz diversidade estética e apresenta uma nova cultura, pouco conhecida fora da Oceania. Pelo jeito, a Disney fez a lição de casa.
Obs: Cheguem cedo para ver o divertido e emocionante Trabalho Interno, mais um daqueles que encantam como só o estúdio faz.
Obs 2: Outra coisa fiquem no cinema, pois tem uma divertida cena pós créditos cheia de referencias como diz o Capitão!