Vamos ser sinceros, quando Hollywood anuncia adaptar algum mangá ou anime oriental a desconfiança vem de imediato a nós fãs.Embora existam alguns acertos(No Limite do Amanhã), depois de Dragon Ball Evolution o medo de ver um material de qualidade ser destroçado é algo gigantesco. Bom depois dessa atrocidade passada Hollywood vem adaptar nada mais nada menos que Ghost in the Shell, umas das maiores e mais filosóficas obras cyberpunk da cultura nipônica que serviu de inspiração para nada menos que a trilogia Matrix! Sim eis que sobe forte expectativa e desconfiança que chega ao cinema A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, estrelado por Scarlet Johansson, o filme vai além da fidelidade e apresenta nova interpretação para o anime clássico.
Na trama ambientada num futuro decadente e repleto de humanos ampliados por implantes robóticos, Major (Scarlet Johansson) é uma agente do grupo antiterrorista Seção 9, cujo cérebro humano é mantido num corpo totalmente robótico, a primeira de seu tipo e um protótipo do futuro da humanidade. Diante de uma nova ameaça, um hacker capaz de manipular robôs e implantes como nenhum outro, a protagonista entra numa investigação que revelará muito mais do que ela esperava descobrir.
Se no anime o roteiro procura apresentar os personagens, empresas e governos de forma complexa, o live action pega essas mesmas coisas mas utiliza de forma rasa.Se por um lado é negativo por apresenta um pouco aprofundamento as questões existências da Major, por outro simplifica mais essas questões para um novo publico,além de dar uma outra identidade ao filme e não só uma emulação do seu material de origem.
Dito isso, a obra dirigida por Rupert Sanders(Branca de Neve e o Caçador) foca no existencialismo da protagonista, que mais e mais passa a duvidar de sua própria identidade. Scarlett Johansson, que já se destacara em outras ficções científicas, como Lucy, nos entrega o perfeito retrato do auto-questionamento, duvidando de tudo à sua volta, algo que é deixado bem claro pelos defeitos em sua visão, que começa a enxergar coisas que não estão exatamente ali. A (des)construção da protagonista se faz, portanto, de maneira fluida e somos mergulhados em suas dúvidas, nos identificando cada vez mais com ela. Até que ponto a tecnologia apaga aquilo que realmente somos? O olhar da atriz, ora explorando seu lado aparentemente sem emoções, ora evidenciando seu abalo emocional é capaz de traduzir toda essa jornada interior. Além disso, um aspecto importante do roteiro funciona como um verdadeiro tapa na cara daqueles que reclamaram da escalação de Johansson para o papel, uma jogada genial e respeitosa em relação ao material original.
De fato, todos os companheiros de Major é formado por um elenco multirracial, com atores da Dinamarca, Estados Unidos, Singapura, Japão, Austrália, França, dentre outros países. Tal questão garante a percepção de um mundo ainda mais globalizado, no qual as fronteiras entre países se tornou puramente simbólica, afinal, todos podem se conectar através do ciberespaço, um dos conceitos mais recorrentes do cyberpunk, subgênero da ficção científica no qual essa história se enquadra.
O papel do Kuze, o vilão da trama embora não tenha a mesma complexidade do Mestre dos Fantoches do anime, tem um bom desempenho para o que o filme se propõem a explorar e isso se deve a boa atuação de Michael Pitt no personagem.
A utilização da computação gráfica aqui é essencial, compondo um retrato imersivo dessa sociedade. Desde os robôs, passando pelas interfaces holográficas, até os anúncios já mencionados, tudo nos faz acreditar nesse futuro que enterra a identidade das pessoas, com cores sobressaindo ao branco e cinza dos prédios.
Tecnicamente o filme em geral merece elogios. É muito bem produzido, com efeitos de qualidade e convincentes, visual impactante tanto de cenários(como falei acima) quanto de personagens. Fotografia inspirada, com belos planos abertos para ajudar na ambientação e closes ou cenas sufocantes em espaços fechados para reforçar o clima de opressão e estranheza. Para completar, a trilha sonora techno é boa e combina bem com a atmosfera cyberpunk.
A Vigilante Do Amanhã é um bom filme,trazendo um profundo respeito a tudo aquilo que o precedeu. Por mais que não toque de forma tão enfática nas questões levantadas pelo mangá e anime de 1995, o live-action explora outros aspectos dessa mitologia e mostra a coragem da Paramount, que arriscou e conseguiu entregar um bom filme que coloca a própria identidade do ser humano,e suas memórias em xeque.