Existem clássicos que não devem ser mexidos, devido sua qualidade e reconhecimento a sétima arte! São obras que sobrevivem à passagem do tempo e que encantam ao serem (re)vistas hoje por olhos fascinados. Hollywood sabe disso, mas na sua atual realidade remakes nunca são demais.A bola da vez é a nova adaptação livro clássico de Lew Wallace,Ben-Hur,que tem seu ápice cinematográfico no famoso longa de 1959,dirigido por William Wyler,detentor de 11 estatuetas do Oscar! Será que um filme multipremiado merece ser refilmado?
Primeiramente, claro, antes do clássico de Wyler houve um épico do cinema mudo. E, antes deste, um curta. Portanto, o “Ben-Hur” dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (“Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros”) não é o primeiro remake e, como todas refilmagens, sustenta ser apenas a mais nova versão do livro de Wallace, originalmente publicado em 1880.
Mas se o filme de 1959 é um clássico imensurável em todos os sentidos, o que chega agora aos cinemas tem um potencial enorme de cair no esquecimento assim que encerrar a sua carreira comercial, já que o imaginário popular nunca lhe permitiria uma comparação favorável. Mesmo assim, não seria correto ignorar que há virtudes no novo trabalho.
O novo filme, basicamente transforma a alegoria de vingança em uma história sobre perdão e redenção, deixando o filme ainda mais perto da categoria “bíblico” e praticamente acabando com seu impacto épico, mas é uma mudança pequena, e para piorar, justificar a existência do mesmo.
Na trama, o nobre Judah Ben-Hur (Jack Huston) e o romano Messala (Toby Kebbel) foram criados como irmãos, entretanto acabam seguindo caminhos diferentes. Messala se torna um centurião do exército romano e tenta conseguir apoio de sua família de criação em pró de Roma. Entretanto, ao perceber que Judah está mais inclinado a apoiar o povo judeu, ele usa de um mal-entendido para acusá-lo injustamente de traição e enviá-lo para ser escravizado nas galés dos romanos. Anos depois, o protagonista consegue escapar e jura vingança.
Para tentar não ser um remake, novo filme foca mais na relação entre Ben-Hur e Messala,antes mesmo do incidente que cria o racha entre os dois, porém ao querer ser dinâmico demais o filme não explora bem as bases construídas disso,sendo extremamente raso.
O ar épico que as produções desse gênero tem, aqui são deixadas de lado para ter um tratamento de aventura blockbuster tradicional e seus cincos minutos finais embora queira passar uma ideia louvável para nossos tempos é executada de forma deprimente! Coisa do pior tipo de telenovela!
No quesito técnico o diretor sabe criar cenas de ação bem estilizadas e energética, principalmente a famosa corrida de bigas que é o ápice do filme.O CGI também é bem empregado aqui, tirando alguns momentos onde é visível a presença do fundo verde, mas no geral está ok! Já a trilha sonora de Marco Beltrami não imprime ritmo ao filme sendo só um elemento técnico qualquer a produção!
Se Bekmambetov é bastante competente na direção de cenas de ação, como já havia mostrado em Guardiões da Noite e O Procurado, falha no quesito para com os atores.Jack Huston está bem no papel do protagonista, mas lhe falta vigor,testosterona para representar um personagem que sobreviveu alimentando o ódio e a vingança. Tobby Kebbel se sai melhor com seu Messala que embora seja o vilão, não se mostra um cara sem escrúpulos e sim um homem que por orgulho fez escolhas erradas.Morgan Freeman está no seu habitual Morgan Freeman mentor!Se você já viu outros filmes dele como tal vai se lembrar! Já o Jesus Cristo de Rodrigo Santoro dar maior peso dramático ao longa. O ator está bem em cena. Por mais que o personagem não seja protagonista na narrativa principal, acaba sendo o responsável por transmitir uma maior carga emocional à produção e ser o catalisador para o tema de perdão que amarra toda a narrativa.
Para os que não assistiram ao Ben-Hur de William Wyler, a nova versão pode até entreter. Mas para quem presenciou toda a intensidade do anterior, será impossível se impressionar. O novo Ben-Hur é um drama mediano e um épico insosso,Um longa que quer o perdão, que visa a tolerância, que busca a redenção, mas que entende que a linguagem contemporânea pede o circo e é isso que Bekmambetov realiza, com muita eficiência. No entanto, é difícil entender a transcendência dessa nova adaptação, sendo um filme que fica muito mais nas sensações etéreas provocadas pela pulsante corrida de bigas, do que um longa que busque, em alguma transcendência representada por Cristo, sentimentos mais divinos.