Poucas franquias conseguem tocar tantas gerações com tanta leveza, profundidade e beleza como Como Treinar o Seu Dragão. Inspirada na adorada série de livros de Cressida Cowell, a jornada de Soluço e Banguela conquistou o mundo primeiro na literatura infantil e depois nos cinemas, com uma trilogia animada da DreamWorks que, entre 2010 e 2019, marcou uma era com visual impressionante, trilha sonora emocionante e personagens inesquecíveis. Agora, em 2025, essa aventura ganha nova vida — literalmente — com uma versão live-action que promete reacender a chama de uma amizade improvável entre um viking desajeitado e um dragão lendário, além de mostrar aos estúdios como se fazer um bom live-action (sim, estou cutucando você Disney!).
A história permanece fiel à essência que encantou o público por mais de uma década: Soluço (Mason Thames, de O Telefone Preto) é um jovem viking da ilha de Berk, onde todos se orgulham de lutar contra dragões — todos, menos ele. Filho de Stoico (Gerard Butler, retornando ao papel que dublou na animação), o temido chefe da aldeia, Soluço é determinado a provar seu valor. Em uma tentativa desastrada, ele acaba ferindo o lendário Fúria da Noite. Mas, ao encontrar a criatura — a quem chama de Banguela — incapacitada, ele descobre que os dragões talvez não sejam os monstros que todos acreditam. Com ajuda de Astrid (Nico Parker, de The Last of Us) e outros jovens guerreiros, Soluço embarca em uma jornada de autodescoberta que mudará Berk para sempre.

A grande força da nova adaptação está em seu equilíbrio emocional. Dirigido novamente por Dean DeBlois, que comandou toda a trilogia animada, o live-action acerta ao não tentar reinventar a roda. A história é praticamente a mesma, mas contada com novos recursos técnicos, o que só amplia sua carga dramática. A presença de atores reais dá outra densidade aos sentimentos, tornando a jornada de amadurecimento de Soluço ainda mais palpável. Mason Thames entrega uma atuação sensível e carismática, com uma química encantadora com Nico Parker, que traz firmeza e doçura à Astrid.
Os efeitos visuais também merecem aplausos. Banguela, mesmo gerado digitalmente, parece real em cada detalhe — dos olhos expressivos às asas poderosas. A interação entre os atores e os dragões digitais é natural, convincente e, por vezes, comovente. As cenas de voo, que já eram um espetáculo na animação, agora ganham um impacto quase físico, transportando o espectador para os céus de Berk com uma intensidade raramente vista em adaptações desse tipo.

Outro destaque é o cuidado visual com o universo viking: cenários bem construídos, figurinos autênticos e uma trilha sonora que combina temas icônicos da animação com novas composições que ampliam o tom épico da narrativa. A direção de arte brilha tanto nos momentos grandiosos quanto nos íntimos, dando à ilha de Berk uma nova textura — ao mesmo tempo mítica e crível.
Se há um ponto que pode incomodar alguns espectadores, talvez seja a previsibilidade da trama. Para os que já conhecem cada curva emocional da história, o impacto pode ser reduzido. Mas o filme sabe disso — e joga com a nostalgia, ampliando os momentos mais marcantes com delicadeza e respeito ao material original. Além disso, o elenco de apoio, formado por jovens vikings bem caracterizados, oferece alívios cômicos e bons momentos de camaradagem.

Como Treinar o Seu Dragão (2025) é mais do que uma simples releitura em live-action: é uma carta de amor à amizade, à coragem e à descoberta de si mesmo. Respeitando a obra original em todos os aspectos — do roteiro às emoções —, o filme oferece uma experiência visualmente deslumbrante e emocionalmente recompensadora, tanto para os veteranos da franquia quanto para uma nova geração que chega agora. É, sem dúvida, uma das melhores adaptações live-action dos últimos anos e um lembrete poderoso de que algumas histórias são mesmo eternas.