Crítica – Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo

João Fagundes
3 Min de Leitura

O novo filme independente do serviço de streaming Netflix é uma criação inesperada, mas por reunir um bom elenco e conter um título chamativo, ele desperta a curiosidade de todos que viram adicionado ao catálogo um filme com o “selo Netflix de qualidade”. Escrito e dirigido por Macon Blair, sendo esse seu primeiro trabalho como diretor e com a surpresa de também aparecer no filme, estaremos prontos para fazer parte desse suspense cômico? Melanie Lynskey (de Two and a Half Men) é Ruth, uma jovem sem muitas realizações em sua vida pacata e solitária, sendo vítima diariamente dos problemas com outras pessoas e, sem nenhuma força para mudar essa realidade, decide acumular todas as frustrações. Até então é fácil entender a raiva da protagonista, já que vivemos exatamente o que ela vive, nem que seja um dia na semana, sendo o suficiente para nos irritarmos. Se a loucura que se seguirá é um exagero da realidade, então você não viu de tudo. Chegando ao limite após invadirem a sua residência, Ruth percebe que nem mesmo as autoridades vão querer lhe ajudar a encontrar uma solução para esse caso. Na companhia de Tony (Elijah Wood), um excêntrico rapaz da vizinhança ela fará justiça sem se preocupar com as conseqüências, tendo que investigar quem roubou seus bens de grande valor sentimental. Expandindo a história para uma desenfreada busca, essa dupla de personagens é o que nos prende mais ainda, sem perder a vontade de descobrir o que o final trará para nossos heróis. Lembrando brevemente a cenas de “O Iluminado”(1980) e ainda sim mostrando a simplicidade de um filme independente, será um interminável conflito até o último minuto. Quanto ao humor, os personagens garantem ótimos momentos sem perder a atmosfera sombria da trama. Melanie tem muita experiência no papel de mulheres desequilibradas, enquanto Elijah mostra mais papéis variados (oposto ao da “Dirk Gently’s Holistic Detective Agency”, nova série da Netflix ) para seu currículo. Ainda que os personagens tenham uma boa relação, chegará ao momento em que os valores se desequilibram, mostrando a reação de cada um. Uma verdadeira passagem para a realidade, o filme desafia seus protagonistas a ultrapassarem a linha tênue que existe entre o certo e o errado, sem nem parecer uma lição de moral, além de unir pessoas tão distintas em um momento de necessidade. A direção de Blair é inteligente para um estreante, mas fica claro a dificuldade para concluir. Tendo em seu final uma sensação de “é mesmo o fim?”, a obra só nos faz refletir sobre o modo como vivemos e o quanto hipócrita é o mundo lá fora.

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Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
1 Comment
  • Puxa, é tudo novidade de tempos em tempos, nesse diferente e instigante pequeno filme, com direito a depressiva sem intuito na vida, a artes marciais mal realizadas, a justiça apenas a título de avisar aos demais que não deveriam fazer o mal! Ótimas sacadas, roteiro bom, diversão à toda prova. 7,5 certeiro aqui!

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