Crítica – Fragmentado

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

M.Night Shyamalan foi do céu ao inferno com o decorrer dos seus projetos. Alçado a novo mestre do terror com O Sexto Sentido, o diretor continuou mostrando eficiência com Corpo Fechado, Sinais e A Vila, mas viu tudo ruir com O Fim dos Tempos,Depois da Terra entre outros. Sua volta ainda que não definitiva foi em 2015 com A Visita e agora Fragmentado vem para mudar isso, resgatando tudo aquilo pelo qual nos apaixonamos nos primórdios da filmografia do realizador.

O thriller tem início em uma comemoração de aniversário de uma garota. Enquanto ela e suas amigas se divertem, uma delas, Casey Cooke (Anya Taylor-Joy) se demonstra à parte de todos, permanecendo em silêncio, sendo a excluída do grupo. Na hora de ir embora, o pai da aniversariante oferece uma carona para a menina, junto de outra amiga. Mal sabiam, contudo que o pai seria desacordado por um homem desconhecido que sequestraria as três garotas. Mantidas em cativeiro, elas precisam arranjar uma forma de escapar, enquanto descobrimos mais sobre Kevin (James McAvoy), seu sequestrador, que conta com vinte e três personalidades distintas vivendo em seu corpo, com uma, referida apenas como a Besta, estando prestes a se libertar.

O Transtorno Dissociativo de Identidade (ou Transtorno de personalidade Múltipla) já foi abordado nos cinemas em outras ocasiões. Filmes como A Janela Secreta, As Duas Faces De Um Crime, Psicose, Clube Da Luta usaram essa temática de forma bem-sucedida, mas aqui esse ingrediente mantém o tom de suspense do filme,além que, o comportamento imprevisível do protagonista só adiciona mais tempero ao caldeirão de expectativas.

O diretor cria uma atmosfera verdadeiramente claustrofóbica para nós, espectadores. Muitas vezes sentimos como se estivéssemos presos ali ao lado das três garotas, cuja única interação são as diferentes personas de Kevin, que cria uma aura de instabilidade ao passo que jamais sabemos quando as mais ameaçadoras delas irão ressurgir. O melhor é que o roteiro sabe trabalhar tudo isso por um viés mais psicológico, sabendo que a violência física propriamente dita surte menos efeito que o clima ameaçador fornecido pela sensação de incerteza, tão presente ao longo dos cento e dezessete minutos de projeção.

Porem o filme não está livre de deslizes, principalmente os flashbacks da infância de Casey. Evidente que isso está presente para construir a personalidade da garota, explicar o porquê de seu constante silêncio, mas isso poderia ser feito de forma maior e mais orgânica, não tanto que jogadas entre a projeção.Mas nada que comprometa o filme.

O ato final, conta com alguns exageros quando se trata da figura da Besta, mas isso é perfeitamente contornado pelo surpreendente plot-twist, que justifica as escolhas do diretor, ao passo que aprofunda consideravelmente toda sua construção até aqui. De fato, ao assistirmos os segundos finais da projeção, toda nossa percepção da obra é alterada, ela ganha mais peso e tem sua própria natureza transformada em algo mais.

Quanto à atuação de McAvoy, se haviam dúvidas sobre seu talento, elas ficarão por aqui. O astro camaleônico incorpora de forma única cada uma de suas “personas”. Desde o olhar, os gestos das mãos, a forma de andar, a voz, tudo é executado de forma minuciosa e a dedicação ao papel é visível.

Ele, porém, não é o único que se destaca, visto que Anya Taylor-Joy, mesmo com poucos diálogos, consegue transmitir profundo medo, sem soar como a figura fragilizada, típica de filmes de terror. A atriz, que já se destacara em A Bruxa, agrega à obra um alto teor de realismo, sem ser aquela protagonista que toma as decisões mais estúpidas possíveis ou tira ideias simplesmente do nada.

Fragmentado marca por assim dizer uma volta aos palcos de Shyamalan. Um thriller claustrofóbico com excelentes atuações , que redime, de uma vez por todas, o realizador, nos deixando ansiosos pelo o que está por vir e na vontade de assistir Fragmentado mais uma vez, dessa vez, com o olhar diferenciado que o seu twist final nos proporciona.

Obs: E a cena durante os créditos, se você for fã dos trabalhos do diretor vai ficar com um sorriso de canto de boca bem bonito!

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