Com um tom vintage, ‘As Garotas’ é uma excitante versão do sangrento caso da Família Mason

João Fagundes
4 Min de Leitura

O mundo precisa mudar aos olhos de uma garota, a começar por sua vida pacata. A obra de estréia de Emma Cline tem potencial, tanto que já tem seus direitos para o cinema vendidos. Tudo por se basear num caso dos mais peculiares, a conhecida “Mason Family“, uma ceita na qual Charles Manson era seu líder e coordenou um assassinato visceral da atriz gestante Sharon Tate. A triste história ocorreu em 1969, e de tanto ouvir em sua infância, Cline trouxe muito disso em “As Garotas“, como um retrato feminino bastante excitante e com uma ideologia claramente familiar para os curiosos do sangrento caso. O lançamento tem o selo da Editora Intrínseca, que não pecou nem mesmo no acabamento (capa dura e luva) desta edição.

Em uma narrativa de primeira pessoa conhecemos Evie Boyd, mulher com uma porção de dissabores para compartilhar, e alguns que gostaria de esquecer. Em suas lembranças viajamos para o fim dos anos 60, década onde ela ingressa numa comunidade hippie que defende entre eles um ideal de liberdade e de hombridade (ideal machista típico da época), tudo graças ao líder Russell que entende seu carisma e sabe como pode ser útil em seu papel. Um dos pontos que devemos enaltecer é a descrição de cada personagem, tendo traços claros do perfil psicológico de cada um.

Por momentos da idade, a jovem Evie tem reais problemas de aceitação, o que piora com a relação cada vez mais distante da mãe e sua memória do pai. Ter 14 anos no interior da Califórnia é quase que magnético os passeios pela madrugada, a busca de pessoas iguais a você, algo típico e excitante de se colocar em jogo. Sua única amiga é Connie, mas com um breve desentendimento as duas se afastam, instigando em Evie um motivo para encontrar novas amigas, até que encontra um grupo despojado que lhe desperta um interesse.

Em um local definitivamente estranho e com cara de cilada é onde essa comunidade vive, sendo que para a jovem é completamente único. O que ela procurava é encontrado a princípio, um “ar fresco” em seus pensamentos nos fazem entender que Evie irá se adaptar. Após descobrir mais sobre como funciona esse núcleo organizado por Russell, Evie busca a aceitação por imaturidade, ainda mais quando conhece Suzanne, personagem importante para essa trama por dar mais da interação feminina. Todos nós fazemos o impossível para ter alguém com quem compartilhar tudo, todas as experiências e sentimentos, e assim o acontecimento desenrola para um ritmo violento e desmedido.

Em entrevista a autora disse considerar o caso da Mason Family “um conto de fadas sombrio”

Na falta de um livro para escolher as cegas, é uma boa oportunidade conhecer essa autora, ainda mais por essa obra. Com uma pegada vintage, vamos correr pelo Norte da Califórnia e descobrir mais do mundo com “As Garotas”. Ter um pouco de realidade com a família Mason é uma forma de nos aproximar da realidade do livro, onde tudo é permitido. Ao mesmo tempo que Emma Cline faz um retrato digno da descoberta sexual de uma jovem mulher. Estamos apaixonados por tudo, até na capa e no detalhe do coração ilustrado na testa.

Para mais detalhes do caso da família Mason, leia nossa resenha de “Mindhunter“, livro lançado em 2017 pela Editora Intrínseca.

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Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
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