Com a proximidade da maior premiação do cinema, o Oscar chegando aos poucos as produções que vêm com potencial para ela estão chegando aos cinemas nacionais. Belfast, grande vencedor no Festival de Toronto do ano passado é a grande estreia da vez.
Em seu novo trabalho o diretor Kenneth Branagh revive sua infância na sua cidade natal, a capital da Irlanda do Norte que dá nome ao longa. Através da sutileza do olhar infantil ele retrata um turbulento período histórico na sua região, Os Troubles, como ficou chamado o conflito entre partes das comunidades católica e protestante, sobre a ligação do país com a Grã-Bretanha, em um filme simples mas adorável de se assistir.
Belfast é o nome da capital da Irlanda do Norte, onde vive o pequeno Buddy (Jude Hill), no final dos anos 60. Ele é um garoto comum que passa os dias brincando, até que sua pequena comunidade é abalada pelos confrontos entre católicos e protestantes no país, que culmina em brigas, ataques e até carros explodindo na porta de sua casa. Porém, ele ainda mantém as preocupações típicas da infância (como conquistar seu pequeno crush da escola) e os sonhos inocentes da juventude, enquanto tenta entender a confusão ao seu redor.
Na vida do pequeno protagonista, existem outras figuras importantes: um deles é o Pai (Jamie Dornan), um homem amável, mas passa semanas longe de casa, num trabalho em Londres. Já a Mãe (Caitriona Balfe) é encarregada de criar os dois filhos, mas passa os dias angustiada com a falta de estabilidade de sua família. Buddy também é muito próximo dos avós (interpretados por Judi Dench e Ciarán Hinds), que lhe dão conselhos e carinho.
Diferente de suas obras tanto as grandiosas adaptações de Shakespeare ou nas recentes interpretações das aventuras de Hercule Poirot nos livros de Agatha Christie, Branagh sempre gostou de se arriscar sem ser sutil. Aqui em Belfast o diretor vai na contramão e traz seu trabalho mais intimo, onde a simplicidade e os detalhes são seus maiores triunfos. A obra em alguns momentos lembra Roma de Afonso Cuaron por retratar parte da infância do diretor e o estilo de percepção que Taika Waititi utilizou para retratar um período turbulento sobre a ótica de uma criança em Jojo Rabbit. O roteiro e a história são simples, a magia está em vivenciar o dia a dia de Buddy em meio a tudo aquilo.
O uso do cinema ajuda a abrilhantar essa magia como quando a família de Buddy vai assistir O Calhambeque Mágico, numa cena bonita onde todos ficam maravilhados com o poder da sétima arte. A cena em questão mostra uma sutileza fascinante de Branagh pela sétima arte.
É impossível falar de Belfast sem falar em Jude Hill, que faz sua estreia atuando em longas. O garoto exalta uma fofura, sabendo expressar as afirmações ingênuas do personagem, tudo de forma bem natural. Jamie Dornan, fugindo do estereotipo do Christian Grey traz aqui um personagem bem complexo, sendo ao mesmo tempo um pai simpático que brinca com os filhos e tem o respeito da vizinhança e sendo também uma pessoa meio ausente e as vezes meio irresponsável com as despesas da família. Caitriona Balfe é responsável pelas cenas mais emocionantes do longa. Uma mãe de pulso para os filhos e que apesar dos sofrimentos precisa as vezes passar a imagem de musa perfeita mesmo que nem sempre se der bem com o marido. Ainda temos os avos de Buddy vividos pela (sempre perfeita) Judi Dench e por Ciarian Handis que são o coração do filme.
Pra finalizar, em Belfast, Kenneth Branagh viaja ao seu próprio passado com filme-lembrança simples e adorável, trazendo momentos turbulentos visto pela sutileza da ótica e inocência infantil.