Envolvente e filosófico, “Caçadores em Fuga” é um típico livro de George R.R. Martin: foi escrito a seis mãos e demorou 30 anos para ficar pronto. O lançamento faz parte do selo LeYa/Omelete e é uma rápida leitura de ficção e fantasia para quem aguarda a nova temporada de Game of Thrones ou ainda “Os Ventos do Inverno”, aguardado novo livro do autor.
A narrativa acompanha a fuga de Ramón Espejo, um minerador politicamente incorreto e raivoso da colônia extraterrestre de São Paulo que acorda sem saber onde está e logo descobre-se refém de uma raça alienígena desconhecida. Para recuperar sua liberdade, Ramón é forçado a encontrar outro humano fugitivo como um cão de caça ligado ao seu sequestrador alienígena por um cordão umbilical capaz de captar todos os seus pensamentos.
Na inusitada caçada envolvendo um colono mexicano que vive em uma São Paulo muito distante da capital paulistana na Terra e o alienígena que nada sabe sobre o que é ser humano, a escolha acertada da narrativa é em desenvolver questões existenciais sobre a própria humanidade, como o porquê matamos, rimos ou cagamos. Sem muita instrução, Ramón deve explicar ao alienígena a rotina e o que é ser humano para que a caçada siga passos mais precisos.
Engana-se quem pensa que a introspecção filosófica da “Caçadores em Fuga” é sinônimo de um universo pobre. Sem o humor e com mais aventura, o livro, como “o Guia do Mochileiro das Galáxias”, expõe a humanidade a mundos e espécies com detalhes fascinantes para analisar a própria humanidade em seus piores e melhores momentos.
Se por um lado, o livro envolve na aventura da caçada criando questionamentos, a tentativa de criar um personagem mexicano e uma cidade brasileira não consegue fugir do estereótipo pelos autores americanos George R. R. Martin, Gardner Dozois e Daniel Abraham. Existe também a carência de personagens mulheres durante o livro, sendo a única representação feminina outra redução ao estereótipo de uma mulher capaz de ficar louca e fazer tudo pelo amor ao homem.
Apesar de suas poucas páginas, comparado a obras como “Game of Thrones”, “Caçadores” soube utilizar bem os 30 anos em que foi pensado. Existe nas páginas a profundidade de um universo bem pensado, com raças alienígenas, línguas e estruturas sociais que não são mastigadas narrativamente, mas ajudam a despertar o entusiasmo e interesse de quem acompanha a caçada.