A Campus Party Bahia, edição inédita do acontecimento tecnológico mais importante do Brasil, realizada entre os dias 09 e 13 de agosto, além de ter sido palco para inovações e empreendedorismo, foi também cenário de afirmação indígena. A inclusão digital em comunidades tradicionais não é algo recente, mas enfrenta o preconceito como principal obstáculo para sua completa efetivação.
Entrevistamos o ativista indígena Taquari Pataxó, da comunidade Pataxó de Coroa Vermelha, Porto Seguro, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia e membro do Núcleo de Assistência aos Estudantes Indígenas da UFBA, que palestrou no Fórum Universidades Empreendedoras e no painel “Tecnologias Para Educação” da CPBA. Ao Cinesia, ele destacou a participação dos Pataxó:
“A nossa participação aqui nesse evento é justamente para reafirmar que nós, povos indígenas, não somos povos do passado, não somos selvagens, não somos atrasados, pelo contrário, somos povos da atualidade, povos do agora, contemporâneos dessa sociedade. É nesse sentido que viemos reafirmar também que somos usuários e produtores de tecnologia. Precisamos descolonizar a mente da sociedade brasileira e alertar quanto ao racismo e ao preconceito, os grandes empecilhos para o acesso dos indígenas à tecnologia, porque as pessoas ainda acreditam que o índio não pode usar um celular, um notebook, uma câmera fotográfica e isso acaba inibindo os indígenas. Nesse sentido, falando da tecnologia e das populações indígenas, é preciso trazer um pouco de conhecimento, um pouco de informação, de que os índios estão a todo vapor fazendo uso dessa tecnologia. Em Rondônia, por exemplo, índios, mais precisamente Almir Suruí (grande liderança indígena), tem feito um trabalho muito bonito de preservação da floresta amazônica, sobretudo no seu território/seu povo, o povo Suruí, através de drones com os quais ele pode verificar a presença de madeireiros, garimpeiros e caçadores tentando entrar na floresta, além de outros instrumentos tecnológicos. A tecnologia está sendo utilizada em favor da natureza e das populações indígenas. Por outro lado, os índios estão usando câmeras para fazer filmes: temos índios cineastas! Populações indígenas contando sua própria história do seu jeito, a partir de sua cosmologia e visão de mundo. […] Somos produtores e consumidores de tecnologia, queremos usar a tecnologia de forma equilibrada, educativa e sustentável. ”
Em relação ao fórum e ao painel, ambos referentes à educação, Taquari comentou:
“É preciso que as escolas indígenas sejam equipadas com internet de qualidade, computadores e instrumentos mais atuais. Infelizmente, precisamos avançar muito quanto a isso. Políticas públicas e investimentos ainda são necessários para que os índios possam incrementar suas escolas, seus espaços e suas aldeias. Mas acima de tudo, tecnologia cuidando da nossa cultura e preservando a nossa identidade. ”
A Campus tem uma grande preocupação em deixar um legado nas cidades em que é sediada, as comunidades tradicionais representadas pelos Pataxó esperam que esse espólio seja refletido no modo como a sociedade enxerga a relação do indígena com o modo de vida moderno.
Agradecemos a Genilson Taquari e às meninas Pataxó, todas também estudantes da UFBA, pela entrevista e cordialidade – Equipe Cinesia Geek.