Em Clube dos Suicidas, livro de Bella Prudêncio publicado pela editora Aldeia, temos Bruna, que já pensou em cometer suicídio e sofre de bulimia. Ela então conhece João, que parece ter uma nuvem de tristeza sobre sua cabeça, apesar do sorriso no rosto. Eles trocam seus números de telefone e Bruna acha que João talvez não ligue para ela. Até que ele liga e ela acaba o salvando de si mesmo.
A história tem um roteiro bem interessante com todo esse plot onde dois estranhos se unem para se ajudar, buscando incentivar um ao outro a exorcizar seus demônios. O problema é que esse roteiro interessante não vai sendo bem executado durante os capítulos. A impressão é que a autora, desde o início, sabia exatamente tudo que sua história teria e tudo que ela queria que tivesse. Aquela cena, aquela fala, aquele acontecimento, aquele novo personagem. Então juntou tudo isso que criaria uma história legal de se ler, mas não fez um bom background que fosse interessante também e que colasse isso tudo.
A amizade que nasce entre Bruna e João é forte, mas solta. É muito rápida, muito simples. Se você leva toda a sequência de acontecimentos para a realidade, é um pouco surreal. Não tem a magia da realidade, e isso é um ponto importante em uma história com um tema tão polêmico, perigoso e em evidência.
O livro é contado pela perspectiva de Bruna, e a medida que você vai lendo, percebe que ela já tem todas as respostas. Todos os diagnósticos. É como se ela já tivesse em mãos tudo para resolver seus problemas e os de João, mas ficasse parada. Porém, digo isso não naquele sentido de “a resposta estava diante dos meus olhos, eu só não percebi”, e sim no modo como o livro vai sendo narrado. Querendo ser explicativo, um guia.
É controverso, porque Bruna está tentando encontrar uma melhora para suas angústias (e agora para João), mas a medida que essas angústias são mostradas para nós, ela já tem uma explicação para todas elas, um diagnóstico dado por ela mesma e que ela ignora, mas mesmo assim continua com isso, porque quer explicar ao leitor.
A história é rápida, com pontos de impacto em cada capítulo, e não nos deixa tentar imaginar e entender o que ela está sentindo, porque logo em seguida já muda de assunto. A sensação que tive é que o livro seria bem mais bem aproveitado se fosse narrado em 3ª pessoa. Com isso, mesmo que fosse uma narrativa rápida, talvez a transmissão do sentimento ficasse mais próxima ao leitor, como acontece, por exemplo, em Dois Garotos se Beijando, de David Levithan.
Apesar de tudo isso, a história contada deve ser levada em consideração, não apenas por se tratar de um tema polêmico e em evidência, mas também por ter seus trunfos aqui e ali, além de algumas lições e questões que devem ser pensadas.