Batman | Robert Pattinson encarna o lado detetive do herói em filme noir intenso, brutal e impecável

Danilo de Oliveira
9 Min de Leitura
Warner Bros./Reprodução

Batman está de volta! Depois de varias encarnações no cinema, ver mais uma produção do Homem-Morcego aportar nas telonas até parece vir mais uma produção de super-herói, principalmente vindo de uma das figuras mais adaptadas da DC Comics e da cultura pop.

Só que faltaram de combinar com Matt Reeves e Robert Pattinson que felizmente mostra que dá pra inovar e fazer diferente em algo já estabelecido e com tantas versões prévias. Depois de praticamente 10 anos sem um filme solo (seu ultimo solo foi em 2012 com Cavaleiro das Trevas Ressurge, Ben Affleck não chegou a ter um somente seu) o longa que incialmente seria do Batman apresentado em Batman vs Superman de 2016, após muitas idas e vindas, Reeves assumiu e com Pattinson como seu protagonista traz aqui porque o Batman é chamado de maior detetive do mundo. Com uma trama noir que bebe de inúmeras fontes dos quadrinhos do personagem, como referencias as tramas policiais dos anos 40 e os filmes de serial killer como Zodíaco e Seven, o diretor traz umas das melhores versões do Cruzado Encapuzado em 3 horas muito bem desenvolvidas.

A aventura começa mostrando que nos dois anos em que protegeu as ruas como Batman (Robert Pattinson), provocando medo no coração dos criminosos, Bruce Wayne mergulhou nas sombras de Gotham City. Quando um assassino mira a elite de Gotham com uma série de maquinações sádicas, um rastro de pistas enigmáticas leva Batman, o Maior Detetive do Mundo, a investigar o submundo da cidade, onde encontra personagens como Selina Kyle, a Mulher-Gato (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot, conhecido como Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e Edward Nashton, também conhecido como Charada (Paul Dano). À medida que surgem evidências e as ações do criminoso apontam para uma direção mais clara, Batman precisa forjar novas relações, desmascarar o culpado e trazer justiça a Gotham City, há tanto tempo atormentada pelo abuso de poder e pela corrupção.

Warner Bros./Reprodução

Reeves ao contrario de outros diretores que passaram pelo personagem não se preocupa em inserir sua assinatura ao projeto, ao invés disso sabiamente entrega uma produção que reúne ótimos arcos do herói que potencializa a incrível historia de investigação envolvendo o Cavaleiro das Trevas. Detalhes de O Longo Dia das Bruxas, Vitoria Sombria e Batman Ego (e algumas estéticas de Cavaleiro Branco, dica falada por meu amigo Savio Roz) assim como referencias a série Arkham dos games serão pegas pelos fãs. Pra melhorar a amplitude do projeto, Reeves também referencia filmes do cinema setentista e noir, encabeçado por clássicos como Taxi Driver e Chinatown, além de Seven, Zodiaco e até um estilo a la Jogos Mortais no modus operanti do Charada com algumas vitimas.

Com isso temos quase 3 horas para se desenvolver com bastante detalhes todos os núcleos. E olha esses núcleos são de fuidez poucas vezes vista. Todo o elenco tem seu tempo de aparecer e ter seu espaço na trama. E todos eles engradecem a mitologia do protagonista que por ser um vigilante há pouco tempo ainda é um Batman imaturo, mas naõ menos humano.  A história promove embates filosóficos interessantes que aproveitam a luta do Homem-Morcego contra o crime para colocá-lo em uma análise constante. São vários os momentos em que os símbolos do herói são jogados contra ele em situações que questionam de forma respeitosa e celebram seu legado. A própria figura do Charada é o fio condutor da reconstrução da mitologia do herói nesse novo contexto, trazendo uma profundidade impressionante a obra. Reeves é pontual na ação em condução da investigação que nos deixa na ponta da cadeira durante toda duração.

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Assim como a Sin City de Frank Miller nos quadrinhos, a Gotham aqui surge encantadora e ao mesmo tempo aterrorizante, ganhando vida com uma estética suja e anacrônica. Seus prédios, becos e boates misturam uma arquitetura gótica e antiga com brilhantes telões e letreiros em neon que criam o ambiente perfeito para o desenrolar de um thriller noir.

Pattinson mostra pra que veio e por que foi a escolha certeira para a nova versão do herói. o ator vai para o outro oposto das interpretações clássicas do personagem que sempre usou a persona do Bruce Wayne de fachada e transmite toda a solidão e inadequação de alguém que abriu mão de tudo para focar única e exclusivamente em vingança. Com isso ele encontra a assinatura própria que aparece tanto nos momentos de drama, fúria descontrolada e até nos alívios cômicos causados pela falta de humor do vigilante.

Warner Bros./Reprodução

O primeiro contato visual com seu Batman é memorável. Apesar dos poucos anos na ativa, ele denota habilidade no combate (cru, fluido e bem coreografado, quase como nos jogos Batman: Arkham) e sem tempo para conversa – somente para avisar que ele é a vingança. Não é alguém que você quer cruzar e ter de lidar.

Alias como eu disse acima, todo elenco é excelente e merece elogios. Aqui cada um é a peça de um quebra-cabeças que dá as caras quando necessário. Completamente irreconhecível com o uso de próteses, o Oswald Cobblepot de Colin Farrell lembra uma versão quase que caricata de Robert De Niro como Al Capone, mas ainda está para ser o Pinguim que conhecemos; a Selina Kyle de Zoë Kravitz  tem uma história própria, com motivações simples de compreender e inquestionáveis – não há muito mistério quanto a esta Mulher-Gato. Mais do que uma “peça” para interagir com Bruce, Selina está intimamente ligada a todo o enredo e tem participação fundamental na resolução do conflito e no amadurecimento pelo qual o herói passa ao longo da história. Alias, Kravitz traz uma das melhores versões da personagem, rivalizando com a clássica Michelle Pheiffer e a recente  Anne Hathaway. O mesmo vale para o Alfred de Andy Serkis, que mostra mais seu lado militar (ele foi um agente da MI-6) e o Gordon de Wright, que age quase como uma dupla budcop de tão proximamente participa de uma investigação do Batman.

O Charada do Paul Dano traz uma brutalidade jamais vista pelo personagem, assim como uma psicopatia e trajetos que só Dano como poucos conseguem trazer de forma tão perturbadora.

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A parte técnica também merece elogios. A fotografia do Greg Fraizer é fascinante! Toda a estética de Gotham ao por do sol e a noite são de encher os olhos. O uso de luzes para pontuar as cenas de ação se encaixa e nos faz acompanhar tudo em meio a escuridão de algumas cenas. A trilha do Michael Giacchino é pulsante e reforça a imponência da presente figura do Cavaleiro das Trevas, assim como um lado trágico e perturbador ao trazer uma versão de Ave Maria. Com certeza não deve nada as clássicas trilhas de Danny Elfman e Hans Zimmer.

Pra finalizar, Batman traz Pattinson em uma estreia memorável como o Homem-Morcego em um sensacional filme noir que bebe de excelentes HQs do personagem trazendo umas das melhores versões do personagem desde Cavaleiro das Trevas.  Se no universo compartilhado as coisas parecem ser confusa na empresa, os projetos soltos parecem ser a marca da DC nos cinemas. Que continue assim! Quem ganha somos nós fãs de HQs!

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