O conclave – a reunião dos cardeais para a eleição de um novo papa – uma dos mais secretas cerimônias e sempre foi motivo de curiosidade por parte de muitos, saberem o que de fato ocorre nesse evento tão envolto em segredos.
O vencedor do Oscar, Edward Berger de Nada Novo no Front, adapta o livro homônimo, apresentando um conclave fictício que aconteceria nos dias de hoje, e cria um thriller politico intenso e cheio de reviravoltas que faz o espectador não conseguir desviar o olhar diante de tudo aquilo.
No longa, o Papa está morto. Agora, cabe ao Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) a condução do árduo processo confidencial de escolha do novo Pontífice. Quando os líderes mais poderosos da Igreja Católica de todo o mundo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção, Lawrence se vê no centro de uma conspiração, desvendando segredos que ameaçam sua fé e também as fundações da Igreja.
O primeiro ponto que destaca Conclave a ser uma obra fascinante é o fato de Berger demonstrar controle total em sua narrativa. O diretor consegue unir ela junto de sua montagem e conduz com maestria elementos que volta e meia poderiam se perder na trama. Ele mantém tudo no tempo e ritmo preciso, para não deixar o público perdido com tantos detalhes a respeito dos rituais do Vaticano que surgem na história.
Unindo isso ao um elenco afiado e o bom desenvolvimento de cada um de seus personagens em tela, e o cineasta mantem o espectador com os olhos grudados na telona a cada reviravolta. O roteiro assinado por Peter Straughan (indicado ao Oscar por “O espião que sabia demais”, 2012), cria bons diálogos e situações que surpreendem pela qualidade e pelos questionamentos sobre fé, religião e o atual papel da Igreja Católica.
A fotografia assinada com maestria por Stéphane Fontaine (Capitão Fantástico) valoriza demais os planos abertos em que os personagens são colocados de forma centralizada e quase impotentes em relação ao poder da igreja, assim como também ela consegue passar toda a obscuridade e mistérios da instituição através de iluminações e sombras bem colocadas em cena. Junte isso com a trilha sonora composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por “Nada de novo no front”) que quase é um personagem, pelos tons solenes que pontuam bem as cenas mais tensas, e temo um conjunto de impactar.
Ralph Fiennes toma frente da narrativa, nos guiando para o suspense e mostrando um misto de serenidade devidamente controlada e a descrença de seu personagem, mas também somos contemplados com os sólidos trabalhos de John Lithgow, CSergio Castellitto, Stanley Tucci, Isabella Rossellini, Lucian Msamati e Carlos Diehz, sendo este último o intérprete do Padre Benitez e uma grata surpresa, ainda mais quando são revelados os segredos do personagem.
Com um encerramento surpreendente, Conclave é um perfeito exemplo de se fazer um thriller politico com uma temática tão polêmica quanto a igreja. Edward Berger nos conduz de forma hipnotizante com um elenco afiado no que podemos chamar do Sucession da igreja. Um filme para sair da sessão bem reflexivo não só sobre suas crenças, mas também sobre visão mudana.