Em Chama a Bebel conhecemos a adolescente de 15 anos Bebel (Giulia Benitte), jovem cadeirante que mora com a mãe e o avô no interior, e que possui grande interesse em sustentabilidade e formas de cuidar bem do planeta. Porém, para continuar seus estudos, ela acaba precisando se mudar para uma cidade maior e passa a morar na casa de sua tia Marieta (Flávia Garrafa), onde novas adversidades passam a fazer parte de sua vida.
Com foco no público infanto-juvenil, e dirigido e escrito por Paulo Nascimento (A Oeste do Fim do Mundo, 2014), o filme tem como proposta abordar assuntos que giram em torno de temas como sustentabilidade e inclusão, os abordando de tal forma que até os adultos vão se entreter. O roteiro é direto com essa proposta e não faz rodeios, se atendo, inclusive, ao aviso que a própria Bebel dá logo no início do longa: o foco daquela história não será a vida dela como cadeirante, mas sim outros temas.
Essa escolha do filme foi interessante, mas pode vir a dividir opiniões por aí. Há momentos onde o fato dela precisar de cadeiras de rodas é abordado, mas isso acontece principalmente no começo do filme, mas isso é logo deixado de lado e o roteiro se envereda por temas relacionados à sustentabilidade, que é realmente o foco central do filme. Mas aí muitos podem se perguntar: então para que colocar uma protagonista cadeirante se esse fato não vai ser um ponto crítico no filme?
E acho que a melhor resposta seria: Bebel não é a cadeira ou sua deficiência. Ser cadeirante é um fato na vida dela e que pode causar situações e comentários maldosos a princípio, mas o que ela tem a entregar e a ensinar ao mundo é muito maior e mais importante do que isso. Em meio as coisas que acredita, as coisas que quer fazer e as situações que ela decide enfrentar de peito aberto para defender o que acredita ser o certo, o fato de que ela precisa de cadeira de rodas para se locomover se torna algo menor até mesmo para quem, no início do filme, a olhava torto e fazia bullying.
E com isso, é importante ressaltar, a força das atuações no filme, sendo a protagonista Bebel, interpretada pela constantemente incrível Giulia Benitte (Turma da Mônica: Lições, 2019) e sua tia Marieta, interpretada pela veterana Flávia Garrafa (O Candidato Honesto, 2014), os grandes destaques do longa, sejam contracenando juntas ou não. Ambas estão incríveis e te deixam com aquela vontade de assistir outros trabalhos delas.
O elenco como um todo cumpre os seus devidos papéis. Algumas atuações parecem frágeis em alguns momentos, mas por vir de atores bem jovens, isso é algo que podemos deixar passar com facilidade, até porque, mesmo em um curto espaço de tempo, grande parte dos personagens consegue se apresentar bem, mostrando em poucos minutos e curtos diálogos detalhes sobre si mesmo que nos faz entender o pouco de sua personalidade e até um pouco de suas motivações. O que, considerando o número de personagens e a intensidade com a qual o tema central do filme é entregue ao público, é um feito e tanto.
É um filme agradável e instigante de assistir, pois é educativo sem ser blasé ou extremamente didático ao ponto de se tornar chato. O tema sustentabilidade é tratado de forma séria, mas ao mesmo tempo – muito pelo imenso carisma de Giulia Benitte, precisamos admitir – têm paciência para explicar a importância do assunto para crianças e adolescentes (e adultos!) que nunca se interessaram em pensar nisso.
Outro ponto interessante é que, ao final do longa, são mostrados alguns acontecimentos reais aos quais serviram de inspiração para o filme e seu roteiro. Histórias reais essa que, possivelmente, foram pouco divulgadas, mas que agora com o filme vão ganhar o mundo.
Chama a Bebel é um filme infanto-juvenil que não subestima seu público, mas ao mesmo entende a importância de tratar assuntos importantes com o público mais jovem de forma leve e educativa, mesclando discursos um pouco mais duros com passagens mais divertidas. É um filme que deve servir de inspiração para todos e uma ótima pedida para iniciar o ano.