Ultimamente é algo raro achar filmes de terror realmente interessantes.Se não são os remakes sem criatividade,as idéias originais também nem sempre saem muito bem. Por isso, é sempre gratificante quando encontramos um exemplar que foge da mediocridade atual desse gênero.
Com uma ideia bem criativa o diretor e roteirista David Robert Mitchell faz uma analise metafórica sobre o sexo na adolescência e suas ramificações moralistas em um suspense intrigante e eficiente em seu maior tempo.
Na trama, Jay (Mayka Monroe), é uma jovem de 19 anos que descobre que recebeu uma maldição ao transar com seu namorado pela primeira vez. Ela passa a ser perseguida por uma misteriosa entidade homicida, que adquire a forma de qualquer pessoa ao seu redor, conhecida ou não, e será morta por essa criatura se não transar com outra pessoa e passar o mal adiante.
Logo de cara vemos de onde vem as inspirações de Mitchell: John Carpenter, o mestre do terror e suspense oitentista pulsa na tela enquanto assistimos ao filme. A maneira de filmar, rodeando personagens e espiando cada canto dos cenários, além da excelente trilha sonora sintética que tem um ar psicodélico e abstrato, evocam a identidade do mestre e caem como uma luva na construção da obra. A natureza misteriosa da ameaça, além do clima atemporal desse filme, que possui tecnologias modernas misturadas com toda uma construção visual vintage, reforçam essa sensação e criam uma identidade própria para o projeto.
Neste terror passado principalmente de dia, em locais abertos, o medo vem da paranóia: quando Jay está infectada, qualquer pessoa pode caminhar em sua direção e tentar matá-la. Portanto, ela desconfia de todos, em todos os lugares. Indivíduos tornam-se agressores em potencial. Como identificar os reais assassinos antes que já estejam perto demais? Após a paranóia do sexo, o filme explora a paranóia da segurança, da violência. É preciso desconfiar de tudo e de todos. O suspense é sufocante: sem a necessidade de sustos fáceis ou barulhos de portas rangendo, o filme extrai o medo da simples existência de pessoas ao redor.
Porem o uso desse efeito paranóico em excesso fica repetitivo em um certo momento do filme, mas que não perde a eficiência devido as suas variantes.
O elenco talvez seja o ponto mais fraco aqui, com exceção da protagonista, que manda muito bem na hora de demonstrar o peso e o terror de ser perseguida, os outros personagens são fracos e sem carisma. O final pode não ser o mais apropriado, mas não tira os muitos méritos da obra, que acerta mais que erra e mostra que o cinema ainda pode gerar boas e interessantes idéias para o terror.