Belle | A releitura crítica, linda e emocionante de um clássico

Priscila Dórea
6 Min de Leitura
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Aplaudido por 14 minutos em Cannes, Belle é uma animação japonesa-francesa que conta a história da adolescente de 17 anos Suzu, uma estudante tímida do ensino médio que vive em uma vila rural e que por anos foi apenas uma sombra de si mesma. Mas quando ela entra no mundo virtual “U”, encontra na sua persona online, Belle, uma forma de se expressar de uma forma que não fazia desde a morte trágica de sua mãe, assim como forças para mudar sua vida real e assim ajudar Ryū (a Fera), alguém que parece mais aterrorizado com a vida do que ela.

Dirigido por Mamoru Hosoda (Digimon – O Filme, A Garota Que Conquistou o Tempo, O Rapaz e o Monstro), é fácil ver em Belle algumas características marcantes dos outros longa dirigidos por ele: uma história que te pega pela inocência e que te mantém pela curiosidade, uma lentidão ocasional, uma animação extremamente linda (e que tem ficado melhor e melhor ao decorrer de sua carreira) e aquelas pequenas reviravoltas na história, que não apenas quebra as expectativas clichês, mas entrega uma história que nos faz simplesmente amar a maior parte do que aconteceu ali.

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O título e o próprio pôster principal do filme já nos entrega no que a história do longa se inspirou. A Bela e a Fera é um clássico que já teve inúmeras versões em diversos formatos, e Belle chega as telas de cinema para provar que ainda é possível fazer coisas incríveis a partir dessas tão conhecidas histórias. A releitura enche os olhos por sua beleza – na música, na animação, na arte -, mas também por usar e abusar do significado da palavra releitura: com mistério, drama, critica social e um pé na tragédia, o roteiro apenas resvala pelo romance no qual a obra clássica se mantém.

A crítica social ao mundo virtual é sutil entre os personagens, mas é escancarada e dura para quem assiste. A internet pode ser um lugar maravilhoso realizador de sonhos e absolutamente cruel em igual a medida. Pode ser um lugar de salvação e cura, mas também doentio e aterrador. O mundo virtual intitulado “U”, no qual Suzu encontra um lugar para ser seu através de seu avatar Belle, parece utópico e até seria, se pessoas comuns e suas frustrações, não estivessem por trás de todas aqueles belos e loucos avatares.

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A história também explora o quão pesada pode ser a dor do luto, assim como as duradouras consequências dele na vida das pessoas. Suzu se fechou de tal forma após a morte da mãe, que perde a coragem de fazer uma das coisas que mais amava, que era cantar. Ela se fecha em si mesma e mantém apenas a melhor amiga próxima a si, deixando de lado até mesmo o pai, que faz parte do luto que ela própria está vivendo.

Quando ela encontra Ryū dentro da “U”, ela percebe uma pessoa ferida, que por meio do ódio e da força, tenta expurgar seus terrores e medo. Aqui começamos a achar que a história vai para um lado mais clichê de um romance, mas essas expectativas pouco a pouco são frustradas. A impressão é que Suzu encontra na “Fera” um pouco de se mesma e sua própria dor, ainda que não saiba a razão por trás do sofrimento dele, ela se sente impelida a ajudar de alguma forma, realizando até mesmo um “sacrifício final” virtual, que ainda que não se equipare ao feito por sua mãe, procurar trazer essa alusão.

É uma associação sutil dentro da história, mas as produções japonesas sempre usaram essa sutileza para mostrar o quanto a essência de uma pessoa é sua fonte de força, fazendo com que, mesmo em cenas de lutas e confrontos – em tantas outras produções, mesmo de animes como Naruto e One Piece -, a força das palavras e dos sentimentos, se ditos e expressados de forma firme e correta, são tão ou mais eficazes que socos e chutes, possuindo um poder único.

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Belle é um filme bonito de ver, de ouvir e de sentir. Quebra expectativas e traz para os cinemas a riqueza do cinema japonês (e francês) em meio a tantas produções americanas e seus próprios hábitos e costumes. A produção vale cada minuto gasto com ela e, por ser lançados nos cinemas daqui, ainda se torna a possível porta de entrada de muitos que ainda não se agraciaram com as animações asiáticas.

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Jornalista e potterhead para toda eternidade, tem um amor nada secreto por mangás e picos de felicidade com livros em terceira pessoa. Além de colaboradora no Cinesia Geek, é repórter do Grupo A Tarde e coapresentadora do programa REC A Tarde.
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