Coringa: Delírio a Dois | Joaquin Phoenix e Lady Gaga são os destaques em sequencia ousada, porém desnecessária

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura
Warner Bros./Reprodução
3 Bom
Crítica - Coringa: Delírio a Dois

Lançado em 2019, Coringa foi uma inesperada surpresa e um frescor as adaptações de quadrinhos. O longa estrelado por um brilhante Joaquin Phoenix trouxe uma versão mais realista do clássico vilão do Batman em uma produção que lembrava bastante a estética de Taxi Driver, crua e bem diferente do colorido das paginas de quadrinhos.

Apesar das críticas em relação a abordagem que o filme trazia ou não da figura do Palhaço do Crime, a bilheteria impressionante e as 11 indicações ao Oscar (e dois prêmios) fizeram a adaptação um fenômeno sem igual.

Com esse sucesso e repercussão, a ideia de uma continuação ganhou força e ela se fez real com Coringa: Delírio a Dois, sequencia que coloca Phoenix e seu Arthur Fleck para para cantar e dançar ao lado de Lady Gaga, ao mesmo tempo que conta uma história de amor tóxica e um julgamento metalinguístico ousado, mas irregular.

A trama se passa dois anos depois dos acontecimentos de Coringa, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está preso em Arkham, onde é constantemente maltratado pelos guardas do local. Por outro lado, a advogada Maryanne Stewart (Catherine Keener) está construindo sua defesa, tentando provar como Coringa é uma personalidade separada do protagonista. Tudo muda quando ele conhece outra paciente, Harley Quinzel (Lady Gaga), durante aulas de música na instituição.

Conhecida como Lee, ela também carrega seus traumas, além de ser fã do Coringa. Começa então um relacionamento amoroso perigoso, onde Arthur descobre o poder da música que existe dentro de si. Com seu julgamento prestes a começar, a divisão do público se encontra entre raivosos apoiadores e críticos ferrenhos, então o ex-palhaço terá que decidir se quer seguir o caminho do caos ao lado de Lee.

Warner Bros./Reprodução

Enquanto o primeiro filme discorreu em mostrar como a sociedade moldou o palhaço, dessa vez a via é de mão dupla, já que aqui, além da sociedade,o roteiro de Todd Phillips e Scott Silver se debruça no estudo de persona do Fleck, questionando se o autor dos crimes foi de fato ele ou a figura do Coringa, que é ai onde entra a ousada estrutura musical.

A ideia de utilizar a estrutura musical é bem ousada, levando em consideração o universo realista e pé no chão apresentado. Contudo ela tem altos e baixos. Sendo utilizada pra perpetuar a mente caótica de Arthur e explorar sua psique é um ponto forte, o uso exagerado das canções acabam tornando certos momentos do filme anticlimaticos. Não é que as musicas são ruins, mas Todd Phillips nem sempre encaixa bem a cantoria, ao ponto de que algumas delas ficarem perdidas no andamento da história, gerando uma desconexão que esvazia momentos específicos de significado.

O outro ponto que o roteiro quer dialogar é como eu disse antes, é novamente a sociedade, mas aqui, não uma nova história, mas sim, utilizar os eventos do filme anterior e evidenciar suas consequências. O julgamento midiático nada mais é que uma analogia ao circo que a sociedade faz em torno dos monstros que ela mesma cria, ao mesmo tempo em traz Fleck em conflito sobre quem realmente é que e precisando lidar com as diferentes pressões e expectativas criadas sobre si, algo que o próprio longa está se fazendo.

Warner Bros./Reprodução

Alias no roteiro, Phillips parece querer levar primeiro filme a julgamento, já que muitas críticas a ele foram feitas com a “suposta” vanglorização aos inceis. Contudo isso, só fortalece que o roteiro da sequencia carece muito de profundidade para suas temáticas, sendo até desnecessário sua existência. As idas e vindas no julgamento, coloca o filme no vai e vêm sem proposito que acaba sendo prejudicado pela duração extensa. Se no inicio o filme se utiliza bem de uma passagem animada pra fazer analogia com seu protagonista, da metade pra o fim tudo é meio que truncado para se desenvolver e justificar.

Na parte técnica, o longa se sobressai. A fotografia mais uma vez é um primor, ao mesmo tempo que sabe retratar a sujeira cinzenta de Gotham, também explora as cores caóticas de Arthur e Lee. A trilha sonora continua envolvente com os acordes soturnos.

Warner Bros./Reprodução

Já parte das atuações, Joaquin Phoenix continua incrível como Arthur Fleck/Coringa proporcionando tanto uma interpretação psicológica quanto física bastante complexa. Ao mesmo tempo que o protagonista parece em agonia constante isso de alguma forma o liberta das convenções sociais que tanto despreza. Já Lady Gaga apresenta uma bela e intrigante performance para sua Lee. Subvertendo os conceitos já conhecidos ao redor de Arlequina, Gaga cria uma personagem que ganha muita presença com sua interpretação ao mesmo tempo que explora um ser caótico e manipulador, mas que ao mesmo tempo vive sua vida em torno de Arthur e trazer o Coringa a tona. Porém, se a atriz tem uma presença forte por si, só, sua personagem falta algo a mais, e não é nem por sua causa, mas pelo roteiro, que mais uma vez carece de explorar essa nova abordagem da personagem, mas de somente introduzi-la para criar conexão com o Arthur.

Pra finalizar, Coringa: Delírio a Dois é ousado sem dúvida, com grandes performances de Joaquin Phoenix e Lady Gaga, um trabalho técnico incrível que deseja dialogar sobre a mente deturpada de uma pessoa maltratada por tudo e todos que por acaso é alçado a um ícone pela mídia e a sociedade por ela achar conveniente no momento. Porém isso carece de profundidade e acaba se tornando aquela sequencia sem um certo proposto pra existir.

Crítica - Coringa: Delírio a Dois
Bom 3
Nota Cinesia 3 de 5
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