O nono filme do universo cinematográfico da Marvel, Capitão América: O Soldado Invernal,não é só um excelente longa individual do estúdio como uma das mais completas produções de super-heróis de todos os tempos,além de enaltecer a figura de seu protagonista,que muitos veem apenas uma idealização ufanista dos EUA.Alias o picadeiro central desta superprodução é tomado por suas identidades reais, ou melhor, pela busca desses personagens por encontrá-las. Com elementos de thrillers de espionagem, aventura e ação, a produção acerta em diversos aspectos e mostra o que de melhor os quadrinhos têm a oferecer ao cinema.
Dois anos se passaram desde que Steve Rogers (Chris Evans) acordou de seu sono gelado de sete décadas. Após lutar ao lado dos Vingadores na batalha de Nova York, o Capitão América agora lidera uma equipe de elite dentro da agência de espionagem SHIELD ao lado da também vingadora Natasha Romanoff (Scarlett Johansson). Além de seu “trabalho”, Steve ainda tenta se ajustar ao século XXI, contando com a amizade do soldado veterano boa-praça Sam Wilson (Anthony Mackie) para isso.
Quando seu superior Nick Fury (Samuel L. Jackson) cai vítima de um atentado nas mãos do misterioso Soldado Invernal (Sebastian Stan), fica claro para Rogers que a SHIELD está comprometida, o que coloca o herói no centro uma rede de intrigas que ameaça a liberdade e segurança globais.
Ao contrário de alguns blockbuster nos quais os roteiros são meras desculpas para a criação de cenas de ação elaboradas (e/ou impossivelmente confusas), aqui os realizadores não hesitam em focar nas relações entre os personagens e deixar as set-pieces acontecerem de maneira natural, como consequências lógicas do roteiro, jamais o contrário. Isso demonstra uma confiança – justificada – na força do material que eles tinham em mãos.
Deste modo, cenas como o reencontro melancólico de Steve com sua envelhecida ex-namorada Peggy (Hayley Atwell) são tão importantes para o desenvolvimento da narrativa quanto os elaborados confrontos físicos nos quais o Capitão se envolve. A busca do herói em se localizar em um mundo cuja moral é retratada por tons cada vez mais cinzentos é o seu conflito principal. Será que o “homem bom” agora se tornou relegado a uma simples peça de museu?
Por sinal, Chris Evans está mais à vontade como Capitão e consegue transparecer a melancolia do personagem, o qual passou a entender melhor seu lugar no mundo, mas ainda não deixou o passado de lado. Ele é um homem fora de seu tempo e as consequências disso são aprofundadas em Soldado Invernal. O protagonista não é o único bem desenvolvido, Anthony Mackie está ótimo como Falcão, apesar de basicamente servir como pau-mandado do herói
A maior novidade no elenco é Robert Redford como Alexander Pierce. Ele não tem apenas uma participação especial como se pensava; na verdade, vive um personagem muito importante para a trama. O ator se entrega ao papel e entende a intenção dos diretores Anthony e Joe Russo. A cada linha de diálogo, ajuda a recriar o clima de filmes de espionagem dos anos 70.
Outro ponto importante está no vilão. O Soldado Invernal é poderoso, cruel e assombrado por um passado terrível. O ator Sebastian Stan mostra habilidade para transformar o rapaz que era o modelo de conduta para o Capitão (no primeiro longa) no único homem capaz de matá-lo (no segundo). Diferente de Loki (Tom Hiddleston), sempre ótimo a cada fala, o oponente deste filme não tem diálogos, mas ainda assim é imponente na tela e consegue expor conflitos internos muito bem.
A Viúva Negra da Scarlett Johansson aqui ganha mais tempo e material para desenvolver e definir os rumos de sua personagem. Natasha tem uma bagagem sangrenta e sofrida em seu passado, uma mulher obrigada a se reinventar constantemente para se manter viva. Essa bagagem,que também apareceu rapidamente em sua aparição anterior na telona, aqui é melhor trabalhada pelo roteiro.Sua química com Evans é notável em tela, o que transborda em vários momentos tocantes e engraçados.
As lutas mostradas aqui são bem mais brutais que em qualquer outro filme da Marvel Studios, com forte influência do MMA (a escalação do lutador George St. Pierre como o terrorista Batroc não foi um acaso). Os destaques vão para o segundo embate entre o Capitão e o Soldado Invernal, o combate dentro do elevador e a infiltração no navio logo no início da projeção, sequência que pega muito emprestado do game “Metal Gear Solid 2”.
Capitão America: O Soldado Invernal supera seu antecessor e misturando o impacto visual de um blockbuster quadrinístico com o clima de conspiração de filmes como “Três Dias do Condor”, a fita é efetiva em explorar os conflitos de seus heróis e antagonistas, ampliar e desenvolver o universo Marvel nos cinemas, mas sem jamais perder a energia que se espera de um lançamento do verão estadunidense.